sábado, 31 de outubro de 2015

Austrália e Nova Zelândia decidem hoje a Copa do Mundo de Rugby 2015


Termina hoje na Inglaterra a Copa do Mundo de Rugby edição 2015, com o clássico entre Austrália (os "wallabies") e Nova Zelândia (os "All Blacks").

Uma final dos sonhos, portanto. Os dois países detêm dois títulos mundiais cada um, a Austrália em 1991 e 1999 e a Nova Zelândia em 1987 e 2011.

A outra bicampeã mundial, a África do Sul (1995 e 2007), venceu ontem a Argentina por 24 a 13, e garantiu o terceiro lugar.

Além das três ex-colônias britânicas, o outro país que já ganhou um título da Copa do Mundo de Rugby é a Inglaterra, vencedora em 2003.

A exemplo do que aconteceu com a Copa Jules Rimet, que ficou na posse definitiva do país que primeiro venceu 3 Copas do Mundo de futebol, no caso o Brasil em 1970, a sua correspondente no rugby, a Copa Webb Ellis, será hoje levada para casa para sempre por quem vencer a final.

Os fãs do rugby estão em festa porque as duas seleções da Oceania representam o melhor que o esporte pode oferecer.

A partida começa pontualmente às 14 h deste sábado no mítico estádio de Twickenham em Londres, e será exibida no Brasil pelo canal a cabo (ou satélite) ESPN.

Não se esqueça, entretanto, de ligar a TV ali pelas 13 h para ver a cerimônia de encerramento da Copa e o cerimonial que antecede o jogo, em especial o momento em que os jogadores neozelandeses fazem seu tradicional ritual maori, o haka.

Não perca! Oportunidade de ouro para começar a entender o que é este esporte ainda pouco praticado no Brasil, além de diversão e emoção garantidas neste sábado chuvoso em boa parte do país.

Como aperitivo, veja abaixo o vídeo do haka que os All Blacks fizeram antes da partida contra a África do Sul pela semifinal da Copa do Mundo de Rugby 2015, vencida pelos neozelandeses pelo apertado placar de 20 x 18:





sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Malafaia critica manifesto evangélico contra Eduardo Cunha

A informação é d'O Globo:

Para Malafaia, manifesto contra Cunha é de ‘esquerdopatas’

Pastor diz que texto de evangélicos deveria pedir também a saída de Dilma e de Renan

JULIANA CASTRO

RIO — O manifesto evangélico que pede na internet a saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara foi alvo de críticas do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Malafaia desdenhou da iniciativa e disse que ela partiu de igrejas que têm afinidade com o PT e não representam 1% do pensamento evangélico. Referiu-se aos que assinaram o pedido como “esquerdopatas gospel”.

— Se ele (Cunha) está devendo, ele que pague. Agora, vou assinar manifesto porque meia dúzia de esquerdopatas gospel quer fazer graça? Eu não — polemizou Malafaia, que apoiou Cunha na eleição para a presidência da Câmara.

Cunha era da Sara Nossa Terra, mas mudou para uma igreja que tem mais fiéis: a Assembleia de Deus de Madureira, um segmento diferente da comunidade de Malafaia. O pastor disse que assinaria um manifesto que pedisse a saída do presidente da Câmara, da presidente Dilma Rousseff e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

— Se aqueles, em nome do evangelho, querem a Justiça, por que não incluem Dilma e Renan que também foram citados na Lava-Jato? — questionou Malafaia, dizendo achar normal que o povo esteja indignado e se manifeste.

A iniciativa, que até ontem à noite contava com quase 3 mil assinaturas, nasceu com um grupo de líderes das igrejas evangélicas históricas (Anglicana, Luterana, Metodista e outras), que, normalmente, não declaram apoio a candidatos nas eleições. Depois, o movimento ganhou o apoio de membros das igrejas evangélicas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Sara Nossa Terra e Assembleia de Deus.

Igrejas ouvidas pelo GLOBO informaram que não houve um posicionamento institucional, mas que os bispos e pastores são livres para demonstrar suas opiniões pessoais. Lideranças religiosas que assinaram o texto afirmaram que o objetivo é não só se manifestar contra Cunha, mas demonstrar que o presidente da Câmara não pode falar em nome dos evangélicos e se declarar como representante do segmento.

— Como ele se diz representante de um pool de igrejas, essas igrejas estão questionando a mensagem que ele quer passar — afirmou Arthur Cavalcante, secretário-geral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e um dos que assinou a lista.

Membros da atual igreja de Cunha também assinaram o manifesto. O GLOBO esteve na Assembleia de Deus de Madureira ontem, mas não conseguiu contato com os pastores. Sem querer se identificar, um dos fiéis afirmou que ainda não há provas de que Cunha tenha cometido algum crime.

— Enquanto não tiver prova, não posso falar se fez ou não. Se ele roubou e for provado, vai pagar. Mas não cabe a mim dizer se ele é culpado ou não.

Em nota, a Sara Nossa Terra disse que a relação com Cunha sempre foi de caráter pessoal. “Não cabe à nossa instituição julgar qualquer dos seus membros ou ex-membros, como é o caso do senhor Eduardo Cunha, que atualmente segue outra denominação”. (Colaborou Márcio Menasce)



quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Estaria a Opus Dei por trás de um complô contra o papa?


A dúvida foi levantada no IHU:

"O complô contra o papa traz a marca Opus Dei"


"Fui eu que alertei o professor Takanori Fukushima sobre a notícia do jornal Quotidiano Nazionale, segundo a qual ele teria diagnosticado um tumor benigno no cérebro do Papa Francisco. E ele não conseguia entender. E logo disse que havia encontrado apenas uma vez o pontífice, em audiência pública." 


A reportagem é de Giorgio Meletti, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 27-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Entrevistado por Enrico Cisnetto para o talk show Roma Incontra, Luigi Bisignani [jornalista italiano] se confirma como pessoa informada sobre fatos alheios. Neste caso, ajuda-lhe um acaso da vida. Em 2011, quando pactuou a pena de um ano e sete meses pelas inúmeras acusações (incluindo conspiração criminosa e corrupção) no processo P4, ele disse que tinha tratado a rendição judicial porque preferia lidar com a saúde da sua filha. Que tinha sido curada justamente por Fukushima com 18 horas de cirurgia no cérebro.

O conhecimento de Fukushima permite que Bisignani note que, para um dos mais famosos neurocirurgiões do mundo, deslocar-se de helicóptero ou jato particular é um hábito. Isso não basta para desclassificar como um equívoco a notícia do papa doente: certamente, é um veneno com a marca Opus Dei.

"O papa está muito bem, come muito rápido, é um verdadeiro glutão e também engordou um pouco, ele adora as trufas, embora, em certo ponto, entendeu que um papa não deve exagerar. Portanto, está em andamento uma guerra entre a Opus Dei e os jesuítas. Os primeiros pensam que são os jesuítas do terceiro milênio, mas os segundos têm o papa nas suas fileiras", explica Bisignani, que confirma as insinuações confiadas à queima-roupa a um artigo no jornal Il Tempo.

