segunda-feira, 5 de abril de 2010

A inocência perdida


Há imagens que valem por mil palavras, mas talvez sejam necessárias milhões de outras para - inutilmente - tentar explicá-las. A foto acima chamou a atenção do mundo na semana passada, e a minha em particular. Mostra um jovem casal que não existe mais. Se abstraíssemos as armas de suas mãos, talvez pudéssemos ver um certo ar de inocência da juventude. Se transcendêssemos nossos critérios ocidentais de beleza, talvez veríamos aí um bonito casal muçulmano com um futuro brilhante pela frente, que nós desejaríamos fosse belo. Infelizmente, não existe mais futuro pra eles, e o passado recente foi uma tragédia anunciada. Ele se chamava Umalat Magomedov, era líder dos separatistas islâmicos do Daguestão (república da Federação Russa, vizinha à Tchetchênia) e foi morto pela polícia russa no último mês de dezembro. Ela, Dzhanet Abdurakhmanova, tinha apenas 17 anos e, para se vingar da morte do noivo, suicidou-se com uma bomba atada ao corpo, levando junto dezenas de civis russos no atentado do metrô de Moscou no último dia 29 de março. Tiveram a triste sorte de nascer e crescer numa região em que violência, religião e política se confundem numa mistura fatal. À distância, podemos imaginar que eles tinham a possibilidade de escolher um caminho diferente, e certamente podiam ter feito isso, mas quem é capaz de entender e julgar com clareza a dor e a motivação do outro, que vive uma realidade tão distinta da nossa? A condição humana que nos une, entretanto, nos conduz a esta perplexidade diante do estúpido desperdício de vidas jovens e promissoras, que muito provavelmente nunca cruzariam com as nossas, mas poderiam ter tornado feliz o seu pequeno canto do mundo. Perdemos todos, enfim. Existe futuro pra nós?

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