sábado, 3 de março de 2012

D. Pedro Casaldáliga será tema de seriado na TV espanhola

Ao contrário de muitos bispos e pastores evangélicos que querem distância dos pobres, gostam de mansões suntuosas, ostentação de riquezas como sinal de prosperidade e favor divino, e do apego ao poder político e às benesses daí advindas, o bispo católico emérito de São Félix do Araguaia (MT), D. Pedro Casaldáliga, que acaba de completar 84 anos de idade, preferiu morar em casa de chão batido, a exemplo da maioria dos fiéis da sua diocese, tornando-se um gritante contraste dentro da própria Igreja Católica e o esplendor de suas catedrais e palácios episcopais, há que se dizer também. A ala conservadora de Roma deve odiá-lo igualmente. O prelado catalão de nascimento - mas brasileiro na alma - não teve medo de enfrentar a ditadura militar tupiniquim, ao contrário de muitos bispos e pastores de todas as matizes, que estão sempre chamando o monstro de volta. Deve ser por isso, também, que a grande rede de televisão que apoiou a ditadura nunca pensou em retratá-lo num seriado de TV, o que vai ser feito agora por uma empreitada conjunta das TVs España e Catalunya, além da TV Brasil. Nada menos global, não é mesmo? Afinal, o que dá ibope é estupro ao vivo em reality show, e não um bispo católico que, em 1976, ao defender duas mulheres que estavam sendo torturadas (ameaçadas com um caititu selvagem que poderia despedaçá-las) no povoado de Ribeirão Cascalheira(MT), juntamente com o padre João Bosco Penido Burnier, este último foi morto com um tiro na nuca, mas a providência divina poupou D. Casaldáliga até hoje, talvez para mostrar o seu exemplo a uma igreja que se diz cristã mas vive empapuçada pelo deus "poder" e se rende às delícias do deus "dinheiro" (além do deus "sexo", né, mas isso é outra história que fica pior na Globo mesmo...). A notícia vem do IHU:

Pedro Casaldáliga. A vida do bispo dos pobres na televisão

O bispo emérito de São Félix do Araguaia (Brasil), bispo dos pobres e dos sem-terras, Pedro Casaldáliga, terá sua série de televisão. Trata-se de “Descalzo sobre la tierra roja” (Descalço sobre a terra vermelha, em catalão), baseado no romance homônimo do jornalista Francesc Escribano, que começará a gravação na primavera e será transmitida na TVE e TV3.

A reportagem é de Jésus Bastante e está publicada no sítio Religión Digital, 29-02-2012. A tradução é do Cepat.

O papel do missionário catalão será interpretado por Eduard Fernández, que visitou ao prelado na Amazônia, há alguns meses, para conhecê-lo pessoalmente. A série será co-produzida pela TVC, TVE, Minoria Absoluta, Raiz Produções Cinematográficas e TV Brasil.

Em 16 de fevereiro passado, Pedro Casaldáliga completou 84 anos. Nascido em 1928, foi ordenado sacerdote em 31de maio de 1952, unindo-se aos claretianos. Em junho de 1968, mudou-se como missionário para o estado do Mato Grosso, no Brasil. Em 23 de outubro de 1971 foi ordenado bispo de São Félix do Araguaia.

A diocese era uma das mais extensas do país, ocupando uma área de aproximadamente 150.000 Km2, habitada em sua maior parte por indígenas e terratenentes assim como o regime militar existente no Brasil naquele momento. João Bosco, seu vigário, foi assassinado por matadores que o confundiram com o próprio Casaldáliga (1977). Nesses momentos, recebeu total apoio do Vaticano, especialmente do papa Paulo VI, mas nem sempre seria assim.

Mesmo que jamais tenha regressado para a Espanha, sempre se mostrando resistente a viajar por medo de não poder entrar novamente no Brasil, em 1985 realizou uma polêmica visita a Nicarágua. Casaldáliga foi até esse país para apresentar sua solidariedade aos religiosos nicaraguenses. Em 1988 viajou até o Vaticano e foi recebido em audiência pelo Papa. A visita não foi plenamente satisfatória e, alguns meses mais tarde, recebeu uma séria advertência da Santa Sé que criticou seu apoio à causa sandinista e à teologia da libertação.

Ao completar os 75 anos, Casaldáliga lembrou-se do Vaticano que – como todos os bispos ao chegar a essa idade – tinha que apresentar sua renúncia. O religioso decidiu permanecer na diocese que dirigiu durante mais de 35 anos, reinvidicando a participação da comunidade na eleição de seu sucessor, embora a Santa Sé lhe tenha recomendado deixar o país. Há algum tempo enfermo de Parkinson, Pedro Casaldáliga não quis abandonar a luta pela defesa dos direitos dos menos favorecidos.



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