"A fantasia de Dan Brown poderia até localizar o protagonista em um edifício art nouveau a poucos passos da Villa Borghese, que, durante os anos de Wojtyla, viu vários deles, de todas as cores, com uma preferência pela cor púrpura."

É transparente a referência à habitação do ex-porta-voz de Karol Wojtyla, Joaquín Navarro-Valls, próximo do Opus Dei.

Porém, a conexão do complô anti-Bergoglio com "as medidas desesperadas de um ex-poderoso monsenhor espanhol do qual o Vaticano, por prudência, até cortou o celular de serviço" é enriquecida com apenas um detalhe: "Eu juro que não me lembro como ele se chama, neste momento me foge, mas começa com B".

De fato, já era clara a referência ao Mons. Lucio Anjo Vallejo Balda, ex-secretário aposentado da Prefeitura para os Assuntos Econômicos, outro homem da Opus Dei.

Bisignani vigia. Há seis meses, ele revelou uma carta anônima de ameaças contra Jorge Bergoglio ("Em breve, São Pedro será purificado com o teu sangue"), cheia de detalhes muito precisos sobre os compromissos do papa, dos cardeais da Cúria e dos empregados das maiores basílicas e santuários, "mais bem atualizados do que o Anuário Pontifício".

O resto, nos próximos capítulos.



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sogro e genro condenados em SP por trocarem tiros (de verdade) na rua


Sim, senhor! Em pleno século XXI ainda existe bang-bang no interior do Estado de São Paulo. E do gênero "barraco familiar"...

A informação é do Tribunal de Justiça de São Paulo:

TROCA DE TIROS ENTRE GENRO E SOGRO RESULTA EM CONDENAÇÃO

A 1ª Vara Criminal de Catanduva condenou genro e sogro que trocaram tiros em uma rua de bairro residencial. De acordo com a sentença do juiz Antonio Carlos Pinheiro de Freitas, os acusados participaram de um “verdadeiro duelo”. Os homens sobreviveram à briga, mas foram condenados pelo crime de disparo de arma de fogo. O sogro foi sentenciado a dois anos de reclusão, em regime inicial aberto, pena substituída por prestação de serviços comunitários e prestação pecuniária no valor de três salários mínimos em favor de entidade assistencial, além de multa. O genro, a dois anos e quatro meses de reclusão, em regime inicial fechado, e multa. A pena não foi substituída, pois ele tem antecedentes criminais.

De acordo com a sentença, os dois tiveram diversas desavenças e resolveram se armar prevendo uma futura briga, que efetivamente aconteceu em fevereiro de 2013. O sogro saía do restaurante de sua esposa quando avistou o genro chegando de carro. Correu em direção ao seu próprio veículo, mas o outro emparelhou os carros, disparou e fugiu. Mesmo atingido, o homem levantou e revidou, acertando tiros no carro e no inimigo.

Em juízo os dois alegaram legítima defesa para os disparos efetuados e para o porte ilegal de arma. O argumento não foi acolhido pelo magistrado. “Na situação nota-se, conforme bem observado pelo promotor de Justiça, que os acusados resolveram duelar entre si, ou seja, assumiram o risco de suas condutas ilícitas e, portanto, devem responder pelos atos praticados”.

Cabe recurso da decisão. O genro, cuja condenação foi fixada em regime inicial fechado, pode recorrer em liberdade.

Comunicação Social TJSP – GA (texto)



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Chá do Santo Daime tenta ressocializar presos em Rondônia


A matéria é da revista Trip:

Chama o xamã

Camila Eiroa

O Santo Daime pode ajudar na reabilitação de criminosos? É essa uma das ideias da Acuda, em Rondônia, associação que além de oficinas de marcenaria e de inclusão digital oferece aos presos da região vivências de meditação, yoga, rituais católicos, espíritas e evangélicos, e também o Daime. "Eles têm que ir em todas as atividades para assim entendê-las", afirma Luiz Henrique, que criou a ONG em 2001. Os presos que participam do projeto cumprem pena fechada e são escolhidos em uma pré-seleção.

Luiz conta que a inciativa não é assim tão bem vista. "Nosso país confunde vingança com justiça", afirma. Mas isso não o faz desistir de continuar com o trabalho. Sobre o uso de ayahuasca, diz: "Na minha cabeça é mais difícil de se ressocializar uma pessoa na cadeia. O Santo Daime provoca que você entre na sua consciência. Muitos dos presos têm a visão de tudo que fizeram, é um processo muito doloroso. Para mim, só assim eles poderão se curar."

Preso por tráfico de drogas, Paulo Rodrigo, de 31 anos, acha que já "teria pirado" não fosse a Acuda. Para ele, a técnica mais importante que aprendeu foi a de massoterapia, ainda que fique em dúvida entre a yoga e a meditação. "Nas terapias nós temos que doar e receber, precisa desse equilíbrio. Isso me ajudou a conhecer meu corpo", conta. "Na cadeia não temos esse esse tempo para a gente, então é importante, é um processo de autoconhecimento."

Romualdo Tristão, de 48 anos, conheceu o projeto quando ainda estava no presídio e hoje trabalha lá. A vivência terapêutica não só foi responsável por diminuir um pouco os seus dias em regime fechado, como também mudou sua vida. "No começo eu fui resistente, principalmente pela massagem. Outro homem passar a mão no meu corpo? Credo! Depois percebi o quanto eu era ignorante comigo mesmo. A gente vai ficando mais humano."

Ele jura que a experiência espiritual com a ayahuasca o fez enxergar o mal que existia dentro dele."Da primeira vez, achei que eu ia morrer. O trabalho me mostrou muita coisa que me deixou assustado, mas que foi importante para entender meus erros." Segundo Luiz, mesmo durante as terapias, os presos estão cumprindo suas penas. "Nosso trabalho é a desconstrução do mundo do crime, se o detento entende que o mal que ele fez com o outro, ele faz consigo mesmo, ele tem mais chances de ser curado", finaliza.



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Papa Francisco foi "reeleito" no Sínodo


A avaliação espirituosa foi publicada no IHU:

Os conservadores em minoria. Francisco foi 'eleito' novamente

Esta é uma nova fumaça branca. A Igreja reunida em Roma não deu ao Papa Francisco um voto de desconfiança mas, pelo contrário, o "elegeu" pela segunda vez. E nem trancafiou a vontade reformista de Jorge Mario Bergoglio: a questão dos sacramentos aos divorciados recasados será avaliada caso a caso. Caberá aos bispos e aos padres, aos que servem desde abaixo a Igreja, e não a quem está lá no alto, isto é, aos teólogos que comandam a Cúria.

