sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Celebrando os 500 anos da Reforma com Lutero - parte 20


ENCARNAÇÃO: MARIA, MÃE DE DEUS

(para ler o texto anterior, clique aqui)

Dizemos de cada ser humano que ele come, bebe, digere, dorme, acorda, anda, fica parado, trabalha, etc., embora a alma não participe em nenhuma dessas atividades, mas apenas o corpo. Contudo, afirma-se isso da pessoa toda, que tem corpo e alma. Pois ele é um ser humano não só por causa do corpo, mas por causa do corpo e da alma. Por outro lado, também afirmamos que o ser humano pensa, inventa, aprende. Pois, de acordo com sua razão ou alma, ele pode tornar-se professor ou mestre, juiz, conselheiro ou governante. Nem o corpo nem qualquer um de seus membros lhe dá essa competência. No entanto, afirmamos: “Ele tem uma cabeça boa; é sensato, instruído, sábio, eloquente, artístico”. Dessa maneira, diz-se de uma mulher que ela está grávida, dá à luz e amamenta uma criança, embora não seja a alma, mas tão-só o corpo que faz dela uma mãe. Todavia, atribuímos isso à mulher toda. Igualmente, se alguém golpeia uma pessoa na cabeça, dizemos: “Ele bateu no João ou na Margareta”. Ou, quando um membro do corpo é lesionado ou ferido, pensamos na pessoa toda como estando machucada.

Estou empregando essas ilustrações simples para que se entenda como se devem separar na pessoa de Cristo as duas naturezas distintas e como, no entanto, isso deixa a pessoa inteira e indivisa. Tudo que Cristo diz e faz, tanto Deus quanto o homem dizem e fazem, mas cada palavra e cada ação estão de acordo com uma ou outra natureza. Aquele que observa essa distinção, encontra-se no caminho seguro e certo. Ele não será desencaminhado pelas ideias errôneas dos hereges, as quais provêm unicamente do fato de não reunirem o que pertence junto e constitui uma unidade, ou por não separarem e dividirem, apropriadamente, o que deve ser diferenciado.

Por isso, devemos nos ater ao discurso e às palavras da Escritura e reter e confessar a doutrina de que este Cristo é verdadeiro Deus, através de quem todas as coisas são criadas e existem, e, ao mesmo tempo, que este mesmo Cristo, Filho de Deus, nasce da virgem Maria, morre na cruz, etc. Ademais, Maria, a mãe, não carrega, dá à luz, amamenta e alimenta tão-somente o homem, tão-somente carne e sangue – pois isso seria dividir a pessoa -, mas ele carrega e alimenta um filho que é Filho de Deus. Por isso, ela é corretamente chamada não só a mãe do home, mas, também, a mãe de Deus. Isso, os antigos Pais ensinaram contra os nestorianos, que se opunham a que Maria fosse chamada de mãe de Deus e se recusavam a dizer que ela dera à luz o Filho de Deus.

Aqui, devemos ratificar com o nosso Credo: “Creio em Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus Pai, nosso Senhor, que nasceu da virgem Maria, sofreu, foi crucificado, morreu”. Ele é sempre o mesmo e único Filho de Deus, nosso Senhor. Por isso, é certo que Maria é a mãe do real e verdadeiro Deus. E os judeus não só crucificaram o Filho do Homem, mas, também, o verdadeiro Filho de Deus. Pois não quero um Cristo em que devo crer e a quem devo invocar como meu Salvador que seja apenas um ser humano. Nesse caso, eu estaria indo ao encontro do diabo, pois simples carne e sangue não poderiam extinguir o pecado, reconciliar a Deus e abolir sua ira, superar e destruir a morte e o inferno, e conceder a vida eterna.

(LUTERO, Martinho. Os capítulos 14 e 15 de S. João, pregados e interpretados pelo Dr. Martinho Lutero e Capítulo 16 de S. João, pregado e explicado. 1537-1538. Tradução de Hugo S. Westphal e Geraldo Korndörfer. MARTINHO LUTERO. Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia. Canoas: Ulbra, 2010, vol. 11, págs. 143-144)

(para ler a sequência do comentário de Lutero
sobre João 14:6 a, clique aqui)



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