É o que diz matéria publicada no UOL:
Ter hábitos de idoso aos 20 anos nem sempre é problema, dizem terapeutas
Rosana Faria de Freitas
Se você não é assim, provavelmente conhece alguém que apresenta tal característica: simplesmente parece desajustado com sua época. Gostos, hábitos, atitudes e valores estão mais próximos dos de seus pais e avós do que de seus pares e amigos.
"Várias podem ser as explicações para isso e cada caso precisa ser compreendido individualmente", considera Joana Singer, mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Dentre os fatores que contribuem para isso, Singer, que também é sócio-diretora do Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento, cita a relação com pessoas mais velhas. É possível, por exemplo, que o indivíduo tenha aprendido, desde muito cedo, a se entreter com familiares de idade avançada. Tal fato é comum em unidades com poucas crianças, nas quais se aprende que o entretenimento é viabilizado pela presença de adultos e por tudo que eles trazem – seus costumes, seus gostos musicais, suas atividades favoritas.
Papéis trocados
"Há exemplos nos quais as posições se apresentam invertidas: pais que parecem mais jovens que seus filhos. Nesta situação, talvez os pais tenham se constituído como um modelo fraco e, em alguns casos, negativo. Em uma tentativa de ser muito diferente de seus genitores, esses jovens procuram agir da forma como eles gostariam que seus pais se comportassem", analisa a psicóloga.
Há que se considerar, também, que muitas pessoas que parecem idosas têm dificuldades em relação a habilidades sociais importantes. "Comportamentos relacionados à 'vida em turma' e à paquera podem ser muito pesarosos. E, aí, a apropriação de gostos e hábitos dos mais velhos se apresenta como uma forma de escapar do enfrentamento de situações que lhes parecem desconfortáveis", diz Joana Singer.
Ela lembra, ainda, de outra situação: indivíduos que foram obrigados a amadurecer cedo pela necessidade de trabalhar precocemente, ou pela perda de um ou dos dois pais. "Muitos se afastarão de quem tem idade próxima porque se sentem distantes, fora do contexto, não se divertem da mesma forma, por exemplo. Aí, é provável que procurem a companhia de quem tem mais experiência e bagagem. Claro que alguns podem, apesar das grandes responsabilidades, cultivar e preservar gostos juvenis, mas não será regra geral."
Questão de amadurecimento
O termo jovem idoso também vem sendo usado para classificar indivíduos que amadurecem muito depressa, salienta a psicóloga clínica e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, especialista em neuropsicologia. "São pessoas que buscam uma vida mais tranquila, sem a agitação comum aos mais novos. Preferem um bom livro ou filme ao invés da balada, pensam mais no futuro com planejamentos detalhados."
Independentemente das razões e da forma como o indivíduo lida com isso, é importante que cada etapa da vida – infância, adolescência, juventude, maturidade – seja vivida. Mesmo nos dias de hoje, em que tais fases estão menos marcadas.
"A infância parece mais curta do que no passado, a adolescência estendida. De qualquer forma, cada ciclo ensina algo: há o momento de se desenvolver a criatividade de forma muito intensa (infância), o de experimentar a individualidade (adolescência), o de prosperar e construir projetos (vida adulta) e o de lidar com perdas frequentes e com a preocupação de deixar um legado (velhice). Vivenciar tudo isso é extrair de cada época uma trajetória única", destaca Joana Singer.
Tudo é relativo
Apesar de tais considerações, as duas terapeutas defendem que não necessariamente um jovem idoso esteja perdendo algo. Isso porque, muitas vezes, o que o motiva a agir como alguém mais velho não tem nada a ver com problemas como insegurança, baixa autoestima e autoconfiança, melancolia.
"Há pessoas que se adaptam a um estilo de vida diferente e, dessa forma, encontram sua turma. Não podem ser considerados deslocados. Eles ganham com a maturidade profissional precoce, o que envolverá outras conquistas. Claro que não terão a chance de aprender a conviver com aqueles que envelhecerão com ele, os que têm a sua idade. Mas é uma questão de opção", diz Singer.
Priscila Gasparini Fernandes concorda. "Se não há dificuldades sérias por trás do comportamento, não dá para falar em perdas, mas em escolhas e jeito de ser. Trata-se de uma característica de personalidade de alguém que se estruturou daquela maneira, porque para ele é benéfico assim. No futuro, colherá os frutos do que semeou nas fases anteriores da sua vida."