A reportagem é de Carlo Tecce, publicado por il Fatto Quotidiano, 25-10-2015. A tradução é de IHU On-Line.

O sínodo aprovou a relação final com a maioria qualificada (os dois terços), mas reduziu os consensos para o parágrafo 85, o mais delicado, que passou um voto do limite dos 177 (178 sim e 80 não). Porque o ponto 85 absorve as mediações entre conservadores e progressistas sobre os divorciados, as aberturas e as exceções, com uma linguagem felpuda: "Mesmo mantendo a norma geral, é necessário reconhecer que a responsabilidade de determinadas ações ou decisões, não é a mesma em todos os casos. O discernimento pastoral, sempre tendo em conta a consciência retamente formada das pessoas, deve dar conta destas situações".

Para anular as pressões do grupo de reacionários, as sentinelas do Papa Francisco na assembleia - o cardeal Lorenzo Baldisseri e o arcebispo Bruno Forte - trabalharam para aliviar as divisões. Isto impediu, inclusive, que o texto fosse rejeitado. Pelo contrário, o texto obteve a unanimidade na comissão e na aula sempre teve 66 por cento dos consensos.

Não era o momento para forçar a Igreja mais reacionária, dispersa nos cinco continentes e representada na Cúria pelos cardeais Robert Sarah e Gerhard Müller. Não havia a exigência de forçar sobre os divorciados, porque Bergoglio já interveio sobre o tema com o duplo motu proprio de setembro que agiliza o processo de nulidade. Na prática, não muda muito. Em teoria, a Igreja confirma a linha de Bergoglio. Que, no entanto, não é nada terno. No discurso de clausura disse: "O Sínodo nos fez entender melhor que os verdadeiros defensores da doutrina não são aqueles que defendem a letra mas o espírito, não as ideias mas a pessoa humana, não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão".

Uma mensagem explícita para Sarah e os colegas. Nada de revolucionário sobre os homossexuais, somente a repetição de um conceito: "Devem ser respeitados na sua dignidade para evitar qualquer tipo de injusta discriminação".

Mas sobre as uniões civis, a Igreja continua inflexível. "Acerca dos projetos de equiparação ao matrimônio, não existe nenhum fundamento para assimilar ou estabelecer analogias, ainda que remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família". É reafirmada a tolerância zero contra os pedófilos.

O documento aprovado no Sínodo tem um valor político para o argentino Bergoglio e os seus opositores internos, relegados a uma minoria.

Mas não ignorou a tensão que acompanhou estas três semanas sinodais e não removeu a carta de protesto dos treze cardeais: "O diálogo foi enriquecido por opiniões diferentes que se expressaram livremente e, às vezes, com métodos não totalmente benévolos".

O Sínodo ordinário deste ano, que celebra os cinquenta anos da sua criação por Paulo VI, sancionou a postura bergogliana do Vaticano: "O primeiro dever da Igreja não é distribuir condenações e anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, de chamar à conversão e de conduzir todos os homens à salvação".

Assim termina o Sínodo na versão Conclave.



domingo, 25 de outubro de 2015

Como seria uma cerimônia de casamento com polígrafo?


Divirta-se com a esquete abaixo:




sábado, 24 de outubro de 2015

A teologia de Paul Tillich, 50 anos após sua morte

Paul Johannes Oskar Tillich, alemão nascido em Starzeddel, então província de Brandenburgo, na Prússia, em 20 de agosto de 1886 (hoje Starosiedle, na Polônia), faleceu em Chicago, Illinois (EUA), em 22 de outubro de 1965.

Tillich foi um dos maiores teólogos protestantes do século XX, e 50 anos após sua morte a obra que ele produziu continua influente.

A matéria é do IHU:

A voz de Tillich contra Hitler


A cinquenta anos da morte, uma recordação do pensador protestante que dos Estados Unidos, onde tinha sido constrangido ao exílio pelas críticas ao nazismo, marcou fortemente a teologia do século vinte. Estimado por Thomas Mann pela sua aversão ao nazismo, estudado por Martin Luther King pela a sua atenção ao transcendente e ao mistério cristão e pelo seu “socialismo religioso”, mas em particular um pensador capaz de estar no limite dos saberes entre teologia, filosofia e psicologia e de apresentar-se quase sempre como a verdadeira contrapartida do pensamento de Karl Barth e de seu “Deus inacessível”. 

A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada no jornal Avvenire, 21-10-2015. A tradução é de Benno Dischinger.


Nestas poucas linhas se condensa a cifra acadêmica do teólogo protestante alemão Paul Tillich (1886-1965) – de quem amanhã (22/10) recorrem os 50 anos da morte. Um pensador que marcou a história da teologia na segunda metade do Século Vinte, tanto em âmbito católico como naquele protestante; baste pensar em suas obras mais famosas, como O Futuro das Religiões, A Irrelevância, a relevância da mensagem cristã para a humanidade de hoje, sua obra prima Teologia Sistemática ou ainda o seu escrito autobiográfico mais significativo Sobre a Linha do Limite. Capelão militar durante a primeira guerra mundial, discípulo do idealismo alemão e do filósofo Schelling, Tillich se tornará subitamente uma das vozes mais críticas na Alemanha contra o advento do nascente nazismo e de sua ideologia pagã.

Por causa de sua crítica ao regime de Hitler – em particular após a publicação do ensaio A Decisão Socialista – será privado da cátedra na universidade de Frankfurt e a partir de 1933 começará o seu exílio da Alemanha: será constrangido a asilar-se nos Estados Unidos, onde atuará até sua morte, nas universidades de Colúmbia, Harvard e Chicago. E precisamente sobre sua firme crítica ao nazismo e ao seu paganismo se deterá o pastor valdense Paolo Ricca: “O seu [discurso] foi um gesto corajoso, sobretudo porque ele fazia parte do movimento dos “socialistas e religiosos”, que tinham como modelo de referência os pastores protestantes suíços Leonhard Ragaz e Hermann Kutter. Com o seu estilo Tillich não tomou parte ativa na luta da “Igreja confessante” que se opôs ao regime:

Toda a liderança terminou nos campos de concentração. Talvez também por esta sua escolha de viver além-mar, também após a guerra, a sua influência sobre a teologia protestante tem sido menos incisiva na Europa em relação à de Bonhoeffer, Karl Barth e Rudolph Bultmann. Ele é muito mais conhecido na América do que no Velho Continente. Eu mesmo descobri sua grandeza nos anos de minha maturidade acadêmica e por uma iniciativa pessoal minha”.

