“Talvez haja mais compreensão e beleza na vida quando os raios ofuscantes do sol foram suavizados pelos contornos da sombra." (Virginia M. Axline)

sábado, 28 de abril de 2012

Cardeal chileno diz que gays são como "uma criança sem braço"

Quanto maior a posição que uma pessoa vai assumindo perante qualquer organização ou sociedade, maior deve ser o seu cuidado com as palavras, exatamente pela exposição pública a que será - inevitavelmente - submetida.

O cardeal chileno Jorge Medina, por exemplo, é hoje prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina do Vaticano, e coube a ele dizer o famoso "Habemus papam!" na sacada da Basílica de São Pedro quando da eleição de Bento XVI em 2005, mas parece que não zela muito pela generosidade e piedade no seu discurso.

Esta semana o cardeal chileno disse - numa entrevista à revista Caras do Chile - que os homossexuais são como "uma criança que nasce sem um braço" ("un niño que nace sin un brazo") e que precisam de ajuda. Acrescentou, ainda, que "é uma desgraça e temos que ajudar a essa criança para que a sua limitação não a impeça de levar uma vida a mais comum possível".

A infeliz comparação entre homossexualidade e deficiência física foi cometida num momento em que o Chile ainda está em estado de choque pela barbárie cometida por quatro jovens neonazistas contra Daniel Zamudio, um homossexual de 24 anos de idade, que passou 6 horas sendo torturado pelo grupo no Parque San Borja, no centro de Santiago, com socos, chutes e pedradas, terminando com parte de uma orelha decepada, queimaduras de pontas de cigarro e cortes de caco de vidro que desenharam duas suásticas no seu corpo, uma no abdômen e outra maior nas costas.

O brutal ataque se deu na madrugada do último dia 3 de março, tendo como única "justificativa" o fato de Zamudio ser homossexual, e o seu corpo foi encontrado na manhã seguinte, tendo sido ainda hospitalizado até que veio a falecer em decorrência dos graves ferimentos no dia 27 seguinte.

Os 24 dias de agonia de Daniel serviram para que a sociedade chilena se levantasse e exigisse que fatos como esse não mais se repetissem, o que levou o Congresso local a aprovar a toque de caixa (no dia 4 de abril) uma lei anti-homofobia que dormia nas gavetas parlamentares havia já sete anos.

A Igreja Católica chilena foi muito criticada por sua reação tímida à barbárie e por se opor à aprovação da lei, que terminou passando no Legislativo por pequena margem de votos.

O cardeal Medina já está afastado de suas funções eclesiásticas por ter hoje 85 anos de idade, o que lhe dá um certo "desconto" na hora de avaliar suas opiniões, mas não deixa de ser estranho o seu silêncio e a ausência de metáforas comparativas, ainda que carregadas de crueldade, quando se trata dos casos de pedofilia dentro do seu clero.



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