
Esta ideia da aflição como uma etapa necessária do crescimento espiritual do cristão é recorrente nas Escrituras. No Novo Testamento, Paulo retoma este tema:
Romanos 5:
3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
2ª Coríntios 1:
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação,
4 que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
5 Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por meio de Cristo transborda a nossa consolação.
Logo, o cristão não deve fugir das aflições e tribulações a todo custo, ou ver nelas uma negativa peremptória do socorro divino. O próprio salmista apela a Deus dizendo: “olha para a minha aflição, e livra-me, pois não me esqueço da tua lei” (Salmo 119:153). Neste caso ele não estava sendo afligido por haver-se desviado (v. 67) ou para que aprendesse a lei como havia dito no v. 71, mas mesmo não se esquecendo dela, estava passando por aflição e clamava a Deus por livramento. Este sentimento fica mais explícito no v. 143, quando confessa que “tribulação e angústia se apoderaram de mim; mas os teus mandamentos são o meu prazer”. Nada mais contundente, portanto. Mesmo com tribulação e angústia “tomando posse” do salmista, a Palavra de Deus continuava sendo o seu grande prazer, algo completamente diferente do que se ensina nas igrejas hoje como “tomar posse”. Na tribulação e na angústia, o salmista encontrava prazer nos mandamentos de Deus, não porque os havia transgredido antes, mas por aceitar que o sofrimento e a dor faziam parte do seu crescimento espiritual. Guardadas as devidas proporções, sua atitude se assemelha àquela que Paulo atribui a Abraão, que “à vista da promessa de Deus, não vacilou por incredulidade, antes foi fortalecido na fé, dando glória a Deus, e estando certíssimo de que o que Deus tinha prometido, também era poderoso para o fazer” (Romanos 4:20-21). Palavra de Deus também é promessa, e bem-aventurado aqueles que a guardam, respeitam e esperam, mesmo na aflição, como diz o salmista no Salmo 91: “Quando ele me invocar, eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei, e o honrarei”. Poucos percebem que Deus promete estar com o crente durante seu período de angústia. Dure o que durar, haverá livramento, mas principalmente incessante companhia divina antes, durante e depois. O Salmo 119 (vv. 49-50) também proclama esta verdade: "Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, na qual me tens feito esperar. O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica". Basta crer na Palavra-Promessa de Deus. Ele não te desampara e não te deixa atravessar sozinho a aflição. E se for difícil crer, siga o conselho de Abraão para fortalecer a sua fé: louve!
Para um comentário mais aprofundado do Salmo 119, recomendo a leitura do texto de minha autoria que está no site e-cristianismo.