Elmar Salmann entrevê neste “pensador kairológico”, “embebido do pensamento de “Schelling”, do idealismo alemão e da teologia liberal de Ernest Troeltsch” o ponto de maior novidade de sua indagação sobre o existencialismo e sobre a sociedade. “Parte da unicidade deste intelectual – revela Salmann – é representada por vários fatores: é um estudioso que está no limiar, acompanha as passagens da história entre teologia e filosofia. É muito próximo às reformas sociais feitas na Alemanha nos anos vinte do século vinte. Talvez tudo isto explica por que Theodor Adorno decide fazer a sua tese universitária sobre Kierkegaard dirigida pelo professor Tillich”. O padre Salmann, à luz também deste aniversário, percebe pontos de encontro entre a teologia ‘tillichiana’ e a de Barth. “Embora tão diversos em sua impostação metodológica – observa – há em ambos uma forte veia socialista e social-democrática. Há, a meu juízo, uma afinidade eletiva oculta: basta reler sua interpretação da crise social da Alemanha após a primeira guerra mundial.

Em Tillich teve predomínio a veia liberal, fenomenológica, pneumatológica, enquanto em Barth a cristológica, que refere o todo à Revelação divina. Embora de ângulos diversos, ambos propõem um percurso de realização do cristianismo na realidade e na complexidade da vida humana e social”. Sua atenção aos interrogativos últimos como o seu campo de pesquisa para a psicanálise e o mistério do transcendente ou ainda a atualidade de um texto ‘tillichiano’ como a coragem de existir (The courage to be), são alguns dos aspectos do teólogo existencialista alemão que desde sempre mais têm fascinado Eugenia Scabini, docente de Psicologia Social da família na Católica de Milão e autora, entre outros, em 1967, de um ensaio sobre o pensamento de Paul Tillich: “Nele é fortíssima esta instância de pôr-se os interrogativos últimos, de ir ao essencial das questões últimas. E, no fundo, muito deste método e terminologia será retomado anos depois, com uma leitura original, pela socióloga Margaret Archer.

A pensadora Scabini, relendo a atualidade de Tillich, se detém sobre sua interpretação do conceito de ‘ânsia”. “Precisamente porque é um existencialista e um protestante puro faz as contas com Freud, relê em chave moderna este estado de ânimo, non esquecendo a condição antropológica e psicológica.

A ânsia reinterpretada por Tillich supera certo reducionismo psicológico e faz aflorar um estado de ânimo comum e típico de muitos seres humanos”. E releva um particular: “A meu juízo, parte de sua maior herança está no seu ensaio ‘A coragem de existir’, onde descreve um ato, no fundo, que leva à fé, um Deus que nos aceita e nos justifica, não obstante a angústia da culpa e da condenação. Como seguramente original é a sua interpretação do conceito de limite e de confim, aquele ele chama em alemão ‘Grenzen’. Naquela metáfora de estar no limite se pode estar abertos a algo diverso também porque somente quem está na borda pode olhar para frente e para trás. E é, portanto, uma condição privilegiada”.

Uma herança, portanto ainda atual e a aprofundar segundo o teólogo valdense Paolo Ricca: “O centro de sua pesquisa teológica é a correlação entre mensagem cristã e condição humana. Quando se toma em mãos o índice de sua obra mais famosa, a Teologia sistemática, se descobre tudo isto. A grandeza de Tillich – é a consideração final – é aquela de colocar-se no limite entre realidade e fantasia, entre teoria e práxis, entre Igreja e sociedade. Esta posição de limite implica e obriga Tillich a um repensar bastante radical da linguagem da fé. Basta pensar no conceito de pecado, relido nos termos de alienação de si mesmo, do próximo (que se torna um estranho), e de Deus, em relação ao qual não se consegue mais instaurar um diálogo com Ele. Há em tudo isto uma profunda renovação da linguagem da fé e emergem assim os aspectos mais prometedores, a meu juízo, de sua teologia”.



sexta-feira, 23 de outubro de 2015

TJSP aplica Lei Maria da Penha para transexual

A informação é do Tribunal de Justiça de São Paulo:

TJSP APLICA LEI MARIA DA PENHA PARA PROTEÇÃO DE TRANSEXUAL

A 9ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha sejam aplicadas em favor de uma transexual ameaçada pelo ex-companheiro. O homem não poderá aproximar-se da vítima, dos familiares dela e das testemunhas do processo, está proibido de entrar em contato e não poderá frequentar determinados lugares.

A vítima, que não fez cirurgia para alteração de sexo, afirmou que manteve relacionamento amoroso por cerca de um ano com o homem. Após o fim do namoro, ele passou a lhe ofender e ameaçar. Assustada, registrou boletim de ocorrência e pediu em juízo a aplicação das medidas protetivas. O pedido foi negado pelo juízo de primeiro grau, sob fundamento de que a vítima pertence biologicamente ao sexo masculino, estando fora do escopo da Lei Maria da Penha.

No entanto, em julgamento de Mandado de Segurança impetrado no Tribunal de Justiça, a magistrada Ely Amioka, relatora do caso, afirmou que a lei deve ser interpretada de forma extensiva, sob pena de ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana. “A expressão ‘mulher’, contida na lei em apreço, refere-se tanto ao sexo feminino quanto ao gênero feminino. O primeiro diz respeito às características biológicas do ser humano, dentre as quais a impetrante não se enquadra, enquanto o segundo se refere à construção social de cada indivíduo, e aqui a impetrante pode ser considerada mulher.”

E acrescentou: “É, portanto, na condição de mulher, ex-namorada, que a impetrante vem sendo ameaçada pelo homem inconformado com o término da relação. Sofreu violência doméstica e familiar, cometida pelo então namorado, de modo que a aplicação das normas da Lei Maria da Penha se fazem necessárias no caso em tela, porquanto comprovada sua condição de vulnerabilidade no relacionamento amoroso”.

O julgamento teve participação dos desembargadores Sérgio Coelho e Roberto Solimene. A decisão foi por maioria de votos.

Comunicação Social TJSP – GA (texto)



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Tribunais oferecem até ajuda psicológica a superendividados


A informação é do Conselho Nacional de Justiça:

Tribunais oferecem apoio psicológico e conciliação aos superendividados

Com o salário totalmente retido no banco para o pagamento de empréstimos consignados e uma dívida de mais de R$ 100 mil que só aumentava, a funcionária pública M.S. encontrou no Programa de Prevenção e Tratamento dos Consumidores Superendividados do Distrito Federal (PPTS), coordenado pela segunda Vice-Presidência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), uma esperança para se estabilizar financeira e emocionalmente. M.S. é uma das 500 pessoas em situação de superendividamento que foi atendida pelo programa desde o seu surgimento, em dezembro de 2014. O programa, que tem por objetivo a prevenção e o tratamento de pessoas nessa situação, vem apresentando uma metodologia inovadora no Poder Judiciário, atuando na esfera jurídica, socioeconômica e psicossocial.

Além do TJDFT, também já foram implantados programas de atendimento aos superendividados nos Tribunais de Justiça (TJs) do Estado de São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Paraná. A iniciativa está em conformidade com a Política Nacional de Conciliação, instituída pela Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), à medida que atua pró-ativamente na resolução de conflitos por meio de conciliação entre a parte devedora e seus credores, buscando uma prestação jurisdicional mais célere e efetiva. Por meio da conciliação, o Programa de Prevenção e Tratamento dos Consumidores Superendividados do Distrito Federal já obteve 867 renegociações e quitações de dívidas, dentre acordos judiciais e pré-processuais.

