Artigo do ScienceDaily traduzido por Natasha Romanzoti para o HypeScience:
Pornografia faz mal para você?
Alguns estudos dizem que a pornografia gera alterações cerebrais profundas e generalizadas nas pessoas, tanto em adultos quanto em crianças, incluindo predisposição a violência contra as mulheres. Seria isso verdade?
Segundo Paul Wright, professor assistente de telecomunicações na Universidade de Indiana, em Bloomington, EUA, que estudou o sexo nos meios de comunicação, os estudos sobre pornografia são variados e você não pode olhá-los separadamente para tirar uma conclusão.
A maioria dos estudos experimentais sobre os efeitos da pornografia concentram-se em estudantes universitários. Analisados individualmente, estes estudos parecem mistos.
Alguns acham que a exposição de jovens à pornografia aumenta atitudes sexistas e até mesmo uma vontade de infligir dor (conclusão que é muitas vezes apoiada por testes experimentais em que homens têm a oportunidade de infligir o que eles acreditam ser verdadeiros choques elétricos em uma mulher).
Por outro lado, outros estudos encontram pouco ou nenhum efeito negativo de assistir pornografia.
Para entender esses resultados, os psicólogos dependem de meta-análises ou estudos que analisam os dados de vários estudos individuais. Usando esta técnica, Wright disse que os efeitos da pornografia ficam “bastante claros”.
“Em situações experimentais em que o comportamento agressivo real é medido entre os homens, tanto pornografia violenta quanto não violenta aumenta a probabilidade de agressão posterior”, explica Wright.
“A questão que permanece é: o que esses caras fazem no laboratório, eles realmente aplicam à vida real?”, disse Chris Ferguson, um psicólogo que estuda a relação entre mídia e comportamento violento.
Na vida real, é claro, os pesquisadores não podem realizar experimentos controlados de pornografia. Uma estratégia alternativa tem sido olhar as taxas de violência sexual em países logo após a pornografia ser descriminalizada.
Estes estudos, muitos feitos por Milton Diamond, da Universidade do Havaí em Manoa, costumam concluir que as taxas de violência sexual diminuem após a pornografia se tornar mais prevalente.
Diamond vê isso como evidência de que a pornografia proporciona na verdade um “canal de escape” para os homens que têm tendências agressivas sexualmente. “A maioria da pornografia dissipa a excitação pela masturbação e eu acho que funciona tanto para homens quanto para mulheres”, diz. “E, geralmente, depois de alguém se masturbar e ter o seu orgasmo, perde o interesse em sexo, o que pode dissipar também o interesse de sair e fazer qualquer coisa ilegal”.
Porém, não há prova desse efeito de escape nos estudos por todos os EUA. Não é nem possível interligar firmemente a queda na violência à pornografia, dado o grande número de outros fatores que poderiam desempenhar um papel.
Efeito moderado ou perigoso?
Se os estudos de laboratório estiveram corretos em dizer que a pornografia aumenta a violência masculina, esse efeito é pequeno a moderado.
O pesquisador Neil Malamuth, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, EUA, descobriu que a exposição à pornografia não afeta o homem médio. Mas homens com outros fatores de risco que predispõem à violência sexual, sim.
“A pornografia pode tornar uma pessoa com uma certa tendência, uma certa inclinação, um perfil de risco ainda mais propensa a agir de uma maneira sexualmente agressiva”, disse Malamuth.
Características de risco incluem hostilidade em relação às mulheres, personalidade narcisista e tendência a derivar satisfação de poder e controle sobre as mulheres, bem como características de fundo, como crescer em um lar violento.
Pode ser que os estudos feitos tiveram diferentes proporções de homens com essas características, o que explicaria os resultados conflitantes.
Na outra ponta, alguns pesquisadores estão se voltando aos sinais potencialmente positivos da mídia sexualmente explícita.
Nos estudos, os usuários de pornografia em geral a veem como um benefício.
“A pornografia pode ter muitos efeitos benéficos para algumas pessoas em suas vidas sexuais, e muitos não se veem prejudicados de forma alguma”, disse Malamuth.
Visão pornográfica
Em um estudo da Universidade do Havaí em Manoa, pesquisadores compararam poses de mulheres em fotografias tiradas de sites de pornografia populares, revistas e portfólios na Noruega, Estados Unidos e Japão.
Esses três países foram escolhidos porque eles caem em diferentes partes da Medida de Empoderamento do Gênero das Nações Unidas (ONU), uma medida de poder político e econômico das mulheres em uma nação. A Noruega é a número 1 na escala global, os EUA é o nº 15, e o Japão é o nº 54.
Os pesquisadores compararam poses de poder e não poder nas fotografias pornográficas de cada nação. Um exemplo de uma fotografia de não poder seria uma mulher amarrada ou contorcida, com pouco conforto. Uma fotografia de poder seria o oposto, por exemplo, uma mulher de frente para a câmera com um olhar de confiança.
Os pesquisadores descobriram que as fotografias de não poder eram igualmente comuns em todos os três países. Mas a Noruega teve o maior número de fotografias de poder, seguido pelos EUA.
As descobertas sugerem que a pornografia pode espelhar a igualdade de gênero ou a ausência dele da sociedade em geral.
“É um reflexo do que a nossa cultura produz para mostrar o que é sexy sobre as mulheres ou o que deve ser considerado um ideal sexual”, disse a pesquisadora Dana Arakawa.