Você provavelmente já ouviu (ou leu) relatos de pessoas que tiveram uma experiência de quase-morte e que contam que viram um túnel de luz, sentiram o corpo levitando ou ainda tiveram certas "visões" espirituais. Numa entrevista publicada na Folha de S. Paulo de 17/01/11, o neurologista americano Kevin Nelson fala sobre suas impressões sobre o fenômeno, acreditando que ele tenha razões muito mais cerebrais do que esotéricas:
Sonhos lúcidos explicam experiência de quase morte
NEUROLOGISTA AMERICANO CONTA EM LIVRO O QUE FAZ O CÉREBRO CRIAR AS IMAGENS DE TÚNEIS DE LUZ E A VISÃO EXTRACORPÓREA
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Túneis iluminados, espíritos e a sensação de que o corpo está levitando. As experiências de quem ficou entre a vida e a morte são o material de trabalho do neurologista Kevin Nelson. Para entender melhor o fenômeno, Nelson fez um estudo com 55 pessoas que relataram essas experiências e descobriu que, nelas, os limites entre os estágios da consciência são mais tênues. É o que ele relata em "The Spiritual Doorway in the Brain", livro lançado em dezembro nos EUA. O médico concedeu entrevista à Folha, por telefone.
Folha - Qual a explicação para o fenômeno da quase morte?
Kevin Nelson - Há no cérebro uma espécie de "interruptor" que alterna entre os estágios da consciência. Ao dormir, passamos pelos estágios de vigília, sono não REM e sono REM. Em algumas pessoas, a fronteira entre esses estágios não é tão marcada e, em momentos de crise, o estágio REM invade a vigília e causa os efeitos descritos nas experiências de quase morte.
Quais são esses momentos de crise?
Uma parada cardíaca, por exemplo. O "interruptor" que modula entre a vigília e o REM é uma parte essencial do sistema de reflexos do sistema nervoso. Quando o fluxo sanguíneo diminui no cérebro, acionamos esses reflexos, localizados numa área bastante primitiva do cérebro. É quando ocorrem as experiências de quase morte e nos movemos em direção às fronteiras entre a vigília e o REM. Em algumas pessoas, isso pode ficar misturado.
Essas experiência só ocorrem em situações extremas?
Sabemos que desmaios também podem desencadear a experiência de quase morte, pelos mesmos mecanismos: as pessoas se sentem em perigo e ocorre alteração da pressão sanguínea na cabeça. O fato fascinante é que um terço das pessoas desmaia em algum momento da vida, o que pode fazer dessas experiências algo mais comum do que se pensa.
Há algo diferente no cérebro das pessoas que têm essas sensações?
Em 2005, comecei a estudar pessoas com um histórico de quase morte. Depois de comparar 55 pacientes nessa situação com 55 outras pessoas que nunca passaram por isso, descobrimos que o primeiro grupo era mais suscetível a ter essa intromissão do sono REM na vigília.
Pessoas relatam luzes e a sensação de levitar. Por quê?
Se o fluxo sanguíneo está diminuindo na região da cabeça, diminui também nos olhos, deixando a visão borrada nas bordas e criando a impressão de que há um túnel com luzes. Já quanto às experiências extracorpóreas, sabe-se que ao "desligar" a região temporoparietal do cérebro, ligada à percepção espacial, podemos tirar a pessoa do seu corpo. Essa é a mesma área do cérebro que é "desligada" durante o REM.
E as alucinações?
Quando entramos no estágio REM, o cérebro ativa o mesmo mecanismo que produz os sonhos. Mas as alucinações da quase morte não são sonhos propriamente ditos, parecem mais sonhos lúcidos, porque ocorrem enquanto estamos conscientes.
Você já recebeu críticas por estudar cientificamente o que alguns julgam ser uma experiência espiritual?