Atendimento multidisciplinar – O programa vai muito além da prática da conciliação, procurando abarcar as demandas da sociedade que podem levar ao endividamento, como descontrole das finanças pessoais, desemprego, divórcio, adoecimentos, redução de renda, aposentadoria, vulnerabilidade das pessoas idosas nas relações de consumo e distúrbios de comportamento, como, por exemplo, a compulsão por compras. Com um atendimento multidisciplinar, são realizadas mesas redondas, palestras, oficinas, sessões de orientação financeira e encaminhamento psicossocial. O programa atende não apenas consumidores que sejam parte em processos judiciais, mas qualquer cidadão que esteja em situação de superendividamento ou deseje orientação financeira.

Bola de neve – A história de M.S. é um caso clássico de superendividamento. A funcionária pública estava com sua renda totalmente comprometida, retida pelo banco para o pagamento de juros de empréstimo consignado que havia feito. De acordo com ela, o primeiro empréstimo foi feito para tratamentos de saúde - a funcionária possui fibromialgia e passou por um quadro depressivo – e, a partir daí a dívida foi aumentando, em efeito “bola de neve”, ultrapassando R$ 100 mil. “Eu não tinha a renda liberada para pagar o básico, o que me levou a contrair novas dívidas com bancos e com amigos”, relata.

Sem dinheiro para contratar um advogado e tentar renegociar suas dívidas, a funcionária procurou o programa. “Recebi muito acolhimento, como em uma família, passei por sessões com psicólogos e recebi orientação financeira, em momento nenhum me culparam por nada”, conta. M.S. Ela relata ainda a dificuldade em lidar com expressões que passaram a fazer parte de sua vida, como ”nome sujo”. “Isso parece alguém que cometeu um crime contra a população. Sempre trabalhei, faço trabalho voluntário, sou uma pessoa ética, quero pagar minhas dívidas”, diz.

Com a saúde comprometida e um quadro depressivo grave devido a situação de superendividamento, M.S. teve que se afastar do trabalho e dedica-se exclusivamente a resolver o seu problema. Como o seu salário estava retido, a funcionária viu-se impedida de fazer qualquer negociação com seus credores. Agora, por meio de uma decisão judicial obtida no mês passado que obriga o banco a liberar 70% de sua renda, ela pretende começar as conciliações.

Família endividada – Outro caso que chamou a atenção da coordenação do programa foi um casal com um filho e renda familiar de R$ 5.300 com uma dívida de aproximadamente R$ 227,5 mil, sem contar os débitos com financiamento imobiliário. A família tinha feito empréstimos consignados no valor de R$ 197 mil, diversos débitos em operadoras de celular e lojas de varejo, dentre outras dívidas. As razões para o superendividamento, conforme detectadas pelo programa, foram o desemprego, uma doença na família e o fato de gastarem mais do que ganhavam.

Com o orçamento altamente comprometido – o que acarretava danos à saúde emocional – e perturbados com as ligações dos credores, o casal participou, em março, de uma sessão familiar de orientação financeira e, até agora, já foram feitos 15 acordos judiciais e extrajudiciais com os credores. Boa parte da dívida foi renegociada e o casal continua em acompanhamento pelo Programa de Prevenção e Tratamento dos Consumidores Superendividados do Distrito Federal.

Prevenção – M.S. acredita que, após a orientação financeira que recebeu, será impossível passar por uma situação de superendividamento novamente. “A educação financeira deveria ser uma matéria trabalhada na escola”, diz. De acordo com informações da segunda vice-presidência do tribunal, de um lado acredita-se no empoderamento do consumidor, por meio da educação financeira, consciente do seu papel como sujeito ativo na relação de consumo, responsável pela boa administração de sua renda e escolhas de como gastar bem o seu dinheiro. De outro, na conscientização do credor da importância da concessão do crédito responsável e da conciliação como meio alternativo e eficaz de solução de conflitos.

Luiza de Carvalho Fariello 
Agência CNJ de Notícias



quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Quando Malafaia andava com Eduardo Cunha


O vídeo abaixo é de um evento evangélico em que estão presentes Silas Malafaia, Pastor Everaldo (ex-candidato à Presidência da República pelo PSC) e Eduardo Cunha, (ainda) presidente da Câmara dos Deputados e acusado na Suíça por corrupção com fartas provas já enviadas ao Ministério Público Federal do Brasil.

Ao apresentar Eduardo Cunha à plateia reunida num estádio, Malafaia se gaba de que "pela primeira vez na história republicana a terceira maior autoridade do país, o presidente da Câmara dos Deputados, é um irmão nosso", esquecendo-se de que dois presidentes do Brasil eram evangélicos, se bem que naquela época eles eram conhecidos mais por "protestantes": Café Filho (presbiteriano, de 1954 a 1955) e Ernesto Geisel (luterano, de 1974 a 1979).

Bom, talvez - se fossem contemporâneos - esses dois presidentes não aceitariam Malafaia como "irmão", vai saber...

Dirigindo-se a Malafaia, Eduardo Cunha faz questão de dizer: "Deus me colocou lá. Eu sempre digo, Silas, se Deus me colocou lá, Ele saberá sempre honrar o trabalho que ele fez" terminando com seu bordão "afinal o nosso povo merece respeito".

Nada inesperado para quem colocou seu Porsche em nome de "Jesus.com", não é mesmo?

Bons tempos, hein, Malafaia!




terça-feira, 20 de outubro de 2015

Italiana executada por bruxaria será julgada 300 anos depois

A informação é d'O Globo:

Italiana decapitada por bruxaria será julgada 300 anos depois

Tribunal de Brentônico irá analisar o caso de Maria Toldini

O tribunal da cidade de Brentônico, na Itália, resolveu colocar em prática o ditado popular “a justiça tarda, mas não falha” e decidiu julgar o caso de uma mulher condenada à morte há 300 anos sob acusação de bruxaria. Segundo o ministro de cultura local, Quinto Canali — que liderou a iniciativa de reviver a história — , a análise tardia do caso de Maria Bertoletti Toldini, que foi decapitada aos 60 anos, é uma tentativa de retomar um período sombrio da história e retirar “seu romantismo folclórico”.

Maria foi presa em 1715 acusada de assassinar crianças, tornar a terra estéril e danificar um vinhedo local, além de blasfêmia e heresia. No entanto, um historiador afirma que a mulher pode ter sido alvo falsas acusações por parte de seus próprios familiares devido a uma disputa por herança. O julgamento será feito na corte, com juízes familiarizados com as leis da época.

