segunda-feira, 10 de abril de 2017

Caderno 2 do Estadão resenha Bíblia de Estudo da Reforma da SBB


É raro, para não dizer "inédito", que a edição de uma Bíblia (ainda mais de tradição protestante) consiga penetrar no catálogo secular de resenhas literárias publicadas na imprensa em geral.

Parece que os 500 anos da Reforma Protestante, a serem comemorados no próximo mês de outubro, já produziram este primeiro milagre em terras tupiniquins.

Quem rompeu este cerco sagrado no sábado passado foi a Bíblia de Estudo da Reforma, com uma interessante e honesta resenha que pode ser lida no Estadão:

'Bíblia de Estudo da Reforma' traz ampla biografia de Martinho Lutero

Obra faz homenagem ao monge alemão

José Maria Mayrink

O mais novo lançamento da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) é uma homenagem a Martinho Lutero, por sua dedicação às Escrituras Sagradas, centro e base de sua espiritualidade e de sua teologia. O luxuoso volume da Bíblia de Estudo da Reforma, de 2.304 páginas, abre com minuciosa biografia do monge agostiniano alemão que rachou a Igreja Católica no século 16 e inaugurou uma nova comunidade cristã, embora não fosse sua intenção se separar de Roma.

Além da vida de Lutero, ilustrada por belas gravuras dele, de sua mulher Catarina von Bora, de seus pais e de vários personagens da época, aliados ou adversários, com fotografias das casas, conventos e igrejas, essa edição da Bíblia reproduz os prefácios que o reformador escreveu para cada livro do Antigo e do Novo Testamento.

É uma edição rica na apresentação, capa em couro sintético, e riquíssima no conteúdo. Mais de 40 mil notas de rodapé, cerca de 120 quadros, mapas e diagramas, 220 artigos e introduções aos textos bíblicos e citações dos pais ou padres da igreja, a começar por São Jerônimo, autor da Vulgata, em latim, são fruto do trabalho de tradutores e revisores da Sociedade Bíblica do Brasil. O original de todo esse material é da The Lutheran Study Bible, publicado em 2009 pela Concordia Publishing House, nos Estados Unidos. A tradução do texto bíblico é de João Ferreira de Almeida, revista e atualizada. O mesmo texto, portanto, usado em todas as edições SBB.

A história de Lutero narra cronologicamente em detalhes os primeiros passos de sua vocação religiosa, a rotina no convento de Erfurt, a viagem a Roma, o combate à venda de indulgências, o casamento com a ex-monja Catarina von Bora e a propagação pela Europa da doutrina evangélica que ficou conhecida como protestantismo. Por tabela, o texto divulga o perfil de papas, príncipes e teólogos no cenário político da Alemanha. É uma biografia densa, suficiente para dar aos leitores uma visão clara e, enquanto possível, imparcial de Martinho Luder, sobrenome que ele mudou para Lutero, ou Elêuteros, em grego, cujo significado se traduz por livre ou independente.

“Essa edição é uma contribuição grande para as igrejas evangélicas na comemoração dos 500 anos da Reforma pelas abundantes citações de Lutero e pela transcrição de textos dele”, disse o reverendo Erni Walter Seibert, secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação, da Sociedade Bíblica do Brasil. Lançada em fevereiro com 11 mil exemplares, a Bíblia de Estudo da Reforma deverá dobrar a tiragem até o fim do ano. Conforme observa Seibert, o reformador Martinho Lutero provocou uma revolução na teologia, com repercussão na política e na educação. Sua tradução da Bíblia para o vernáculo, contribuiu para a unificação da língua alemã e deu ao povo a possibilidade de ler os textos sagrados, antes só disponíveis em latim.

Algumas observações na narração da vida de Lutero são particularmente interessantes. Por exemplo, a suspeita de que não foi do próprio reformador, mas de seguidores seus, a iniciativa de afixar as 95 teses contra as indulgências na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, onde ele costumava pregar. Outra informação, curiosa e honesta para um texto quase hagiográfico, é o registro da aversão de Lutero aos judeus. Depois de ter aconselhado uma mudança de atitude em relação ao povo judaico nos anos 1520, ele escreveu a obra A Respeito dos Judeus e de Suas Mentiras, publicada em 1543, na qual afirma que os judeus não passam de filhos de Satanás e que a presença deles entre os cristãos representaria um grande perigo para todos os crentes.

“Hoje, essas ofensas que Lutero, ao final de sua vida, proferiu contra os judeus são vistas como a principal mácula na biografia do Reformador”, observa o texto da Bíblia de Estudo da Reforma, acrescentando que “por ter sido tão rigoroso em seus juízos e pronunciamentos, Lutero não foi seguido em tudo, nem mesmo por seus contemporâneos e enquanto ele ainda vivia”.

O professor luterano Lauri Wirth contou ao Estado que, ao ler na sala de aula trechos do que Lutero escreveu sobre os judeus, seus alunos da Universidade Metodista de São Bernardo do Campo disseram que não sabiam quem era o autor, mas que só podia ser um nazista.

A Bíblia de Estudo da Reforma soma-se à Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero, lançada em 2012 pela SBB, que também apresenta uma breve biografia, comentários sobre alguns trechos dos dois Testamentos, o Catecismo Menor para pastores e pregadores indoutos e, uma preciosidade, uma seleção de hinos compostos por Martinho Lutero, com a transcrição de letra e partitura.

BÍBLIA DE ESTUDO DA REFORMA
Tradução: Almeida Revista e Atualizada
Editora: Sociedade Bíblica do Brasil (2.304 págs.,R$ 159,90)



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