sábado, 6 de março de 2010

Malafaia muda o discurso

No seu programa televisivo desta manhã, Silas Malafaia disse que a campanha dos 100x foi um tremendo sucesso, e arrecadou milhões com as ofertas de seus telespectadores. Embora insista em dizer que “não liga para as críticas”, Malafaia mudou o discurso e fez um novo desafio, mas desta vez mais comedido, talvez por - isto é incrível! - ter lido as críticas que lhe foram feitas, e esteja preocupado com o rombo que a campanha dos 100x mais pode fazer na economia brasileira. Afinal, se todo mês ele “liberar uma palavra” de que – no prazo de um ano - os contribuintes vão ganhar 100 x mais que o dinheiro ofertado, a já combalida economia mundial entrará no mais profundo e duradouro colapso. Como se já não bastassem os bancos e os terremotos. Desta vez, Malafaia foi menos, digamos, dadivoso: “liberou a palavra” de que aquele que contribuir com o seu programa neste mês, vai ter cura das enfermidades, vitórias na Justiça, prosperidade meia-boca, assim meio genérica, etc., enfim, todas essas coisas que normalmente acontecem na vida de qualquer pessoa durante um ano. Cá entre nós, a campanha dos 100x parece ter mais apelo popular, já que todo mundo sabe que o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso, e poucas coisas na vida despertam mais as glândulas salivares do que o dinheiro fácil. Habacuque e os cassinos que o digam...

Malafaia ainda agradeceu algumas pessoas não crentes por serem grandes ofertantes, talvez esperando promover um concurso sobre quem contribui mais, os crentes ou descrentes. O fato é que ele sabe manipular como poucos a camuflada diferença que existe entre fé e vontade de crer. Ainda que este seja um tema que mereça ser mais aprofundado, ter fé – do ponto de vista cristão – é algo bem diferente da vontade de crer. A fé é espiritual, verdadeiro dom de Deus, que concede ao homem a capacidade de ver além dos limites físicos do mundo material, e assim enxergar a sua própria miséria. A vontade de crer é emocional, e pode ser dirigida a qualquer coisa, não necessariamente mística, como acontece, rotineiramente, no conto do bilhete premiado. No caso da “palavra liberada” por Malafaia hoje, por exemplo, de nada vai valer o juiz decidir o processo nos próximos meses, conforme ele mesmo se havia proposto, já que a parte vai entender isso como uma resposta à oferta ao pastor. Assim, fica fácil a “palavra liberada” funcionar, já que o autoengano está sempre a postos para convencer o autoenganado de que um fato corriqueiro da vida é um suposto milagre. E o pastor tem ainda o bônus de dizer que, se nada aconteceu, o ofertante não teve fé. Se nem percebem que o discurso do “imune a críticas” mudou, uai...

A experiência mostra que nem sempre é possível juntar a fé à vontade de crer, como acontece com suas primas distantes, a fome e a vontade de comer. Se bem que – pensando melhor - elas nem são tão distantes assim, já que tem muita gente na igreja querendo juntar essas duas últimas priminhas, né não?

5 comentários:

  1. Se um pastor muda a pregação constantemente, como faz o Silas, é porque não pregou a Palavra de Deus que é imutável.
    Aliás, muitos pastores televisivos estão escorregando feio por aventurarem em terreno escorregadio e deixando o 'firme fundamento'.

    Infelizmente isto se tornou regra. Eis uma boa exeção:
    Reverendo Hernades Dias Lopes.


    Hélio, parabéns pelo blog.

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  2. Obrigado pela visita e pelo comentário, Ricardo!


    E você lembrou muito bem o caráter imutável da Palavra de Deus. Que pena que muitos pastores não sigam este exemplo.

    Graça e paz!

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  3. Vim lá do Genizah e vi a citação do blog do "Dr. Hélio"!

    Um abraço!

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  4. oi, mano Vitor!

    o "Dr." é por conta deles.... rs

    abraço!

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  5. Prezado irmão Hélio,
    muito bem colocado pelo irmão. Estas mudanças somente mostram a face do camaleão que o Malafaia apresenta constantemente. Manipula muito bem as palavras e sabe jogar com a psicologia de massa. Observe o que virá por ai quando for veiculado a palavra do Murdock. Será algo de arrepiar, pois, considerado o sujeito mais sábio dos EUA. Observe se não vira um forte apelo financeiro no final ou em outra parte.
    Parabéns pela reflexão. Como sempre oportuna.
    Um abraço
    Em Cristo

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