A informação é d'O Globo:
Italiana decapitada por bruxaria será julgada 300 anos depois
Tribunal de Brentônico irá analisar o caso de Maria Toldini
O tribunal da cidade de Brentônico, na Itália, resolveu colocar em prática o ditado popular “a justiça tarda, mas não falha” e decidiu julgar o caso de uma mulher condenada à morte há 300 anos sob acusação de bruxaria. Segundo o ministro de cultura local, Quinto Canali — que liderou a iniciativa de reviver a história — , a análise tardia do caso de Maria Bertoletti Toldini, que foi decapitada aos 60 anos, é uma tentativa de retomar um período sombrio da história e retirar “seu romantismo folclórico”.
Maria foi presa em 1715 acusada de assassinar crianças, tornar a terra estéril e danificar um vinhedo local, além de blasfêmia e heresia. No entanto, um historiador afirma que a mulher pode ter sido alvo falsas acusações por parte de seus próprios familiares devido a uma disputa por herança. O julgamento será feito na corte, com juízes familiarizados com as leis da época.
“Se vemos em nossa história algo injusto contra a humanidade, temos que saber e dizer que essa história estava errada. É importante agora, assim como era há cem anos e como será daqui 100 anos. Houve um assassinato que não se justificava, que não deveria ter acontecido. Mataram uma pessoa com motivações que não existiam. Ela era inocente”, afirmou Canali, que teve a ideia de lutar por um novo julgamento após ver uma encenação cômica da morte de Maria na cidade.
“Quem teria a ideia de fazer um show folclórico de comédia em Auschwitz?”, questionou.
Na época de sua morte, Maria era viúva e havia se casado novamente. A mulher chegou a ser defendida no tribunal da época por um advogado que argumentou que os crimes dos quais sua cliente havia sido acusada tinham causas naturais. Mas a defesa não foi suficiente e Maria acabou decapitada e seu corpo foi queimado.
O prefeito da cidade, que é favorável ao julgamento tardio, afirmou que o custo da sessão será ínfimo e argumentou que, apesar das críticas por parte da população, é importante reavaliar o caso como uma maneira de corrigir injustiças históricas cometidas contra mulheres.
“Acho que existe um valor simbólico em fazer isso, também em relação às mulheres. Esta foi uma injustiça histórica contra as mulheres— também na tragédia grega vemos que elas sempre se deparam com injustiças, assim como hoje em dia, de diferentes maneiras”, afirmou Christian Perenzoni.
Cerca de 50 a 60 mil pessoas morreram na Europa acusadas de bruxaria entre os séculos XV e XVIII, a maioria delas mulheres.