segunda-feira, 31 de março de 2014

Ortodoxos programam concílio do Oriente cristão para 2016

Desde o Segundo Concílio de Niceia no ano 787, os patriarcas das igrejas ortodoxas não se reúnem. Tudo indica que, 1.229 anos depois, eles voltaram a se encontrar para decidir os rumos do ramo oriental do cristianismo. A notícia vem pela Voz da Rússia:

Concílio Ecumênico Ortodoxo se realizará em 2016

Se houver a graça e a vontade divinas, um Concílio Ecumênico Ortodoxo poderá se realizar em 2016 – foi assim que deliberaram os chefes de 13 Igrejas Ortodoxas numa reunião, mantida em Istambul por iniciativa do Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, e dedicada a um vasto leque de questões importantes atuais.

O fato de ter sido marcada já uma data e um lugar aproximados do evento constitui um enorme avanço. Uma decisão dessas foi esperada durante mais de 50 anos. Parece não ser grande coisa em relação a um outro fato de que todos os Patriarcas ortodoxos não se reuniram desde a altura do Segundo Concílio de Niceia em 787. Por outro lado, já se tornou claro ser impossível dar solução a uma série de problemas pendentes sem que seja convocado um Concílio dessa envergadura. Por isso, o próximo Concílio será, sem embargo, um evento de grande porte, disse o Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, Kirill:
“A história eclesiástica desconhece eventos do gênero. É extremamente importante que as decisões nesse Concílio sejam tomadas por via consensual, ou seja, por um acordo geral. A via de votação será excluída. Mas um documento aprovado pelos chefes de Igrejas realça que “cada Igreja local terá um voto”. Isto significa que a Igreja Ortodoxa, no seu conjunto, não poderá sustentar dois pontos de vista diferentes. A opinião de Igrejas locais deverá ser formulada de modo a poder expressar os ânimos dos bispos, sacerdotes e do rebanho de Deus. Isso tem sido sobejamente importante para evitar controvérsias e cisões. O Concílio deverá contribuir para uma maior coesão e reconciliação perante um vasto espectro de desafios contemporâneos.”
No início dos anos 60, altura em que surgiu a ideia de convocar tal fórum representativo, ao exame de Patriarcas foram submetidos cerca de 100 temas. Com o passar do tempo, o seu número se reduziu a dez, requerendo cada uma votação à parte. Ora, até hoje, se conseguiu consenso em relação a oito temas debatidos e já votados. Isto aponta para a necessidade de realizar um Concílio Ortodoxo a fim de resolver várias questões relacionadas com a situação de diásporas de crentes nos países não ortodoxos, a uniformização de calendário eclesiástico e das regras relativas ao jejum, a atitude da Igreja Ortodoxa para com os fiéis de outras confissões cristãs. Foi decidido ainda que cada Igreja local seria representada por 24 arciprestes com o seu respectivo Patriarca à frente. Diga-se de passagem que o princípio de consenso, escolhido com um método de realização do Concílio, foi proposto pela Igreja Russa, adianta o metropolita Illarion:
“É evidente que a presidência será assumida pelo Patriarca de Constantinopla, “primeiro entre os iguais”, devendo ele se sentar à mesa no meio dos chefes de outras Igrejas locais. Deste modo, o Concílio não será semelhante aos concílios católicos em que a mesa de presidência está ocupada por Papa, enquanto os bispos se encontram sentados em filas na sala de reuniões. Assim, será posta em prática a doutrina ortodoxa, segundo a qual as Igrejas locais, iguais em direitos, são dirigidas por Patriarcas e metropolitas também iguais pela sua dignidade.”
Em resultado da recente reunião em Istambul não foi apenas aprovado um regimento do futuro Concílio. Os chefes de Igrejas adotaram um Apelo em defesa de cristãos na Síria e no Oriente Médio. Também foi aprovada uma declaração sobre a crise política na Ucrânia. Segundo ressaltou o Patriarca russo Kirill, este documento contém três elementos importantes:
“Primeiro, é um apelo à paz e à reconciliação. O segundo ponto adverte contra o emprego da força, ou seja, uma ocupação forçada de mosteiros e templos. O terceiro diz respeito aos crentes dissidentes que são convidados a tomar juízo e se reintegrar na Igreja Ortodoxa Russa.”
Trata-se, pois, de um princípio canônico visando a unidade eclesiástica na Ucrânia, salientou o Patriarca Kirill.



LinkWithin

Related Posts with Thumbnails