domingo, 21 de setembro de 2014

De Stonehenge à pré-história de Israel


Duas notícias recentes que deixaram o mundo arqueológico de boca aberta, ambas publicadas na versão brasileira do El País (link para a primeira matéria aqui, e para a segunda aqui):

Novos monumentos de Stonehenge são revelados com sondagens avançadas

Estruturas de rituais desconhecidas até agora emergem ao se realizar um mapa digital detalhado do famoso sítio arqueológico pré-histórico no Reino Unido

ALICIA RIVERA

O mítico conjunto monumental de Stonehenge, na Inglaterra, é muito mais do que se conhece, do que se vê. Uma equipe científica realizou, com técnicas avançadas de prospecção não invasivas, um mapa detalhado da área e descobriu numerosas novas estruturas, abrindo o caminho para descobrir mais sobre o lugar e sua evolução de mais de 11.000 anos. Emergiram 17 monumentos rituais até agora desconhecidos do período em que o famoso conjunto de blocos de pedra adquiriu sua forma; dezenas de sepultamentos foram cartografados com detalhe, incluindo um grande túmulo com uma estrutura de madeira que era provavelmente utilizada para sepultamentos rituais dos mortos após um complicado processamento dos cadáveres, expondo-os e descarnando-os antes de serem cobertos formando um monte funerário, explicam os pesquisadores da Universidade de Birmingham, que lideram o projeto Entornos Ocultos de Stonehenge, junto com especialistas do Instituto Ludwig Boltzmann de Prospecção Arqueológica e Arqueologia Virtual (Alemanha).

O projeto, dizem os cientistas, "transformará nosso conhecimento deste entorno icônico". Além das estruturas até agora desconhecidas, o mapa digital revelou informação inesperada sobre os monumentos já conhecidos. O círculo Durrington, a pouca distância de Stonehenge, é um imenso monumento ritual, "provavelmente o maior deste tipo no mundo", enfatizam os especialistas de Birmingham, tem uma circunferência de mais de um quilômetro e meio. E as novas sondagens revelaram uma fase primitiva na qual estava ladeado por uma fileira de até 60 enormes postes ou pedras, talvez de até três metros de altura. E alguns podem ainda está lá, sugerem os arqueólogos.

Situado a 15 quilômetros ao norte de Salisbury (Inglaterra), a parte mais famosa do complexo de Stonehenge é formada por circunferências concêntricas de grandes blocos de pedra, de aproximadamente 4.500 anos, do final do neolítico, explica o English Heritage. O eixo principal está alinhado com o eixo solsticial, de maneira que o Sol sai e se põe em pontos concretos do monumento no solstício de verão e no de inverno. "No ciclo das estações, esses dias do ano eram obviamente importantes para o povo pré-histórico que construiu e utilizou Stonehenge", acrescenta o English Heritage.

No mapa digital aparecem novos tipos de monumentos como enormes fossos pré-históricos, alguns dos quais parecem ter alinhamento astronômico. Também foram recolhidos com grande detalhe dados de centenas de sepultamentos da idade do Bronze, a idade do Ferro, e de assentamentos romanos. "Ainda que Stonehenge seja o monumento pré-histórico mais icônico e ocupe um dos sítios arqueológicos mais ricos do mundo, grande parte de seu entorno segue sendo terra desconhecida" comenta o líder britânico do projeto, Vincent Gaffney. "Este projeto revelou que a área que rodeia Stonehenge está cheia de sítios arqueológicos até hoje desconhecidos", acrescenta. O trabalho realizado até agora será apresentado em uma grande série de documentos da BBC Two intitulada Operação Stonehenge.

"O desenvolvimento de métodos não evasivos para documentar nossa herança cultural é um dos grandes desafios de nosso tempo e só pode ser feito adaptando a tecnologia de ponta como georadares e magnetômetros de alta resolução", acrescenta Wolfgang Neubauer, diretor do instituto alemão.





Descoberto em Israel um monumento de pedra mais antigo que o Stonehenge

A pesquisa de um estudante de doutorado revela uma estrutura com 5.000 anos

CARMEN RENGEL

Rujum En Nabi Shuaayb era até agora um promontório de pedras perto do Mar da Galileia, em Israel, que muitos acreditavam ser remanescente de uma muralha centenária. Agora, graças à pesquisa do estudante de doutorado Ido Wachtel, da Universidade Hebraica de Jerusalém (HUJI), foi descoberto que essa enorme estrutura em forma de meia-lua é na realidade um monumento completo, com 5.000 anos. É possível que seja mais antigo que o complexo megalítico de Stonehenge, no Reino Unido, e que as pirâmides do Egito, que datam do ano 2.600 antes de Cristo, aproximadamente.

Conforme Wachtel expôs no Congresso Internacional de Arqueologia no Antigo Oriente Médio, neste verão, e revela na revista Live Science, a estrutura fica a 13 quilômetros do lago Tiberíades, perto da fronteira entre Israel e o território palestino da Cisjordânia. Tem 14.000 metros cúbicos de volume, com uma base de 150 metros de cumprimento por 20 metros de largura e uma altura de até sete metros. “Maior que um campo de futebol americano”, explica a revista. Nas proximidades, foram encontrados restos de cerâmica elaborada entre 3050 e 2650 a. C., que ajudaram a datar a descoberta.

O doutorando explicou em sua palestra que pode se tratar de “um marco destacado na paisagem natural, que serve para sinalizar a posse da terra” ou para “fazer valer a autoridade e os direitos sobre os recursos naturais” por parte de um determinado povo. Mas também pode ser um monumento religioso, erguido em homenagem ao deus Sin da antiga Mesopotâmia, cujo símbolo era uma meia-lua como a que essas pedras formam.

A 29 quilômetros do local da construção também foi encontrado, na era contemporânea, o povoado de Bet Yerah, literalmente “a casa do Deus da Lua”, conhecido pelo culto a essa divindade oriental, já bastante documentada. O pesquisador acredita que o imenso muro tenha também “ajudado” a marcar as fronteiras daquele vilarejo e seus domínios, já que a meia-lua se destaca claramente na paisagem. Mas ele descarta que se trate de uma fortificação comum, por causa de sua distância em relação ao núcleo urbano, habitado.

Os cálculos do especialista indicam que foram necessários entre 5.000 e 35.000 dias de trabalho para levantar a estrutura, com cerca de 200 operários em dedicação exclusiva durante cinco meses, um prazo que, segundo ele, deve ter se prorrogado por muito tempo, já que os construtores deviam ser os próprios agricultores da região, que não podiam tirar as mãos por muito tempo da terra que provia seu sustento.

O Departamento de Antiguidades do Governo de Israel lembra que a área onde está o Rujum En Nabi Shuaayb – também conhecida como Túmulo de Jetro, em homenagem a um antigo líder druso da região – é praticamente um corredor de restos megalíticos até as Colinas de Golã, onde foram encontrados conjuntos de pilastras e círculos possivelmente ainda mais antigos.



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