Não estou interessado em saber por que o cérebro age de alguma forma ou por que esse "momento espiritual" ocorre, mas em como o cérebro trabalha. Se separamos o "por que" do "como", muito do conflito entre ciência e religião desaparece.
Sonhos lúcidos explicam experiência de quase morte
NEUROLOGISTA AMERICANO CONTA EM LIVRO O QUE FAZ O CÉREBRO CRIAR AS IMAGENS DE TÚNEIS DE LUZ E A VISÃO EXTRACORPÓREA
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Túneis iluminados, espíritos e a sensação de que o corpo está levitando. As experiências de quem ficou entre a vida e a morte são o material de trabalho do neurologista Kevin Nelson. Para entender melhor o fenômeno, Nelson fez um estudo com 55 pessoas que relataram essas experiências e descobriu que, nelas, os limites entre os estágios da consciência são mais tênues. É o que ele relata em "The Spiritual Doorway in the Brain", livro lançado em dezembro nos EUA. O médico concedeu entrevista à Folha, por telefone.
Folha - Qual a explicação para o fenômeno da quase morte?
Kevin Nelson - Há no cérebro uma espécie de "interruptor" que alterna entre os estágios da consciência. Ao dormir, passamos pelos estágios de vigília, sono não REM e sono REM. Em algumas pessoas, a fronteira entre esses estágios não é tão marcada e, em momentos de crise, o estágio REM invade a vigília e causa os efeitos descritos nas experiências de quase morte.
Quais são esses momentos de crise?
Uma parada cardíaca, por exemplo. O "interruptor" que modula entre a vigília e o REM é uma parte essencial do sistema de reflexos do sistema nervoso. Quando o fluxo sanguíneo diminui no cérebro, acionamos esses reflexos, localizados numa área bastante primitiva do cérebro. É quando ocorrem as experiências de quase morte e nos movemos em direção às fronteiras entre a vigília e o REM. Em algumas pessoas, isso pode ficar misturado.
Essas experiência só ocorrem em situações extremas?
Sabemos que desmaios também podem desencadear a experiência de quase morte, pelos mesmos mecanismos: as pessoas se sentem em perigo e ocorre alteração da pressão sanguínea na cabeça. O fato fascinante é que um terço das pessoas desmaia em algum momento da vida, o que pode fazer dessas experiências algo mais comum do que se pensa.
Há algo diferente no cérebro das pessoas que têm essas sensações?
Em 2005, comecei a estudar pessoas com um histórico de quase morte. Depois de comparar 55 pacientes nessa situação com 55 outras pessoas que nunca passaram por isso, descobrimos que o primeiro grupo era mais suscetível a ter essa intromissão do sono REM na vigília.
Pessoas relatam luzes e a sensação de levitar. Por quê?
Se o fluxo sanguíneo está diminuindo na região da cabeça, diminui também nos olhos, deixando a visão borrada nas bordas e criando a impressão de que há um túnel com luzes. Já quanto às experiências extracorpóreas, sabe-se que ao "desligar" a região temporoparietal do cérebro, ligada à percepção espacial, podemos tirar a pessoa do seu corpo. Essa é a mesma área do cérebro que é "desligada" durante o REM.
E as alucinações?
Quando entramos no estágio REM, o cérebro ativa o mesmo mecanismo que produz os sonhos. Mas as alucinações da quase morte não são sonhos propriamente ditos, parecem mais sonhos lúcidos, porque ocorrem enquanto estamos conscientes.
Você já recebeu críticas por estudar cientificamente o que alguns julgam ser uma experiência espiritual?
Não estou interessado em saber por que o cérebro age de alguma forma ou por que esse "momento espiritual" ocorre, mas em como o cérebro trabalha. Se separamos o "por que" do "como", muito do conflito entre ciência e religião desaparece.
THE SPIRITUAL DOORWAY IN THE BRAIN
Kevin Nelson
EDITORA Dutton
QUANTO US$ 16,77 (R$ 28,31), na Amazon (336 págs.)