O rocambolesco episódio da fuga (por via terrestre) do senador boliviano Roger Pinto teve como seu articulador o diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que atuava como encarregado de negócios na embaixada do país em La Paz.
Entrevistado pela Folha de S. Paulo, Saboia disse que a principal motivação para a aventura diplomática foi o "estágio perigoso de depressão" em que o senador Pinto estava, com possibilidade real de suicídio depois de 15 meses refugiado na representação brasileira na capital boliviana, período em que lhe foi negado o salvo conduto para sair do país andino, apesar do asilo político que o Brasil lhe havia concedido.
Alegando estar comovido com a situação do refugiado, acusado de vários crimes pelo governo boliviano e que estava já há 452 dias sem tomar sol, Eduardo Saboia justificou sua decisão dizendo que "fiz uma opção por um perseguido político, como a presidente Dilma fez em sua história".
Só que o imbroglio diplomático andino terminou derrubando o chanceler Antonio Patriota, que havia sido o responsável pela indicação de Saboia para o cargo que ocupava na embaixada brasileira em La Paz.
Com o Ministério das Relações Exteriores em polvorosa desde a fuga de carro do senador Pinto em trajeto de carro que levou 22 horas de La Paz a Corumbá (MS), o católico praticante Eduardo Saboia se defende dizendo que "ouviu a voz de Deus" para levar a cabo a arriscada empreitada.
Segundo alega, depois de 1.600 km de altitude, névoa, gelo e frio, sem comida suficiente, com o senador passando mal, o combustível estava no limite.
Antes do tanque zerar de vez, Saboia não teve dúvidas e apelou à reza: "peguei a Bíblia, abri nos Salmos e li. Foi o milagre da multiplicação da gasolina".
Não é difícil concluir que alguma coisa está errada quando um diplomata joga a responsabilidade em Deus para sumir com um refugiado e precisa rezar para multiplicar gasolina.
Logo, logo, vão contratar alguma sessão de descarrego para benzer os nossos valorosos diplomatas. Ou fazê-los ver repetidas sessões do filme "Thelma & Louise" para doutriná-los na triste conclusão de que fugas cinematográficas de carro costumam não terminar bem.
Algo me diz que - tão cedo - nem com reza braba o Itamaraty voltará a ser considerado um lugar sério.