Foi um desastre o apoio entusiasmado de Silas Malafaia ao candidato (do PSDB) José Serra à prefeitura de São Paulo.
A avaliação não vem de nenhum opositor do PSDB, mas do próprio coordenador da campanha tucana, o deputado federal Edson Aparecido, que constatou que o partido perdeu uma semana falando da repercussão do caso do "kit gay", e não teve mais tempo de retomar o caminho que o havia levado a vencer o 1º turno.
Na entrevista dada ao site Terra, o deputado tucano tenta fazer parecer que a entrada do pastor carioca na campanha de Serra foi assim, digamos, uma "casualidade", como se Malafaia estivesse passando na frente do comitê, entrou para tomar um café e terminou gravando um apoio desinteressado.
Como se Malafaia já não tivesse virado a casaca nas eleições presidenciais de 2010, trocando Marina Silva (então no PV) pelo mesmo Serra.
O fato é que o depoimento hidrófobo de Malafaia, dizendo que ia "arrebentar" o candidato do PT, Fernando Haddad, pegou muito mal e eliminou qualquer possibilidade de José Serra reverter a tendência de alta na sua já astronômica taxa de rejeição aferida pelas pesquisas.
Não fazia qualquer sentido um pastor carioca querer polarizar uma eleição paulistana com qualquer candidato. Passou a impressão de que José Serra não tinha capacidade (ou vontade) de defender as próprias ideias, ou - pior - havia delegado a um "estrangeiro" a tarefa de atacar posições pelas quais ele tinha alguma simpatia.
Nem o recuo tucano na questão do kit gay, colocando Malafaia para escanteio quando ficou claro que o PSDB, na gestão Serra, já tinha distribuído material similar nas escolas, foi suficiente para dar ao candidato alguma sobrevida na eleição.
O estrago já estava feito.
E só agora o coordenador da campanha constata - ainda que não explicitamente - que o apoio de Malafaia foi um "abraço de afogado", afundando Serra na sua pregação do "arrebenta".
Ainda que tenha sido o grande prejudicado pelo apoio de Malafaia, José Serra não foi a única vítima do controverso aliado. Ratinho Júnior, candidato a prefeito de Curitiba (PR), também sentiu os terríveis poderes do abraço do pastor carioca e viu sua eleição virar fumaça.
Pelo menos, haverá um efeito pedagógico nessa tragédia anunciada: TODOS os partidos pensarão melhor antes de convocar um "pastor" qualquer para dar apoio aos seus candidatos.
O que o eleitorado de São Paulo mostrou foi que pastor ou igreja pode até tirar voto do adversário, mas pouco ou nada acrescenta a quem apoia. E, pior, dependendo do ranço e do ódio que transmita, pode terminar minando a base eleitoral do seu candidato.
Nas eleições proporcionais, uma denominação pode até eleger um vereador ou deputado (o que geralmente acontece), mas sua influência se dilui sensivelmente nas eleições majoritárias (para prefeito, governador, senador ou presidente).
E isso é uma péssima notícia para os "pastores" que estão sempre dispostos a negociar o apoio do seu rebanho em nome de um suposto capital político que acaba de ser desmentido pelas urnas paulistanas.
Resta saber se algum candidato vai buscar o apoio de Malafaia para as próximas eleições.
Depois do nocaute que ele recebeu de Fernando Haddad, vai ser difícil alguém querer tirar foto abraçado a ele.