Muitas vezes, nos textos que leio e nos debates que travo pelas vias da Internet, me deparo com algumas colocações ofensivas ao cristianismo, que me deixam indignado pela argumentação rasteira de quem, por exemplo, quer comparar religiões fálicas com a religião cristã apenas pelo lado jocoso da alegoria erótica, o que está mais para um deboche, do que propriamente um argumento sério de quem realmente esteja querendo debater racionalmente um assunto tão delicado. Relevada essa circunstância, mesmo que um falo seja adorado, como em muitas religiões fálicas que existiram e ainda existem por aí, o fato é que o ídolo de pedra tem algum significado transcendente, e quem é que vai definir o que seja transcendência, se os antropólogos até hoje não conseguem definir conclusivamente o que é religião? No caso do falo, pode ser a fertilidade, a colheita, assim como alguém pode adorar o sol ou a lua, mas obviamente vê um significado além do objeto que está sendo adorado. E o amor por um filho, por uma mãe, por um animal, por um homem ou uma mulher? É apenas instintivo, racional, utilitário, ou envolve algum nível de transcendência? Ninguém deve ser considerado maior ou menor por adorar algo ou alguém, embora o exemplo de muitos cristãos (e ateus) desminta muitas vezes essa afirmação.
O cristianismo nunca se pretendeu original, mesmo havendo muitos cristãos que se sintam mais originais que o próprio Cristo. Pelo contrário, a idéia de um Deus que desce à Terra e se mistura ao povo na forma humana, mostra exatamente como este Deus dá importância à cultura humana e ao convívio em sociedade. Poderia ser um Deus que descesse no centro do maior império que a Terra já viu, mas preferiu a periferia. Poderia ser um Deus que se alegrasse no sacrifício ritual de vidas humanas, mas é um Deus que se oferece Ele próprio ao sacrifício. É um Deus que se relaciona, sofre, ri, chora, vive e morre. A idéia de um Deus Absoluto (não uma fênix) que se aniquila a Si mesmo, ressuscita e perdoa, pode até não ser original na história da humanidade, mas é, pelo menos, diferente. E não nos inspira por ser original ou diferente, mas porque, de alguma maneira, nos vemos participantes deste sacrifício divino, seja como carrascos, seja como vítimas. A sua mensagem nos toca, nos comove e nos move pela fé, e pedimos desculpas por não podermos explicar, racionalmente, o que sentimos e vivemos quando nos deparamos com a cruz. Talvez sejamos todos doidos, mas é uma loucura tão lúcida que as palavras não alcançam uma definição.
Talvez, retornando no tempo, o simples fato de não haver registro de um povo que não se relacionasse misticamente com a natureza, ou que não tivesse uma mínima representação do divino nos seus rituais, mostra que, de alguma forma, o ser humano sempre esteve ligado a algum tipo de crença, por mais simples que fosse, e esta crença fazia parte de um patrimônio cultural dividido por todos os povos que, ainda que precariamente, se comunicavam àquela época. A religião pode ter sido manipulada pelos líderes do grupo social que dava seus primeiros passos, mas deve ter servido para que aquele grupo sobrevivesse. Ainda que este seja um campo sem certezas do conhecimento humano, o fato é que os antropólogos e sociólogos identificam no temor dos desastres naturais uma possível origem do sentimento religioso. Assim, ao que parece, a religião surgiu antes para defesa do que para ataque, antes para preservação da espécie do que para submissão e aniquilação das demais. De qualquer maneira, isto serviu para unir o grupo e ajudá-lo a superar as intempéries e os perigos do mundo em que viviam. Talvez tenha ocorrido, a contragosto de criacionistas e evolucionistas, uma seleção natural pela religião.
