As últimas décadas da Igreja cristã no Brasil e no mundo têm sido marcadas pelo (re)aparecimento de teologias novidadeiras e reinterpretações esdrúxulas e mal intencionadas de alguns textos bíblicos, com o fim de apresentar um “evangelho”consumista e utilitário, em que os fins justificam os meios, e o que importa é o resultado material conseguido aqui e agora por quem o pratica. Muitas igrejas vêm sendo contaminadas por estas aberrações hermenêuticas, e se afastam cada vez mais do rio de águas vivas que, apesar de todos os obstáculos, segue jorrando desde os tempos neotestamentários. Por isso, eu dedico especial atenção aos escritos dos primeiros cristãos, aqueles que estavam mais próximos, tanto geográfica como cronologicamente, dos (verdadeiros) apóstolos e do próprio Jesus. Aqueles irmãos queridos beberam de uma água mais limpa, de melhores fontes. Tiveram a magnífica oportunidade de participar da formação da Igreja cristã, ainda não institucionalizada como querem fazer crer os historiadores papais, e como Policarpo de Esmirna orou ao morrer no ano 160 d. C: “eu te louvo porque me julgaste digno deste dia e desta hora; digno de ser contado entre teus mártires, e de compartilhar do cálice de teu Cristo, para ressuscitar na vida eterna da alma e do corpo na incorruptibilidade do Espírito Santo.”.
Consultando, pois, os pais da Igreja, é muito interessante ver como eles interpretavam de uma maneira muito mais espiritual alguns textos que hoje são completamente desvirtuados pelos falsos profetas da prosperidade. Em sua obra “O Espírito e a Letra”, escrita por volta de 412 d. C., por exemplo, Santo Agostinho interpreta alguns textos que hoje são deturpados – de maneira totalmente diferente:
Ainda se pode investigar se o Apóstolo se refere à esperança da justiça pela qual a justiça espera ou pela qual a justiça é esperada. Pois, o justo, vivendo da fé, espera certamente a vida eterna, assim como a fé, que tem fome e sede de justiça pela renovação dia a dia do homem interior, aperfeiçoa-se e espera saciar-se dela na vida eterna, onde se realizará o que o salmo diz de Deus: É ele que sacia de bens a tua vida (Sl 103,5).
...
Portanto, é réu da condenação sob o seu poder aquele que despreza sua misericórdia quando chamado à fé. Mas a todo aquele eu acreditar e a ele se confiar para ser absolvido dos pecados, curando-se de todos os vícios, inflamado por seu calor e iluminado por sua luz, contará com sua graça para as boas obras. As boas obras o libertarão da corrupção da morte mesmo em seu corpo; será coroado, saciado de bens não temporais, mas eternos, além do que podemos pedir ou pensar (Ef 3,20).
O salmo referiu-se a estes mesmos favores divinos observando a mesma ordem, ao dizer: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios. É ele quem perdoa todas as tuas culpas, e que sara todas as tuas enfermidades. É ele quem resgata da morte a tua vida, e que te cora de misericórdia e de graça. É ele quem sacia de bens a tua vida (Sl 103,2-5). E para que a deformidade do homem velho, ou seja, de nossa mortalidade, não se desesperasse de alcançar estes bens, continua o salmo: Renova-se, como a da águia, a tua juventude. Como se dissesse: “Isso que ouviste diz respeito ao homem novo e ao Novo Testamento”. Considera comigo tudo isso um pouco, eu te peço, e contempla com prazer esse louvor à misericórdia, isto é, à graça de Deus.
(Santo Agostinho, “O Espírito e a Letra” (De Spiritu et Littera), caps. XXXII e XXIII, em “A Graça (I)”, Coleção Patrística, São Paulo: Paulus, 1998, pp. 85 e 88)
Felizmente ainda temos esses registros, verdadeiros testemunhos históricos da Igreja cristã, que mostram que a verdadeira prosperidade – para todos os cristãos de todas as eras - é viver uma vida ESPIRITUAL plena e completa, que se projeta para a eternidade na mais absoluta dependência de Deus.
Consultando, pois, os pais da Igreja, é muito interessante ver como eles interpretavam de uma maneira muito mais espiritual alguns textos que hoje são completamente desvirtuados pelos falsos profetas da prosperidade. Em sua obra “O Espírito e a Letra”, escrita por volta de 412 d. C., por exemplo, Santo Agostinho interpreta alguns textos que hoje são deturpados – de maneira totalmente diferente:
Ainda se pode investigar se o Apóstolo se refere à esperança da justiça pela qual a justiça espera ou pela qual a justiça é esperada. Pois, o justo, vivendo da fé, espera certamente a vida eterna, assim como a fé, que tem fome e sede de justiça pela renovação dia a dia do homem interior, aperfeiçoa-se e espera saciar-se dela na vida eterna, onde se realizará o que o salmo diz de Deus: É ele que sacia de bens a tua vida (Sl 103,5).
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Portanto, é réu da condenação sob o seu poder aquele que despreza sua misericórdia quando chamado à fé. Mas a todo aquele eu acreditar e a ele se confiar para ser absolvido dos pecados, curando-se de todos os vícios, inflamado por seu calor e iluminado por sua luz, contará com sua graça para as boas obras. As boas obras o libertarão da corrupção da morte mesmo em seu corpo; será coroado, saciado de bens não temporais, mas eternos, além do que podemos pedir ou pensar (Ef 3,20).
O salmo referiu-se a estes mesmos favores divinos observando a mesma ordem, ao dizer: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios. É ele quem perdoa todas as tuas culpas, e que sara todas as tuas enfermidades. É ele quem resgata da morte a tua vida, e que te cora de misericórdia e de graça. É ele quem sacia de bens a tua vida (Sl 103,2-5). E para que a deformidade do homem velho, ou seja, de nossa mortalidade, não se desesperasse de alcançar estes bens, continua o salmo: Renova-se, como a da águia, a tua juventude. Como se dissesse: “Isso que ouviste diz respeito ao homem novo e ao Novo Testamento”. Considera comigo tudo isso um pouco, eu te peço, e contempla com prazer esse louvor à misericórdia, isto é, à graça de Deus.
(Santo Agostinho, “O Espírito e a Letra” (De Spiritu et Littera), caps. XXXII e XXIII, em “A Graça (I)”, Coleção Patrística, São Paulo: Paulus, 1998, pp. 85 e 88)
Felizmente ainda temos esses registros, verdadeiros testemunhos históricos da Igreja cristã, que mostram que a verdadeira prosperidade – para todos os cristãos de todas as eras - é viver uma vida ESPIRITUAL plena e completa, que se projeta para a eternidade na mais absoluta dependência de Deus.