“Se vemos em nossa história algo injusto contra a humanidade, temos que saber e dizer que essa história estava errada. É importante agora, assim como era há cem anos e como será daqui 100 anos. Houve um assassinato que não se justificava, que não deveria ter acontecido. Mataram uma pessoa com motivações que não existiam. Ela era inocente”, afirmou Canali, que teve a ideia de lutar por um novo julgamento após ver uma encenação cômica da morte de Maria na cidade.

“Quem teria a ideia de fazer um show folclórico de comédia em Auschwitz?”, questionou.

Na época de sua morte, Maria era viúva e havia se casado novamente. A mulher chegou a ser defendida no tribunal da época por um advogado que argumentou que os crimes dos quais sua cliente havia sido acusada tinham causas naturais. Mas a defesa não foi suficiente e Maria acabou decapitada e seu corpo foi queimado.

O prefeito da cidade, que é favorável ao julgamento tardio, afirmou que o custo da sessão será ínfimo e argumentou que, apesar das críticas por parte da população, é importante reavaliar o caso como uma maneira de corrigir injustiças históricas cometidas contra mulheres.

“Acho que existe um valor simbólico em fazer isso, também em relação às mulheres. Esta foi uma injustiça histórica contra as mulheres— também na tragédia grega vemos que elas sempre se deparam com injustiças, assim como hoje em dia, de diferentes maneiras”, afirmou Christian Perenzoni.

Cerca de 50 a 60 mil pessoas morreram na Europa acusadas de bruxaria entre os séculos XV e XVIII, a maioria delas mulheres.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Filme mostra travestis combatendo Bolsonaro, Feliciano e Malafaia


A matéria foi publicada na Folha de S. Paulo em 14/10/15:

Travestis combatem 'Jair Malafaia' e 'Eduardo Feliciano' em filme

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

E se o Brasil vivesse sob uma ditadura religiosa comandada pelo chanceler Eduardo Feliciano e pelo general Jair Malafaia?

"Não precisei me esforçar muito para criar essa história", diz Ivan Ribeiro, 35. Para o diretor baiano, não há meras coincidências com a vida real no enredo de "Bodas do Diabo", curta­metragem que estreia nesta terça­feira (20), no Cine Olido, no centro de São Paulo.

Apesar de não dar nome aos bois, os alvos do cineasta são claros: os deputados Eduardo Cunha (PMDB­-RJ), Marco Feliciano (PSC­-SP) e Jair Bolsonaro (PP­-RJ), mais o pastor carioca Silas Malafaia.

Todos são evangélicos e simpáticos a projetos como o Estatuto da Família – aprovado em setembro numa comissão da Câmara, o texto institui a entidade familiar como a união entre homem e mulher.

"Basta imaginar o futuro desejado pela direita conservadora evangélica e também católica. O Brasil que esse povo quer é totalmente distópico. Um país que não tenha gay mesmo", afirma Ribeiro.

Passado: em 1962, a revista "Fatos e Fotos" noticiou o casamento encenado entre uma transformista e um amante, numa boate de Copacabana, com esta chamada: "As bodas do diabo".

Presente: a definição virou título do quinto curta de Ribeiro.

Em 2014, seu projeto anterior venceu o Show do Gongo –aquela sessão clássica apresentada por Marisa Orth no festival Mix Brasil, na qual a plateia pode gongar filmes ruins e salvar os bons.

No vídeo gráfico "Shoshanna", uma transexual simula assassinar Cunha, Feliciano, Malafaia e Bolsonaro ao som de "People Are Strange" (The Doors).

A certa altura, entram "flashes" do clipe "Deus nos Amou", da pastora Ana Paula Valadão, vocalista do grupo Diante do Trono. "Quem pecar vai pagar / Quem pecar vai morrer", ela canta rodeada de crianças.

"Shoshanna" caiu nas graças do público e levou o troféu Coelho de Prata. A personagem reaparece no novo curta de Ribeiro e traz "amigas travestis que estão bem com o foda-­se para tudo isso", diz o diretor.

Futuro: "Bodas do Diabo" se passa em 2020. "O medo que vivemos em 2015 concretizou­-se: foi instalada uma ditadura religiosa no Brasil", conta a sinopse.

Travestis se unem para combater o regime e libertar seu povo. Bill Santos, candidato a deputado federal pelo PSOL-­SP nas últimas eleições, interpreta Veronika Stronger.

"É uma homenagem a Verônica Bolina, travesti que foi torturada pela Polícia Civil de São Paulo", diz Santos.

Refere­-se à travesti que ficou desfigurada após apanhar na cadeia, em abril. Na ocasião, Verônica ratificou a versão policial do caso: "Possuída pelo demônio", teria recebido uma surra de outros presos e arrancado a dentadas a orelha de um carcereiro.

Valder Bastos, que encarna a drag queen Tchacka nas noites paulistanas, também está na equipe.

Em "Bodas do Diabo", Ivan Ribeiro funde cenas filmadas em protestos contra a presidente Dilma Rousseff, em março, a gravações do elenco na rua Augusta, na Vila Mariana e no Pacaembu.

Seu gênero, diz, é o "gayexplotation", que une a temática LGBT ao "exploitation", um tipo de cinema apelativo, violento e de baixo orçamento – Quentin Tarantino reverenciou esse filão em obras como "Pulp Fiction" e "Kill Bill". "Testosterona", o curta de estreia, é um bom exemplo: um rapaz arranca os testículos do namorado após ser traído.

Para Ribeiro, "é triste que não seja natural" a inclusão maciça de filmes gays em grandes festivais de cinema –a circulação acaba restrita a mostras como o Mix Brasil. É de se pensar, ele afirma, numa cota para o segmento em eventos que recebam dinheiro público.

OUTRO LADO

Os deputados Bolsonaro e Feliciano criticaram o curta­metragem que os "homenageou".

"Não tenho tempo de assistir a este tipo de lixo", afirma Bolsonaro. "Ele [Ivan Ribeiro] não devia combater a ditadura, afinal de contas, gosta de ditadura", completa o parlamentar, que vê no "ativismo gay" uma vocação para oprimir.

Já Feliciano, que também é pastor evangélico, diz que estuda tomar medidas legais contra o filme, caso se enquadre no artigo 208 do Código Penal Brasileiro, que fala sobre "escarnecer de alguém [...] por motivo de crença".

"Sou cinéfilo, mas um filme deste tipo coloca a religião como algo ruim. O diretor está nos atacando frontalmente, é uma obra preconceituosa", diz. O deputado Eduardo Cunha e o pastor Silas Malafaia não foram encontrados pela Folha para comentar "Bodas do Diabo".

BODAS DO DIABO
Direção Ivan Ribeiro
Elenco Silvero Pereira, Bill Santos, Miguel Vicentim, Fabinho Vieira e Valder Bastos
Produção Brasil, 2015
Quando Terça­feira (20), às 19h
Onde Cine Olido, av. São João, 473, São Paulo



domingo, 18 de outubro de 2015

Coveiro que é filósofo dá lições sobre a vida e a morte


Leia a sábia, divertida e profunda história de Fininho, o coveiro que se formou em Filosofia, segundo a entrevista que ele concedeu a Camila Appel e foi publicada na Folha.

