O Eurovision é o tradicional festival de música popular que anualmente faz a breguice europeia efervescer. Na edição 2014, encerrada na noite do último sábado, 10/05/14, a surpresa veio com o anúncio do(a) vencedor(a): uma drag queen barbada.
"Conchita Wurst" é o curioso nome artístico do cantor austríaco Tom Neuwirth que não só descobriu um novo filão como expôs a, digamos, "esquisitice" que o mundo atual está vivendo. Afinal, cem anos atrás mulher barbada era só uma (mórbida) atração de circo.
Talvez seja a falta de referências, talvez seja o gosto passageiro pelo exótico, mas é inegável que algo estranho anda acontecendo neste lindo planeta azul.
Breguices à parte, apesar do nome que lembra um submarino russo-alemão varado na Espanha, pelo menos Conchita Wurst canta bem a canção que parece mais com um tema de filme de 007 interpretado por Jessica Rabbit (o quadrinho-musa do filme "Uma Cilada para Roger Rabbit"). A matéria é do F5:
Campeã do Eurovision, drag queen barbada diz que seu objetivo é ganhar um Grammy
ANTONIO SÁNCHEZ SOLÍS
JORDI KUHS
Conchita Wurst, a cantora austríaca que venceu na noite de sábado o Festival Eurovision, dedicou hoje a vitória aos que acreditam "em um futuro sem discriminação" e disse que também é uma mensagem para alguns políticos, como o presidente russo Vladimir Putin.
"Não foi uma vitória apenas para mim, mas para quem acredita em um futuro que funciona sem discriminação e baseado na tolerância e no respeito", respondeu Wurst a perguntas da Efe em uma movimentada entrevista coletiva após seu retorno a Viena.
Wurst conquistou o júri do Eurovision com uma bela voz, uma música-chiclete e uma estética provocadora: uma chamativa barba que contrasta com sua maquiagem e seus vestidos justos de noite.
A artista, "alter ego" do cantor Tom Neuwirth, foi recebida no aeroporto de Viena por milhares de fãs que não paravam de cantar "Rise Like a Phoenix", canção com que conquistou ontem o segundo triunfo da Áustria em Eurovision —o primeiro foi em 1966.
Com o troféu nas mãos e distribuindo sorrisos e acenos, Wurst foi cercada por uma multidão de jornalistas que queriam registrar seu retorno triunfal à Áustria.
Conchita disse à imprensa que sua vitória é uma mensagem a "alguns políticos", entre os quais citou Putin, mas insistiu que não se trata de abrir um debate de direitos humanos entre Europa e Rússia.
"A tolerância não tem fronteiras. Na Rússia também há lugares onde sou muito bem-vinda", disse Wurst, que lembrou que sua atuação recebeu cinco pontos do país, o que mostra que "nem todo o mundo lá tem as mesmas opiniões" sobre gêneros.
Por isso, a artista deixou claro que sua mensagem vai além das fronteiras e se dirige a "políticos que conhecemos".
"Só quero dizer que, no final, o bem sempre vence e que somos imparáveis", declarou sobre os que, como ela, acreditam na tolerância.
Apesar da bandeira antipreconceito, Conchita Wurst disse que não pretende ser uma embaixadora da tolerância, mas dar sua pequena contribuição a uma missão em que, disse, felizmente não está sozinha.
"Há pessoas mais poderosas que eu que poderiam fazer mais, mas me deram esse dom. Para mim é importante, e minha obrigação como artista é trabalhar nesse sentido", declarou.
Wurst também se referiu às críticas que recebeu em seu próprio país quando foi escolhida para concorrer ao Eurovision. Uma pesquisa de um jornal sensacionalista de grande circulação concluiu que 79% dos austríacos não estavam orgulhosos de sua candidata.
"Os comentários contra mim não me interessam. Não me interessaram antes nem me interessam agora", sentenciou.
Quanto aos planos para o futuro, a cantora reconheceu ser ambiciosa. "Quero o mundo inteiro", confessou.
"Meu grande objetivo é um Grammy. E no caminho pegarei tudo que puder", avisou Wurst, que já recebeu ofertas de produtores de Los Angeles e de vários eventos de celebração do orgulho gay.
Conchita Wurst é um personagem criado por Tom Neuwirth, um estilista de moda e cantor homossexual de 26 anos.
Após ficar em segundo lugar em "Starmania", um programa caça-talentos da TV pública austríaca em 2006, Tom participou brevemente de um grupo musical.
Em 2011, o artista se reinventou e apareceu em um novo concurso já como Conchita Wurst.
Neuwirth explica que Conchita surgiu como uma resposta à intolerância que sofreu na adolescência por ser homossexual.