Na semana passada, por uma dessas lamentáveis infelicidades da vida, eu estava passando na sala quando a TV estava sintonizada no telejornal noturno do SBT, de cujo nome não me lembro nem pretendo lembrar.
Parei para observar a matéria que era tristemente interessante, a tortura aplicada a um jovem numa unidade militar do Rio de Janeiro, que teve, como um dos seus lamentáveis resultados, a perda de um testículo pela vítima.
Foram 2 ou 3 minutos de um excelente material jornalístico, deve-se reconhecer, e a câmara voltou para a apresentadora Rachel Sheherazade, que - impávida - passou para a própria notícia como se ninguém tivesse acabado de ouvir o relato de uma barbárie.
Foi inevitável comparar a reação da moça com aquela que ela teve em 2014, quando, ao ver a tortura de um rapaz negro amarrado a um poste, chamou-o de "marginalzinho" e lançou a campanha "adote um bandido!" num discurso fascista típico do seu raciocínio rasteiro e troglodita travestido de "evangélico", já que é assim que ela - religiosamente - se apresenta.
A repercussão foi tão negativa que até Silvio Santos, patrão e incentivador de Sheherazade, com medo de perder seu ganha-pão (a concessão de TV que ele ganhou bajulando a ditadura militar) fez a justiceira paraibana se calar a partir de então, e - parafraseando o jogador e senador Romário -, Rachel calada é uma poeta, não é mesmo?
Sheherazade se calou, o tempo passou, e no último domingo, na entrega do tal Troféu Imprensa, uma bobagem também patrocinada por Sílvio Santos e sua caricata rede de televisão, numa conversa ao vivo com a apresentadora, Silvio Santos disse, sem mais nem menos, que ela era paga por ser bonita, para ler notícias e não para dar opinião.
Foi o suficiente para que as redes sociais explodissem contra o discurso machista do magnata da TV, dito em tom de brincadeira, mas já invadindo as raias do escárnio, assim como as opiniões que a sua funcionária emitia quando ainda podia falar besteiras.
De fato, mesmo sendo alguém afeita aos mesmos arroubos fascistas, é muito constrangedor que Rachel Sheherazade seja exposta a este ridículo discurso retrógrado que reduz a mulher profissional a um objeto de prazer mórbido, um arremedo de subserviência, achincalhando-lhe a honra e a dignidade.
Quem sabe, ao experimentar do próprio veneno, Rachel não começa a pensar nos outros como seres humanos dignos de um mínimo de respeito, não é mesmo?