O cristianismo está devidamente situado num contexto histórico, mas o transcendeu, dando importantes contribuições à sociedade. É muito cômodo olhar no retrovisor atual e apontar apenas os erros do passado, que são muitos e ninguém os nega. O cristianismo tem o seu diferencial, sim, e o seu diferencial talvez também possa ser explicado em termos paradoxais.... o cristianismo, mediante a derrota do seu líder, venceu! E a Bíblia narra isso, a meu ver, de maneira irônica, quando mostra que, no cenário desolador da crucificação, a única pessoa que entendeu essa vitória na derrota, além de Jesus, foi o ladrão crucificado ao seu lado, o único que creu numa transcendência naquele dia. Eu acho curioso, pra não dizer engraçado, que muitos estudiosos apontem como determinado grupo se sobrepôs a outros e atingiu a supremacia em determinada situação histórica, geralmente apontando o processo pelo qual isso aconteceu, ressaltando as suas qualidades (já que eu nunca vi um grupo que só tivesse defeitos e durasse muito), e quando chega ao cristianismo, só tacam pedras. Nós somos os estúpidos, os violentos, os bandidos, os assassinos, os canalhas, os pervertidos que dominaram o mundo e não contribuímos com nada. Não que não haja gente dessa espécie entre nós, mas será que somos todos assim, um bando de imbecis que não raciocinam e que apenas escolhem aleatoriamente um ídolo de pedra pra chamar de "deus"? Será que não temos motivos nobres para crer em Cristo?
Ainda que alguém questione a historicidade de Jesus, o fato é que a probabilidade de 12 galileus proscritos terem inventado uma história como esta na Palestina poeirenta daqueles tempos, é ínfima. O fato de terem apresentado um Jesus que afrontava os sacerdotes corruptos, ameaçava o maior império que a humanidade conheceu, e ainda entrava em contato com os pobres, e, principalmente, com os doentes e as mulheres, numa época em que isso equivalia a assinar o atestado de óbito de si próprio e da religião, é ainda mais surpreendente. Eles podiam ter apresentado um grande filósofo de nobre descendência pregando o Sermão da Montanha, mas, não, apresentaram um carpinteiro desconhecido com uma mensagem que até hoje transforma vidas, dizendo para não sucumbir à ansiedade, não reagir à violência, não ambicionar riquezas que não podem ser conservadas. Se é que inventaram um mito nessas circunstâncias, foram os melhores marketeiros que o universo conheceu. O fato de um Deus que se apresenta em carne e osso, sem perder sua divindade, e mesmo assim se submete a um martírio de cruz, e ainda inventa uma história absurda de ressuscitar 3 dias depois, contra tudo e contra todos, causa gargalhadas entre os gregos de Atenas (e a Bíblia assim o registra em Atos 17), e essas idéias tresloucadas ainda dão tão certo, que conseguem convencer e converter o Império Romano de língua latina, cultura grega, e um politeísmo gigantesco, em 200 anos, é algo inimaginável. Talvez haja histórias parecidas, mas por alguma estranha razão, essas idéias, tidas como absurdas, triunfaram. Sim, é verdade, entre eles havia impostores, canalhas, aproveitadores, mas também havia gente da melhor qualidade, que soube preservar a essência da mensagem de Jesus, histórico ou não, e, afinal, a escória da humanidade do século I transformou o mundo contra todas as adversidades.
O cristianismo nunca se pretendeu original, mesmo havendo muitos cristãos que se sintam mais originais que o próprio Cristo. Pelo contrário, a idéia de um Deus que desce à Terra e se mistura ao povo na forma humana, mostra exatamente como este Deus dá importância à cultura humana e ao convívio em sociedade. Poderia ser um Deus que descesse no centro do maior império que a Terra já viu, mas preferiu a periferia. Poderia ser um Deus que se alegrasse no sacrifício ritual de vidas humanas, mas é um Deus que se oferece Ele próprio ao sacrifício. É um Deus que se relaciona, sofre, ri, chora, vive e morre. A idéia de um Deus Absoluto (não uma fênix) que se aniquila a Si mesmo, ressuscita e perdoa, pode até não ser original na história da humanidade, mas é, pelo menos, diferente. E não nos inspira por ser original ou diferente, mas porque, de alguma maneira, nos vemos participantes deste sacrifício divino, seja como carrascos, seja como vítimas. A sua mensagem nos toca, nos comove e nos move pela fé, e pedimos desculpas por não podermos explicar, racionalmente, o que sentimos e vivemos quando nos deparamos com a cruz. Talvez sejamos todos doidos, mas é uma loucura tão lúcida que as palavras não alcançam uma definição.
