sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Diário de um lunático - 3

20/02/2007

Olá para todos, meu nome é Pedro, já devem ter ouvido falar de mim.
Hoje é o último dia de carnaval, e resolvi escrever um pouco sobre meus dias neste feriado. Não me levem a mal, para mim o carnaval é uma total perda de tempo. No entanto, estive muito bem acompanhado no feriado, e por motivos de força maior acabei parando no meio da folia.
As chances de eu participar de tais festanças é nula, e não se perguntem se eu estou preocupado de ter participado mesmo não gostando. Uma das vantagens de não se possuir ligações religiosas é não ter compromissos morais. Você faz suas regras. Geralmente se copia de religiosos as regras mais "humanas", condenando aquelas que te proíbem de participar de festas e outras orgias.
Orgia era um bom nome para aquela festança... É incrível como aquele povo sabe pular como se fossem pipocas saltitando na panela. É incrível também como bebem! Parece haver uma cultura onde o homem deve beber até ficar tonto. Há alguns que dizem que se não for para ficar tonto, então não vale a pena beber. O bom é ficar tonto. Afinal de contas, qual é a graça de não se lembrar de nada? Não seria melhor ficar dormindo em casa?
Bem, infelizmente perdi minha companhia no meio da festa. Bem feito para mim, é o que dá procurar moças farristas. Elas possuem uma consciência moral mais flexível que eu, não ligam muito se arrastaram alguém para uma festa que ele não gosta, e o deixam pra lá depois que descobrem que ele só tem 10 reais e a chave do portão de casa no bolso.
Por isto, resolvi abandonar o barco. E como é complicado passar por aquela multidão! Aquilo era um perfeito campeonato de palhaços. Todos eles querendo aparecer mais e ser mais engraçados. Alguns andavam somente de roupas íntimas, se vangloriando das horas passadas na academia, o que me levou a pensar que aquilo era uma real exposição agropecuária de homens, só faltou o leilão.
Chegando do lado de fora, havia uma total anarquia. Lá dentro tocava axé, mas do lado de fora, tocava qualquer coisa. Música eletrônica, sertaneja, funk, e.... um estranho grupo tocava ali também... Me aproximei para entender aquela cena grotesca, e entender a letra da música...
Muito me surpreendi quando descobri que eram cristãos evangélicos. Estavam tocando uma espécie de rock gospel, ou pelo menos tentando. Enquanto isto, algumas moças distribuíam panfletos. A cantora era realmente desafinada, mas tinha muito empenho. Realmente, algo que jamais esperava.
Uma das grandes críticas contra o cristianismo sem dúvida é que ele se "apoderou" das festas pagãs e as transformou em cristãs. Pelo visto, os olhares evangélicos pairam sobre a última festa pagã. E como um dia Paulo, o apóstolo, se fez de judeu para conquistar os judeus, e grego para conquistar os gregos, aqueles jovens estavam se tornando mundanos para conquistar os mundanos. Havia alguma coisa de errado nisto, e eu estava tentando definir o quê. Eu imaginei como seria se os cristãos primitivos fossem tocar harpa durante as Saturnálias, e cheguei à conclusão que ninguém teria dado atenção a eles. De fato, naquele carnaval, ninguém estava dando atenção para aqueles jovens, além deles mesmos.
O que eu entendo por cristianismo é que deveria causar uma mudança na vida das pessoas, agora as pessoas é que estão mudando o cristianismo, para continuar com a mesma vida. É uma inversão interessante de valores, talvez por isto ninguém dava atenção àquele grupo. Eles mesmos estavam demonstrando que não davam valor aos seus valores.
Mas este tipo de coisa não acontecia só ali não. Já tinha visto muitos programas evangélicos pela TV, e outras coisas do tipo. Me lembro que a palavra "profético" era proferida como um mantra. Tudo tinha que ser profético, para garantir aos ouvintes que era o próprio Deus quem estava assinando em baixo. Outra vez estava no ônibus e um grupo de 4 rapazes gritava histericamente sobre um encontrão que era tremendo... Eu estou tremendo até agora só de pensar... A fogueira santa de Israel prometia queimar o dinheiro excedente dos fiéis, e por isto tinha que ser em Israel. Quanto mais longe, mais fácil deste dinheiro se perder por aí.
Deixei aqueles jovens com seus shows, e fui embora, pensativo.
Eu sou Pedro, e certamente a minha ex-companhia não vai mais ouvir falar de mim.

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