A situação dos cristãos coptas no Egito já não era das mais tranquilas. A notícia do falecimento ontem, aos 88 anos de idade, do patriarca de Alexandria Shenouda III, o "papa" da igreja copta, lança ainda mais dúvidas sobre o futuro dos cristãos naquele país, em meio às mudanças revolucionárias que o povo egípcio tem enfrentado nos últimos tempos, com a derrubada do ditador Hosni Moubarak e o fortalecimento dos partidos islâmicos. O patriarca Shenouda III governou sua igreja por mais de 40 anos, atravessando uma fase turbulenta da história egípcia recente, e a sua habilidade política, ainda que controversa às vezes, era a garantia de um delicado equilíbrio entre a maioria muçulmana e a minoria cristã que, com a sua morte, pode vir a ruir definitivamente. Milhões de pessoas são esperadas para prestar as últimas homenagens no seu funeral, e se espera que autoridades governamentais e muçulmanas ajudem a evitar que qualquer faísca de ódio acenda o (facilmente incinerável) caldeirão da intolerância. Queira Deus que seu sucessor tenha a capacidade de não só restabelecer como aprofundar o diálogo para a convivência pacífica no Egito. O mundo agradece. Alexandria tem um valor histórico fundamental para todas as vertentes cristãs e é dever de todos fazer florescer e ver preservada a paz no Egito. A notícia é da Band:
Morre patriarca copta do Egito
Shenouda 3º deixou de receber tratamento contra uma insuficiência hepática e os tumores que tinha nos pulmões, segunda Igreja
O patriarca copta do Egito, Shenouda III, líder espiritual da maior comunidade cristã do Oriente Médio, morreu aos 88 anos, anunciaram a televisão estatal e fontes eclesiásticas este sábado.
O patriarca, nascido em agosto de 1923, teve problemas de saúde nos últimos anos e recentemente deixou de receber tratamento contra uma insuficiência hepática e os tumores que tinha nos pulmões, porque estava muito fraco, informou a Igreja copta.
"Os últimos dias foram os mais difíceis na vida do papa; era incapaz de caminhar", destacou um comunicado citado pela agência oficial MENA. Os líderes muçulmanos do país logo enviaram suas condolências.
A morte de Shenouda é "uma calamidade que entristece todo o Egito e seu nobre povo, muçulmanos e cristãos", disse o mufti do país, Ali Gomaa, em um comunicado.
O Partido da Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana, majoritário no Parlamento, enviou suas condolências aos coptas e disse que Shenouda desempenhou um papel importante no Egito.
O Vaticano se juntou "ao pesar e às orações dos cristãos" pela morte do patriarca, informou em uma declaração à imprensa, o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi.
Acrescentou que o papa Bento 16 "foi informado e se une espiritualmente às orações" para Shenouda e expressou o desejo de que o "Senhor acolha este grande pastor".
Eleito primaz da Igreja copta ortodoxa em 1971 e 117º sucessor do evangelista e fundador São Marcos, liderou com autoridade sua comunidade em meio a um progressivo crescimento dos islamitas na sociedade egípcia.
Durante 40 anos, passou do confronto a uma atitude conciliadora com o poder no Egito. Nos últimos anos teve que enfrentar, além disso, o aumento da violência contra os coptas, que se traduziu em atentados e enfrentamentos sangrentos.
Depois de sua entronização, suas relações com o falecido presidente Anuar al Sadat se deterioraram rapidamente, já que o patriarca dos coptas se opôs com firmeza à normalização das relações do Egito com Israel e os flertes do presidente com os islamitas. Essa oposição o levou a ser destituído e posto sob prisão domiciliar em 1981.
Em 1985 foi restabelecido como chefe da Igreja copta por decreto do presidente Hosni Mubarak, de quem nunca retirou seu apoio. A revolta popular do começo de 2011 o pegou desprevenido, quando muitos de seus fiéis saíram às ruas para exigir a saída de Mubarak, que finalmente renunciou dia 11 de fevereiro do ano passado depois de trinta anos no poder.
Shenouda deixa uma comunidade inquieta com o fortalecimento dos partidos islamitas, que obtiveram três quartos dos assentos do Parlamento nas últimas eleições legislativas.
Os coptas do Egito são uma minoria geralmente estimada entre 6 e 10% dos 82 milhões de egípcios. A Igreja copta fala em 10 milhões de fiéis.
A Igreja copta é uma das igrejas orientais ortodoxas que não reconhece a primazia do Papa de Roma nem a do patriarcado ortodoxo de Constantinopla. Constitui a maior comunidade cristã do Oriente Médio.
O corpo do patriarca de Alexandria, Shenouda III, é velado sentado no seu trono |