Quanto maior a posição que uma pessoa vai assumindo perante qualquer organização ou sociedade, maior deve ser o seu cuidado com as palavras, exatamente pela exposição pública a que será - inevitavelmente - submetida.
O cardeal chileno Jorge Medina, por exemplo, é hoje prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina do Vaticano, e coube a ele dizer o famoso "Habemus papam!" na sacada da Basílica de São Pedro quando da eleição de Bento XVI em 2005, mas parece que não zela muito pela generosidade e piedade no seu discurso.
Esta semana o cardeal chileno disse - numa entrevista à revista Caras do Chile - que os homossexuais são como "uma criança que nasce sem um braço" ("un niño que nace sin un brazo") e que precisam de ajuda. Acrescentou, ainda, que "é uma desgraça e temos que ajudar a essa criança para que a sua limitação não a impeça de levar uma vida a mais comum possível".
A infeliz comparação entre homossexualidade e deficiência física foi cometida num momento em que o Chile ainda está em estado de choque pela barbárie cometida por quatro jovens neonazistas contra Daniel Zamudio, um homossexual de 24 anos de idade, que passou 6 horas sendo torturado pelo grupo no Parque San Borja, no centro de Santiago, com socos, chutes e pedradas, terminando com parte de uma orelha decepada, queimaduras de pontas de cigarro e cortes de caco de vidro que desenharam duas suásticas no seu corpo, uma no abdômen e outra maior nas costas.
A infeliz comparação entre homossexualidade e deficiência física foi cometida num momento em que o Chile ainda está em estado de choque pela barbárie cometida por quatro jovens neonazistas contra Daniel Zamudio, um homossexual de 24 anos de idade, que passou 6 horas sendo torturado pelo grupo no Parque San Borja, no centro de Santiago, com socos, chutes e pedradas, terminando com parte de uma orelha decepada, queimaduras de pontas de cigarro e cortes de caco de vidro que desenharam duas suásticas no seu corpo, uma no abdômen e outra maior nas costas.
O brutal ataque se deu na madrugada do último dia 3 de março, tendo como única "justificativa" o fato de Zamudio ser homossexual, e o seu corpo foi encontrado na manhã seguinte, tendo sido ainda hospitalizado até que veio a falecer em decorrência dos graves ferimentos no dia 27 seguinte.
Os 24 dias de agonia de Daniel serviram para que a sociedade chilena se levantasse e exigisse que fatos como esse não mais se repetissem, o que levou o Congresso local a aprovar a toque de caixa (no dia 4 de abril) uma lei anti-homofobia que dormia nas gavetas parlamentares havia já sete anos.
A Igreja Católica chilena foi muito criticada por sua reação tímida à barbárie e por se opor à aprovação da lei, que terminou passando no Legislativo por pequena margem de votos.
O cardeal Medina já está afastado de suas funções eclesiásticas por ter hoje 85 anos de idade, o que lhe dá um certo "desconto" na hora de avaliar suas opiniões, mas não deixa de ser estranho o seu silêncio e a ausência de metáforas comparativas, ainda que carregadas de crueldade, quando se trata dos casos de pedofilia dentro do seu clero.