Talvez, retornando no tempo, o simples fato de não haver registro de um povo que não se relacionasse misticamente com a natureza, ou que não tivesse uma mínima representação do divino nos seus rituais, mostra que, de alguma forma, o ser humano sempre esteve ligado a algum tipo de crença, por mais simples que fosse, e esta crença fazia parte de um patrimônio cultural dividido por todos os povos que, ainda que precariamente, se comunicavam àquela época. A religião pode ter sido manipulada pelos líderes do grupo social que dava seus primeiros passos, mas deve ter servido para que aquele grupo sobrevivesse. Ainda que este seja um campo sem certezas do conhecimento humano, o fato é que os antropólogos e sociólogos identificam no temor dos desastres naturais uma possível origem do sentimento religioso. Assim, ao que parece, a religião surgiu antes para defesa do que para ataque, antes para preservação da espécie do que para submissão e aniquilação das demais. De qualquer maneira, isto serviu para unir o grupo e ajudá-lo a superar as intempéries e os perigos do mundo em que viviam. Talvez tenha ocorrido, a contragosto de criacionistas e evolucionistas, uma seleção natural pela religião.
O cristianismo está devidamente situado num contexto histórico, mas o transcendeu, dando importantes contribuições à sociedade. É muito cômodo olhar no retrovisor atual e apontar apenas os erros do passado, que são muitos e ninguém os nega. O cristianismo tem o seu diferencial, sim, e o seu diferencial talvez também possa ser explicado em termos paradoxais.... o cristianismo, mediante a derrota do seu líder, venceu! E a Bíblia narra isso, a meu ver, de maneira irônica, quando mostra que, no cenário desolador da crucificação, a única pessoa que entendeu essa vitória na derrota, além de Jesus, foi o ladrão crucificado ao seu lado, o único que creu numa transcendência naquele dia. Eu acho curioso, pra não dizer engraçado, que muitos estudiosos apontem como determinado grupo se sobrepôs a outros e atingiu a supremacia em determinada situação histórica, geralmente apontando o processo pelo qual isso aconteceu, ressaltando as suas qualidades (já que eu nunca vi um grupo que só tivesse defeitos e durasse muito), e quando chega ao cristianismo, só tacam pedras. Nós somos os estúpidos, os violentos, os bandidos, os assassinos, os canalhas, os pervertidos que dominaram o mundo e não contribuímos com nada. Não que não haja gente dessa espécie entre nós, mas será que somos todos assim, um bando de imbecis que não raciocinam e que apenas escolhem aleatoriamente um ídolo de pedra pra chamar de "deus"? Será que não temos motivos nobres para crer em Cristo?
Ainda que alguém questione a historicidade de Jesus, o fato é que a probabilidade de 12 galileus proscritos terem inventado uma história como esta na Palestina poeirenta daqueles tempos, é ínfima. O fato de terem apresentado um Jesus que afrontava os sacerdotes corruptos, ameaçava o maior império que a humanidade conheceu, e ainda entrava em contato com os pobres, e, principalmente, com os doentes e as mulheres, numa época em que isso equivalia a assinar o atestado de óbito de si próprio e da religião, é ainda mais surpreendente. Eles podiam ter apresentado um grande filósofo de nobre descendência pregando o Sermão da Montanha, mas, não, apresentaram um carpinteiro desconhecido com uma mensagem que até hoje transforma vidas, dizendo para não sucumbir à ansiedade, não reagir à violência, não ambicionar riquezas que não podem ser conservadas. Se é que inventaram um mito nessas circunstâncias, foram os melhores marketeiros que o universo conheceu. O fato de um Deus que se apresenta em carne e osso, sem perder sua divindade, e mesmo assim se submete a um martírio de cruz, e ainda inventa uma história absurda de ressuscitar 3 dias depois, contra tudo e contra todos, causa gargalhadas entre os gregos de Atenas (e a Bíblia assim o registra em Atos 17), e essas idéias tresloucadas ainda dão tão certo, que conseguem convencer e converter o Império Romano de língua latina, cultura grega, e um politeísmo gigantesco, em 200 anos, é algo inimaginável. Talvez haja histórias parecidas, mas por alguma estranha razão, essas idéias, tidas como absurdas, triunfaram. Sim, é verdade, entre eles havia impostores, canalhas, aproveitadores, mas também havia gente da melhor qualidade, que soube preservar a essência da mensagem de Jesus, histórico ou não, e, afinal, a escória da humanidade do século I transformou o mundo contra todas as adversidades.
