sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Egito mergulha no caos

Cristãos e muçulmanos egípcios em 2011: a união não sobreviveu à lua-de-mel.

Os protestos iniciados em 25 de janeiro de 2011, contra a então ditadura de Hosni Mubarak no Egito, encheram de esperança os cristãos e muçulmanos do país, que marcharam unidos na Praça Tahrir e derrubaram o regime opressor.

A revolução egípcia de 2011 representou o apogeu da chamada "Primavera Árabe", uma onda supostamente democrática que também varreu outros países árabes como Tunísia e Líbia, sem contar aqueles que ainda estão conflagrados, como Síria, Omã, Iêmen e Bahrein.

Entretanto, as coisas não andaram nada bem para o lado do Egito.

Ainda que, em junho de 2012, eleições livres tenham escolhido Mohamed Morsi, candidato da Irmandade Muçulmana, como o novo presidente do país, a sua tentativa de "islamizar" o país não foi bem recebida pelas forças armadas locais, nem pelos aliados estrangeiros, o que resultou na sua deposição em 3 de julho de 2013.

Teria faltado tato a Morsi? Afinal, o Egito é peça chave do conturbado jogo geopolítico do Oriente Médio, onde a preservação do Estado de Israel é defendida a qualquer custo pelo seu maior patrocinador, os Estados Unidos.

Desde os acordos de paz de 1977 e 1978, o Egito foi uma espécie de Estado-tampão no mundo árabe, que garante a relativa paz de Israel, pelo menos no seu flanco Sul.

Só que essa "neutralidade" egípcia foi conseguida às custas de mão de ferro no controle político do país.

Afinal, "democracia" é um conceito que os países poderosos manipulam conforme a sua conveniência. Inúmeras vezes, ditadura no território dos outros é refresco.

Registre-se que houve amplo apoio popular à derrocada de Morsi em julho de 2013, tendo em vista a profusão de problemas sociais e econômicos que se agravaram no seu curto governo.

Ressalte-se, ainda, que a base eleitoral que garantiu a vitória da Irmandade Muçulmana - em 5 eleições seguidas - veio das áreas periféricas, rurais e distantes das metrópoles Cairo e Alexandria, onde a oposição sempre lhe foi muito forte e aguerrida.

O caldeirão de pólvora da nascente democracia egípcia demorou, pois, pouco mais de um ano para explodir.

E, lamentavelmente, parece que não falta combustível para essa autodestruição do país, que vem sobretudo do fanatismo religioso.

O representante máximo da maior denominação cristã do Egito, o recentemente eleito patriarca copta Tawadros II, também não contribuiu em nada para a pacificação do país, ao contrário de seu antecessor, Shenouda III, que apascentou seu rebanho em relativa segurança por 40 anos igualmente conturbados.

Pouco antes do golpe militar que derrubou Morsi, Tawadros II chegou a tuitar euforicamente em defesa dos protestos contra o regime democraticamente eleito, segundo noticiou à época o Vatican Insider.


Patriarca Tawadros II e Papa Francisco se encontraram em maio de 2013.

Não por acaso, portanto, o patriarca copta é citado numa lista de líderes egípcios marcados para morrer. O horror impera no país.

Infelizmente, parece que não falta gente disposta a "apagar" o incêndio egípcio com gasolina.

A invasão da mesquita El Eyman, onde seguidores da Irmandade Muçulmana se encontravam reunidos a favor de Morsi, na última quarta-feira, 14 de agosto de 2013, terminou com a morte de cerca de 600 pessoas, em estatística macabra ainda não confirmada e sujeita a atualização em curso.

Em retaliação ao massacre de membros do partido de Morsi, dezenas de igrejas cristãs foram destruídas e queimadas ontem, 15 de agosto de 2013.

A dúvida é se o ataque à mesquita pode ser considerado um "genocídio", o que - nessa semântica macabra - poderia provocar o genocídio de cristãos.

A população cristã do país, que representa 10% da população local de aproximadamente 85 milhões de pessoas, está apavorada com mais essa perseguição.

O convívio entre cristãos e muçulmanos no Egito nunca foi dos mais amistosos, com atritos frequentes aqui e ali, mas sempre houve mais tolerância e respeito do que em outros países árabes pelo importância que a igreja copta egípcia tem para a cristandade e sua importância histórica para o país.

Igreja copta de São Jorge, em Assiut, destruída.

Muitas igrejas coptas foram atacadas na última onda de violência, e, a julgar pela crescente instabilidade política do Egito, não é nada seguro professar a fé cristã por lá.

A própria ONU já denunciou a crise e apelou para o entendimento e a pacificação entre as partes com a máxima urgência possível.

A ABPNews noticia o ataque a uma igreja batista em Beni Mazar, a duas horas de carro em direção ao sul da capital egípcia, Cairo.

O pastor Mounir Sobhy Yacoub Malaty, da Primeira Igreja Batista do Cairo, pediu as orações dos irmãos de todo o mundo, e ainda indicou um vídeo do facebook para mostrar a situação em que ficou a igreja de Beni Mazar.

O portal ahramonline estimou em 38 o número de igrejas cristãs que foram vandalizadas juntamente com a batista de Beni Mazar, na sua maioria coptas, mas também ortodoxas e católicas.

Órgãos do governo e da polícia local também não escaparam à depredação.

Para piorar as coisas, a Irmandade Muçulmana marcou para hoje, 16 de agosto de 2013, um "dia de fúria" no Egito, para vingar as mortes de dois dias atrás.

As expectativas para o futuro egípcio são mais tenebrosas do que os piores cenários que alguém pode imaginar.

Um consenso nacional e internacional sobre o destino do país se faz mais que urgente.

Só nos resta clamar pelo desarmamento dos espíritos e orar pela paz no Egito, para que o país não se esfacele ainda mais.


Militantes muçulmanos em conflito com as forças de segurança em 14/08/13,
tudo o que o Egito não precisa.



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