Já falamos dele aqui no blog em agosto de 2012, mas a matéria atual é mais extensa.

Mais abaixo segue um vídeo que foi realizado pela Istoé em 2013:

Conheça Fininho, o surpreendente coveiro formado em filosofia

Conversei com Fininho, um homem que me tocou com a sua visão de mundo e sua forma de habitar um lugar tão incomum, o cemitério. Um ser invisível para a sociedade, ele passou 20 anos de sua vida fechando caixões, cavando espaços na terra para uma espécie de plantação repugnada, uma matéria orgânica e ao mesmo tempo inorgânica, com vida, mas sem a vida.

Osmair Camargo Cândido ganhou o apelido Fininho por ser esguio. Ele foi faxineiro na Universidade Presbiteriana Mackenzie e sonhava em estudar lá. Conseguiu cursar a graduação de filosofia com acesso a bolsa de estudos. Formou-se filósofo. Entrou para a profissão de coveiro por um concurso do Serviço Funerário do Munícipio de São Paulo. “Sou coveiro por escolha própria”, diz. Hoje, trabalha no Cemitério da Penha.

Gosta de ler teatro. Ao falar sobre a importância do teatro grego por tratar da essência do teatro como catarse, ganhou de presente um livro de peças que eu levava na bolsa. Fininho atentou para o autógrafo na segunda página, e eu dei uma titubeada, mas quando perguntou se eu já tinha lido Antígona, ganhou o livro de vez. “Se a pessoa não compreender o teatro grego, não compreendeu o teatro. Vai passar vergonha numa discussão. Se ele não leu Antígona, não vai entender a catarse, a interpretação que se pode ter da vida sem o uso da razão, apenas com o teatro. Não sou eu que digo isso. Quem falou foi um prussiano. E o nome dele é Nietzsche”, disse.

Ele alimenta uma ambição na vida: publicar um livro que escreveu sobre o dia a dia de um coveiro. E, no fundo, parece torcer para que a publicação dessa entrevista o ajude nesse sentido.

Casado com uma costureira e com filhos (não me contou quantos), diz que a morte nada mais é do que um ponto no tempo e a lembrança da existência do instinto.

O que é a morte para você?

Um ponto no tempo. Qualquer coisa é um ponto no tempo. A morte é a lembrança do instinto. O homem cria a civilização, a sociedade, a amizade, mas existe seu instinto. É por isso que ele quer copular o tempo todo. Para que sua vida continue. A morte não é outra coisa senão um ponto no tempo. Fora isso você vai ficar fantasiando, inventando…

O absurdo é a vida. Quem falou isso foi Albert Camus e eu concordo com ele. Você não sabe como nem por que começou, como nem por que acaba. A vida é o intervalo entre o nascimento e o desaparecimento. Agora a morte cada qual dá o sentido que quiser. Tem gente que diz que é renascer, tem quem diga que é o fim de tudo. Camus tinha essa impressão, do absurdo da vida. Já o conterrâneo dele, Diderot, dizia que era o vazio. Não é interessante?

Você prefere ser chamado de coveiro ou de sepultador?

Ah, sepultador é fantasy. Eu sou coveiro mesmo. Quem faz cova é o quê?

O que diz na sua carteira de trabalho?

Diz que eu sou sepultador. Mas é fantasy.

Você gosta do que faz?

Apaixonado.

O que te cativa na profissão?

Acho que você poderia formular assim: o que há nas outras profissões que não há na minha atividade.

Se você pudesse ser qualquer coisa no mundo, o que seria?

A mesma coisa que sou hoje. Se eu pudesse renascer, eu pediria o favor de ter a mesma vida. É muito bom.

O que não é bom então?

O desconhecimento. O descaminho. Quem pelo dinheiro vive, é por ele mesmo que dedicará sua vida e perderá sua virtude, perderá sua coragem, perderá sua própria vida. Tem gente que vive a vida inteira, perde a juventude, correndo atrás do dinheiro, para quando estiver velho, gastar tudo tentando restabelecer a saúde.

Você acha que seu ofício interferiu na visão que você tem do dinheiro?

Evidente. Evidente que sim. Óbvio.

Você lembra de algum momento que isso te marcou?

Vários… Eu refleti bastante no sepultamento de Plínio de Arruda Sampaio. Eu via nele uma dedicação incomum. Ele tinha posses mas se dedicava de um modo à política que me pareceu muito tocante. Um dia eu o vi na avenida paulista, muito debilitado, já doente, distribuindo santinho do partido dele lá. Eu comentei que ele precisava descansar. Ele respondeu: “um homem deve chegar até a morte cumprindo aquilo que ele pensou, aquilo que o coração ordenou”. Eu fiquei muito emocionado. Aquilo que se acredita tem mais valor do que aquilo que se tem. Porque, na verdade, há a impressão de se ter as coisas. Mas é só uma impressão, porque ninguém tem nada. Não poderá transportar nada porque não se sabe para onde vai. Vamos a lugar nenhum. Viemos do nada, seguimos para lugar nenhum. Seguimos para hipóteses. Uns dizem que vão para o céu, outros para o inferno…

Como as pessoas reagem quando você conta que trabalha como coveiro?

Ah, todo mundo vê o coveiro como um fracassado. Um fracassado social. Porque o sucesso, o sucesso na América do Sul, está no dinheiro. Às vezes eu apelo um pouco né, falo ‘olha, fulano de tal foi coveiro’, como o Rod Steward – que foi coveiro também.

Quem é você?

Eu sou neto de Silvestre Camargo e da dona Albertina Camargo. Filho de Dirce Camargo, irmão do Odair, da Vera e da Iasmin. Esse cara sou eu. Eu sou bisneto de pessoas que foram escravizadas e, portanto, dado ao gosto popular. Gosto e leio toda a obra de Machado de Assis, com toda aquela pompa dele, mas sou dado também à literatura de Lima Barreto.

Sua profissão também faz parte de quem é você?

Sim.

Você gosta de trabalhar dentro de um cemitério?

Claro. Quem tem o privilégio de ouvir tanto passarinho cantando no serviço? A parede me tira a visão do horizonte. Eu não preciso da parede. Tem gente que precisa. Eu não preciso de parede, eu não preciso de gravata, preciso só do mínimo para viver. Porque assim eu não incomodo o outro. Eu não tiro o pão da boca de ninguém. E morro com a minha consciência tranquila, mesmo com a barriga vazia. O cemitério é um lugar dado à calma, à tranquilidade, ao sossego. É um lugar de vida (Fininho arranca uma pitanga da árvore e come).

Você já se emocionou em enterros ou costuma procurar se distanciar?