E, diga-se de passagem, não ganharam o mundo fazendo o mal, mas sofrendo-o. A chance de um bando de judeus convertidos a Cristo, perseguidos por Roma e pelos próprios irmãos, saindo pelo mundo pregando o evangelho, e ainda assim conseguindo expandir sua crença, é de uma impossibilidade gritante. Se é verdade que o Império Romano, de alguma maneira, absorveu o cristianismo a partir do séc. IV, não se pode negar que esse mesmo cristianismo cresceu por si só, sem contar com a ajuda de ninguém. Ao contrário, pagou com muitas vidas para que aquela mensagem, que a muitos causava riso, chegasse a todo o mundo conhecido de então. O Império Romano não inventou o cristianismo, mas, diante de um fato consumado, amalgamou-se com a nova religião. Se isto prejudicou e contaminou a Igreja, é outra história, mas pelo menos permitiu que o cristianismo moldasse a civilização ocidental à sua imagem e semelhança.
Para a filosofia greco-romana, não havia duas questões hoje básicas no que diz respeito à justiça filosófica e à justiça como direito vigente: a vontade e a misericórdia. Até então, a justiça – de cunho aristotélico - era basicamente distributiva ou retributiva. Distributiva nas questões civis básicas, quando distribuía a cada um o que correspondia ao seu direito. E retributiva principalmente nas questões criminais, em que a sociedade retribuía, em geral, o mal com o mal. O cristianismo contribuiu com a idéia da vontade (que era estranha para os gregos, já que eles não diferenciavam a intenção da atitude, ou seja, o que importava era o agir, não o "querer agir"), e também com a idéia do perdão. O delito devia, de alguma forma, ser perdoado. A pena para o crime tinha que considerar esses dois elementos, intenção e perdão, para que não fosse apenas retributiva. Talvez, se não houvesse cristianismo, hoje estaríamos ainda no período da retribuição, crucificando ladrões de galinha e quem matou por acidente, sem intenção. A religião cristã institucionalizada perpetrou muitos erros e violências, isso é verdade, não há como negar. Mas nem tudo foram pedras. Talvez nós não tivéssemos acesso universal à educação hoje, se Lutero não tivesse iniciado o movimento pela educação pública na Alemanha do século XVI, através de escolas públicas de qualidade, nem incentivado a impressão da Bíblia, tudo com o fim de democratizar o conhecimento. Talvez nós não tivéssemos hoje uma ciência avançada se não fosse o fato de Tomás de Aquino, inspirado pelos filósofos mulçumanos, entre eles Averrois, ter ressuscitado os métodos e ensinamentos de Aristóteles no Ocidente, o que serviu para o renascimento da cultura e o progresso da ciência, contra os próprios interesses da Igreja medieval. Talvez nós tivéssemos hoje um contingente muito maior de miseráveis, se o cristianismo não houvesse introduzido, desenvolvido, e praticado o conceito de caridade. Talvez ainda estivéssemos com crianças jogadas nas fábricas da revolução industrial, se a mesma Igreja cristã que, a princípio, apoiou essa atrocidade, não tivesse voltado atrás no fim do século XIX, e condenado esta prática. Talvez não tivéssemos hoje um mundo em que os direitos humanos são minimamente respeitados se não houvesse o retorno pós-2ª Guerra aos valores do Direito Natural etéreo, idealizado, filosófico, e profundamente influenciado pelo cristianismo.
O que dizer, então, do Islamismo, que não teria existido se, antes, não houvesse o judaísmo e o cristianismo, religiões com as quais forma o que o Profeta chamou de "Povo do Livro". Ainda que, hoje, se pense no Islã como patrocinador do terror (o que, de fato, não é), por muitos séculos o mundo foi influenciado pela sabedoria muçulmana, sobretudo na Filosofia e na Matemática. Os próprios algarismos que usamos hoje (1, 2, 3, ...) se chamam arábicos por causa desta influência. O budismo pode ter tido a sua importância no Oriente, mas não pode ser propriamente considerado como uma religião, como os próprios budistas insistem em afirmar, já que o ideal de cada ser humano deve ser aperfeiçoar-se a ponto de se tornar o seu próprio deus em forma humana, e atingir o seu nirvana. O budismo está mais para uma linda e respeitável filosofia de vida do que uma religião no sentido estrito da palavra.
