sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O misticismo pobretão de Eike Batista


Toda vez em que a palavra "misticismo" aparece, é inevitável recordar o poema abaixo, de Fernando Pessoa no seu heterônimo Alberto Caeiro:

Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo.
A minha alma é simples e não pensa.
O meu misticismo é não querer saber.
É viver e não pensar nisso.
Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição.

("O Guardador de Rebanhos - Poema XXX")

O misticismo da riqueza poética de Fernando Pessoa é particular, inofensivo, exclusivo, e não tem potencial para prejudicar ninguém.

O problema surge quando um líder místico influencia as vidas de milhares (talvez milhões) de outras pessoas.

Toda pessoa que tem contato com o processo decisório das grandes empresas, sempre se depara com situações pra lá de esquisitas que não justificam o aparente sucesso deste ou daquele executivo.

É de estarrecer quando se descobre que tipo de "consultores", pessoas e superstições são seguidas por megaempresários e CEO's de "sucesso" incensados pelas publicações especializadas.

Isto fica bem claro na análise que o Diário do Centro do Mundo fez da entrevista de Eike Batista à Folha de S. Paulo.

Confira:

Será que Deus vai ajudar Eike?

Depois de um ano sem dar entrevistas, Eike resolveu falar.

Na entrevista à Folha, o ex-bilionário revela que hoje seu patrimônio é negativo. Deve 1 bilhão de reais.

O que não significa que sua família esteja na miséria.

Ao ver que o barco afundava, Eike rapidamente transferiu parte de seu patrimônio para os filhos.

O caçula é um bebê, e os dois primeiros, jovens que se orgulham de nunca ter lido um livro na vida.

Numa moldura clara e simples, a família Batista é aquilo que se vê.

Exposta em diagnóstico, revela os absurdos pornográficos de um capitalismo sem limites, a formar idiotas bilionários.

“Reis do camarote” à procura de Panicats, músculos e áreas VIPs.

Eike se tornou ídolo de muita gente, que via nele um espelho. Os mesmos fãs que hoje satirizam a sua queda espetacular.

É nas dificuldades que descobrimos os amigos verdadeiros e Eike tinha bem poucos.

A inflação do ego produz um campo magnético muito poderoso a afastar qualquer relação verdadeira.

Mas com dinheiro você ao menos casa com a capa da Playboy e cria dois filhos na ignorância.

O sonho egoísta de Eike era ser o homem mais rico do mundo, e não que esse mundo fosse um lugar melhor.

Hoje torce – ou como diz na entrevista, espera que Deus o ajude – para que suba o preço dos minérios e ele volte a enriquecer.

“Nasci como um jovem de classe média e você voltar para isso é um negócio para mim, sabe, é óbvio que é um baque gigantesco na família”, disse à Folha.

É bastante religioso, supersticioso ou esotérico.

Exige que seus contratos contenham o número 63, não toma decisões antes de consultar seu mapa astral e reza para que Deus aumente o preço dos minérios.

Uma visão estratégica que fez dele expoente da elite dos camarotes. Que o levou ao fundo do poço sem petróleo.

Perto da iniciativa privada de Eike, as estatais parecem muito melhores do que alguns gostariam.

Mas Eike já é um espelho quebrado e falido.

É seu “azar” que agora serve de exemplo.



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