sábado, 24 de abril de 2010

Dois papas, um cardeal pedófilo e uma canonização

Nunca se pode subestimar o poder do Vaticano "produzir" notícias que piorem as coisas para o papado. A se confirmar a notícia publicada pelos jornais britânicos The Times e Telegraph, não vai sobrar bispo em Roma pra contar a história. O pivô do escândalo da vez é o cardeal austríaco Hans Hermann Wilhelm Groër, que teria abusado sexualmente de 2.000 garotos (sim, você leu correto, DOIS MIL!). O cardeal Groër, falecido em 2003, aos 83 anos de idade, foi arcebispo de Viena de 1986 a 1995. Em 1995, o cardeal foi acusado de pedofilia por ex-alunos de um colégio católico. Groër se retirou do cargo no ano seguinte e se tornou abade do mosteiro de Roggendorf até 1998, quando novas acusações o fizeram ser liberado às pressas de todas as obrigações com a Igreja Católica. Internou-se em um convento, vindo a morrer de câncer em 2003. Entretanto, jamais foi punido quer pela lei da igreja, quer pela lei dos homens (já que a lei austríaca limita a investigação criminal contra certos cargos e funções). Michael Tfirst, hoje com 54 anos de idade, alega que já havia denunciado reiteradamente os abusos que sofreu do então bispo desde os anos 70. O fato é que nunca houve punição ao crime perpetrado por décadas pelo cardeal, senão o constrangimento público que o afastou de seu cargo. Seu sucessor em Viena, o cardeal Christoph Schönborn, cotado por muitos para ser o próximo papa, ao que tudo indica, sempre buscou - sem sucesso - uma punição exemplar ao antecessor, criticando a maneira como o caso foi tratado pela igreja. Em entrevista recente ao The Sunday Times, saiu em defesa do papa Bento XVI, dizendo que o conhece há 37 anos, e é testemunha de que, enquanto cardeal, Joseph Ratzinger fez todos os esforços possíveis para não acobertar o escândalo e investigá-lo amplamente, tendo sido barrado "pelo Vaticano", dando a entender que foi o papa João Paulo II que protegeu o cardeal Groër, bem como muitos outros sacerdotes pedófilos, já que a maioria dos casos - hoje conhecidos - aconteceram durante seu papado. Se por um lado a notícia melhora a reputação de Bento XVI, a celeuma lança dúvidas ao adiantado processo de canonização de João Paulo II, que, a julgar pelo andar da carruagem vaticana, corre o risco de ir para a geladeira, tal como aconteceu com muitos casos de pedofilia denunciados enquanto ele comandava a Igreja Católica.

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