quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Comissão de Feliciano exige teste da farinha para entrar nas igrejas

Antes de mais nada, mantenha a calma! Sim, o título deste artigo é obviamente jocoso, mas talvez seja a maneira menos ridícula de se abordar o caso.

Os mais novos não devem saber disso, mas "teste da farinha" era - até algum tempo atrás - a brincadeira que se fazia com os garotos que tinham que enfrentar o exame de seleção a fim de verificar se estavam aptos a prestar o serviço militar (e já estavam, obviamente, incomodados com isto).

Pedindo perdão antecipadamente pelo relato gráfico que faremos a seguir, que a alguns poderá parecer obsceno, passamos a explicar o folclórico procedimento.

A prova, de extremo mau gosto, consistia em fazer o rapaz se sentar nu, com as nádegas entreabertas, sobre uma bacia recheada com alguns kilos de farinha de trigo, de maneira que, ao se levantar, ficaria exposto o molde dos anéis (no popular, as "pregas") de seu ânus, o que permitiria saber se ele era homossexual ou não.

Captou o constrangimento?

Não há registro de que o "teste da farinha" tenha sido feito em alguma repartição militar, mas a simples ameaça de que ela viesse a ser feita algum dia deve ter intimidado alguns pretensos machões, não é mesmo?

Então...

Eis que ontem, 16 de outubro de 2013, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, presidida por Marco Feliciano (PSC-SP), tendo como relator o militar da reserva Jair Bolsonaro (PP-RJ), deu encaminhamento ao projeto de lei que autoriza as igrejas a expulsarem do seu recinto pessoas que "violem seus valores, doutrinas, crenças e liturgias".

O autor do projeto é o deputado evangélico Washington Reis (PMDB-RJ), da Igreja Nova Vida, que assim o justificou:
"Deve-se a devida atenção ao fato da prática homossexual ser descrita em muitas doutrinas religiosas como uma conduta em desacordo com suas crenças. Em razão disso, pelos fundamentos anteriormente expostos, deve-se assistir a tais organizações religiosas o direito de liberdade de manifestação".
Fica claro, portanto, que os destinatários da iniciativa são os homossexuais, provavelmente numa retaliação ao beijo lésbico que duas moças promoveram num evento em que Marco Feliciano pregava em São Sebastião (SP), o que levou o pastor-deputado a mandar prender as duas.

Numa paulada só, portanto, Feliciano e sua trupe parlamentar mandam às favas os conselhos de Pedro, Paulo e Tiago nesses versículos:
Romanos 2:11 pois para com Deus não há acepção de pessoas.
Efésios 6:9 E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor tanto deles como vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas.
Colossenses 3:25 Pois quem faz injustiça receberá a paga da injustiça que fez; e não há acepção de pessoas.
Tiago 2:1 Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
Tiago 2:9 Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela lei como transgressores.
1ª Pedro 1:17 E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação,
Isto mostra que estão faltando muitos versículos na Bíblia de certos "pastores", e que a disputa e a pregação deles não têm nada de bíblica, mas o seu discurso rasteiro e demagógico é meramente político e ideológico com fins eleitoreiros.

E tem gente que ainda os leva a sério...

Logo, não se surpreenda, meu caro mancebo, se chegar o dia em que você será convidado a se sentar peladão numa bacia cheia de farinha na entrada do templo, para delírio (talvez fetiche, vai saber...) dos fiéis.

Quem avisa, amigo é...



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