Muitos nos criticam por nos inspirarmos na Bíblia, um livro que é repleto de belas histórias, mas não esconde as atrocidades e misérias humanas de toda sorte. Mas, que bom que ela é assim e revela a humanidade como ela é, bela, idealista, mas também depravada, carente de Deus, e não esconde os pecados daqueles de quem se deveria esperar outro comportamento que não a violência e o desprezo pelo outro. Davi podia ter pedido silêncio sobre a história do seu adultério e de como mandou matar Urias para encobri-lo, mas não, esse relato está lá para que vejamos que, mesmo assim, ele se arrependeu e foi perdoado. A Bíblia poderia ser um livro cheio de anjinhos assexuados de cachinhos dourados, cantando e tocando lira, voando de nuvem em nuvem, mas ela é o que é, um produto humano, de homens e mulheres que cremos que foram inspirados por Deus para relatar a história do relacionamento entre o Ser Divino e os seres humanos, com todas as cores, belas ou feias, que marcaram essa trajetória.
Enfim, o cristianismo não é um lixo. Podem até chamar-nos de vanguarda do atraso, mas contribuímos para a formação do mundo atual, não só no que ele tem de ruim, mas, principalmente, no que tem de bom. Não somos seres humanos de segunda classe. A sua história tem graves erros, mas nunca deixou de preservar a beleza da vida humana como centro da sua pregação. E, justamente, por ser uma religião de seres humanos, não foi imune às misérias da vida em sociedade. Se há fanáticos entre nós, perdoem-nos, mas reconheçam que o fanatismo não é exclusividade cristã. Se há ladrões e aproveitadores entre nós, perdoem-nos, mas pelo menos reconheçam que não temos culpa se a sociedade pós-moderna não preza mais os valores como educação, solidariedade, e ética, que sempre pregamos e muitas vezes praticamos com tanta ênfase. Cada um crê ou descrê no que quiser. Se é verdade que, em nome de Cristo, civilizações e seus monumentos foram destruídos, vidas preciosas se perderam em vão, regimes ateístas também mataram milhões de seres humanos, e monumentos antigos e belíssimos como a Catedral de Cristo Salvador, da Praça Vermelha, em Moscou, hoje felizmente reerguida, foram destruídos em nome do ódio à religião. Os ateus não podem ser genericamente considerados culpados pela insanidade de alguns infelizes que utilizaram a descrença como razão para a manipulação de uma sociedade inteira. Ateus e cristãos não são imunes ao erro e à maldade de quem, em seus nomes, queira dominar o mundo.
Nós, cristãos, não somos todos imbecis, mas também não somos os mais iluminados do mundo. Não somos piores nem melhores do que ninguém. Se parte da nossa história como instituição neste planeta nos envergonha, outra parte nos enche de santo orgulho. Somos apenas seres humanos - iguais a todos os demais - que têm uma maneira diferente de encarar o mundo e o que o transcende. Adoraríamos explicar o que é fé, mas não conseguimos fazê-lo nem pra nós mesmos. Às vezes erramos, às vezes acertamos, mas queremos apenas um mundo melhor. E nisso, felizmente, estamos acompanhados de ateus, muçulmanos, budistas, xintoístas, judeus, e um monte de gente legal disposta não a esquecer, mas a superar as diferenças em prol de um bem comum, que deve (ou deveria) ser o nosso legado para este pequeno globo que insiste em vagar na imensidão do Universo. Nisso tudo, somos apenas humanos. Por isso, perdoem-nos se alguns lobos dentre nós se aproveitam dos outros. Não nos culpem por isso. Cada um de nós que nos trai, nos faz tão vítimas como vocês. Não culpem o engenheiro que projetou o carro que o motorista bêbado dirigia, ou que o ladrão matou alguém para roubá-lo. Não desejamos, porém, que o mundo nos agradeça por termos contribuído para a constituição da civilização ocidental democrática, só queremos que saibam que fizemos o possível dentro de nossa debilidade, e talvez algum dia alguém reconheça que, sem os cristãos, o mundo hoje podia estar bem pior.