segunda-feira, 19 de março de 2012

O roto, o esfarrapado e o nu

As denúncias sobre o suposto enriquecimento ilícito de Valdemiro Santiago, veiculadas ontem pela TV Record (vídeo abaixo), são uma indecência por si só, que dispensa maiores comentários.

Revelam muito mais do que as imagens e os documentos mostram. Falam mais alto pelo que não é dito, mas se pode "ouvir" nas entrelinhas. 

Ninguém em sã consciência vai achar que - de uma hora para outra - a igreja universal, que pertence ao mesmo proprietário da TV Record, Edir Macedo, se tornou a paladina na defesa da moral e dos bons costumes dentro do cristianismo. 

O que chama a atenção é a briga de foice no escuro por duas razões básicas: poder e dinheiro

A partir do momento em que Valdemiro Santiago copiou os métodos de seu mentor Edir Macedo, e construiu um império a partir da "fé", mediante as mais baixas estratégias mercadológicas de concorrência e franquia, ele passou a ser um estorvo. 

Nessas horas em que a parte mais sensível do corpo humano é atingida, vale tudo: de dedo nos olhos a chute nas partes baixas. 

Certamente as finanças da universal sofreram um colapso com a debandada de "fiéis" que - atraídos pela própria concupiscência (Tiago 1:14) - flutuam pra lá e pra cá ao sabor das marés, o que revela um fenômeno muito mal observado no crescimento das igrejas evangélicas no Brasil: o crescimento vegetativo. 

Muito se fala sobre o número de pessoas que entram numa igreja, mas o silêncio é total quanto àqueles que saem (e maior ainda quanto às razões para sua partida). 

Isto sem contar, obviamente, naqueles que trocam seis por meia dúzia. Abrir uma igreja evangélica virou um grande negócio no Brasil, e isso para vergonha de TODOS aqueles que - um dia - professaram o nome "evangélico" com humildade, gozo e um sentido de missão e serviço a Deus e aos outros seres humanos. 

Este sentimento foi tão vilipendiado que hoje o nome "evangélico" é entendido pela população como alguém que "se serve" dos outros para comprar suas fazendas e redes de TV. 

Por isso mesmo, o discurso político-ideológico veio a reboque. 

Já que a hipocrisia não chega a tanto para blasfemar diuturnamente do bom nome de Jesus Cristo, é preciso criar uma linguagem ideológica que justifique os conchavos políticos, que "blindam" os "apóstolos" e "bispos" de investigações sérias na base do "toma lá - dá cá" dos líderes "franciscanos" de Brasília. 

Afinal, "é dando que se recebe". Um escândalo total, uma vergonha inominável, e ainda tem gente que encara esses sujeitos como "evangélicos", ainda que seja só por conveniência na hora de defender os seus conceitos e preconceitos ideológicos. 

O comportamento de manada serve para um ecumenismo de ocasião na hora de se defender contra os "outros", ainda que não se saiba exatamente quem são esses "outros",  mas na hora de defender o evangelho puro e simples contra os lobos e predadores vorazes por dinheiro, a imensa maioria se cala. 

Não há ecumenismo que resista ao gramado mais verde do pasto vizinho, ainda mais quando esse tapete verde é artificialmente forrado de cédulas de dinheiro. 

Mal sabem eles que, na sua ânsia por poder e riqueza, um dia ouvirão do Mestre: "porquanto dizes: rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Apocalipse 3:17).




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