Ih, já chorei um bocado. Outro dia foi triste. Eu estava fazendo o sepultamento de um militar lá no Araçá (Cemitério do Araçá). Estava aquele clima, todo o comando da Polícia Militar lá. O cara tinha sido morto pelas costas. Estava muito calor e chovendo. Eu estava sentindo um negócio gelado e quente nas minhas costas enquanto eu fazia o sepultamento… achei que era a chuva. Aí eu escuto uma menina falar: moço, fala para meu pai levantar. Aí eu vi que aquilo nas minhas costas era o choro da menina.

Para você trabalhar com cemitério você tem que saber do trato humano, saber se comunicar, ou como não se comunicar, perceber os sinais da pessoa, procurar tratar da melhor maneira possível, senão você pode ser mal interpretado. Para lidar com a morte, você não pode ter mecanicismo, você não pode ser frio, indiferente.

As pessoas normalmente falam com você, ou você passa invisível?

Um coveiro tem que ser quase invisível. Porque a pessoa está em profundo desagrado com o mundo. Mesmo quando você vê aquele tom de resignação, a pessoa também está em profundo desagrado. Qualquer coisa que for feita que não for de seu agrado, pode causar imensa confusão. Tem que se tomar cuidado com qualquer gesto fora do ritual.

Você conta com o dia de amanhã?

Eu não. Hoje para mim está ótimo. Eu posso semear algumas coisas no dia de hoje. Mas pode ser para outra pessoa colher. Eu me alimento com o hoje. E curto o hoje. Se tiver amanhã, agradeço.

Como é esse “curtir o hoje”?

Sabe o que é mais importante na vida? A própria. Lógico que eu não sou nenhum hedonista. Não vou ter aquela vida de mil prazeres. Cada qual que encontre seu melhor jeito de viver. O dinheólotra vive que nem um louco atrás de bolsa de valores, queda do dólar, política e não sei o que… eu não conseguiria viver assim.

Quais dicas você poderia dar para quem quer viver o hoje?

Acorde bem humorado. Humor é fundamental. Aproveite as delícias da vida, aquilo que você acha bom. Faça o que você gosta de fazer. Você tem que estar próximo daquilo que você deseja. Nem precisa ter aquilo que você deseja. Estar próximo é uma situação muito interessante. Você tem a expectativa. Na vida se pode ter expectativas, nunca certezas. Eu não tenho certeza do dia de amanhã, mas eu tenho a expectativa. A manutenção da própria vida… você já viu como é interessante um copo de água?

“Viver não é acumular dias”, como disse Antônio Penteado de Mendonça.

Como você sabe a hora certa de fechar o caixão?

É o timing. Não pode ser zé mané. Eu tenho que fazer com que você acorde para a hora. Você está embebida pela morte. Então eu tenho que dar um toque. Eu pego e seguro a tampa do caixão, sem pressa. Cada um tem uma técnica, a melhor é essa, porque você dá um sinal. Chegar e tampar o caixão é uma grosseria, uma estupidez. Pedir também é desagradável. Agora, quando eu pego a tampa, eu mostro. Quando você sepulta uma pessoa, não é só uma pessoa que você está sepultando. Você vai sepultar um sonho, você vai sepultar o amor, a ilusão, aquele apego. Não é só um corpo. Você tem que se colocar na posição do cara. O processo de morte, na minha profissão, é embrutecedor. A percepção da morte não é para todos.

Quais são as reações mais comuns?

Agressividade, riso, resignação, alguns assobiam. Já levei um soco que me tirou do chão. Era um político. Eu falei: já quase não tenho dente, você vem me tirar os que restam, mas que xarope! A filha me pediu para eu não brigar com seu pai. Fiz o sepultamento todo com gelo na boca. A esposa dele comentou depois que ele tinha bebido.

Você acredita em espíritos?

Nunca dei trela para isso não. Não tenho tempo para isso. Essa é uma falsa questão. Sabe o nome disso? Sofismo. É uma falsa questão. Leia um livro que se chama “De Anima” de Aristóteles, o pai da lógica formal. O primeiro livro que eu me apaixonei foi o do Newton (Isaac Newton), Aristóteles foi o segundo.

As coisas andam, se movem, você concorda comigo que a terra gira? Mas o que quer dizer que a terra gira? Oras, se uma coisa gira, logo tem que ter o primeiro giro, o motor. É aquela pergunta que seu filho vai te fazer: mamãe, por que a terra gira? Se ninguém ta empurrando, por que ela gira? De onde vem as forças? De onde vem a matéria? É daí que vem “De Anima” – a matéria é inanimada. Teve um que morreu pensando nisso, o Einstein. Fez “A Teoria do Tudo” e morreu.

Sobre os espíritos: pensar sobre eles não é uma questão, não é um problema. René Descartes vai falar: penso, logo existo. Agora o outro, um alemão o qual dediquei mais da metade da minha vida, vai falar assim (Fininho refere-se à Immanuel Kant): muito bem, quem é esse eu? Então, ele escreve uma nova metafísica. Ele vai dizer os seguinte: são acidentes. Ele não fala sobre Deus ou sobre a alma, porque de que adiantaria? Ele é racionalista, ele é um iluminista, ele é o pai da razão, um divisor da filosofia na Alemanha.

Então, eu digo que é um sofismo porque falar sobre a existência ou não de espíritos é a criação de um falso problema.

Vamos falar de causalidade. Essa árvore está aí porque um dia tinha uma sementinha aí – você vai buscar a causa da existência da árvore com a razão e por aí vai. Mas se a sua razão buscar as causas, logo você vai chegar numa causa não causal. Logo, a razão não encontra explicação. Aí entra a fantasia. Eu vou deixar isso aí como um postulado. Na visão de Kant, Deus é um postulado – porque a razão não alcança.

Você já pensou no que querem que seja feito com seu corpo quando você morrer?

Eu não. Eu vim de graça, vou embora de graça. Já ouviu aquela música? (cantarola) A bruta flor do querer… Então, é isso. (a música é “Querer” de Caetano Veloso).

Qual é a relação com essa música?

O querer! Mas minha música predileta é uma de Aldir Blanc: caía a tarde feito um viaduto, e um bêbedo trajando luto, me lembrou Carlitos… Ele fez músicas para a Elis Regina.

Você já pensou em compor?

Quê? Com tanto compositor bom por aí eu vou me meter com isso? Vou compor onde tem João Bosco? Não…

Você já fez amizade com alguém que conheceu num velório?

Eu já passei o Natal com uma senhora que vinha no Araçá (cemitério do Araçá, onde trabalhava) para conversar comigo. A família me pediu para levar todos meus netos lá no Natal. Levei. Ela me chamou no hospital para vê-la antes de morrer… Eu gostava muito dela. É importante isso no mundo, encontrar afinidades. (cantarola) É impossível ser feliz sozinho. Não é?








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