segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A carta suicida de uma vítima de pedofilia

 ALERTA : NÃO RECOMENDAMOS que pessoas mais sensíveis, ou que estejam atravessando um período de forte depressão, leiam o texto abaixo sem o devido cuidado.

Caso sua curiosidade ou necessidade (perfeitamente justificável, diga-se de passagem) o(a) leve a ler o texto, faça-o, preferencialmente, com o auxílio (se possível) de outra pessoa (adulta na idade e nas emoções) que possa lhe ajudar a extrair ânimo e força de uma situação tão extrema.

Este é um dos artigos mais lidos do nosso blog, com dezenas de milhares de leitores, e chegamos a pensar em retirá-lo do ar, dada a gravidade do assunto e a nossa incapacidade de avaliar quem o lê, mas a repercussão positiva que ele atingiu, os comentários rigorosamente selecionados e aprovados (que estão abaixo do texto), e conversas com profissionais da área nos mostraram que este artigo tem um potencial enorme de ajudar pessoas que passam ou passaram por situações parecidas, razão pela qual preferimos mantê-lo no blog.

Recomendamos, portanto, que o(a) amigo(a) que nos dá o prazer de sua visita também leia os comentários que seguem mais abaixo. Eles foram de grande utilidade para pessoas que sofrem ou sofreram abusos e encontraram saídas para superar a dor emocional.

Feitas essas ressalvas, desejamos que você faça uma boa leitura se se sentir apto a tanto no momento, ou volte outro dia, se sentir que precisa se estruturar um pouco melhor, ou pedir a ajuda de alguém, para ler o texto com mais calma (e de maneira mais proveitosa) quando decidir que é o momento adequado de lê-lo.

A todos que nos visitam, o nosso agradecimento e àqueles que sofreram abusos de qualquer ordem, dedicamos o nosso desejo de que possam superá-los serenamente, o que é perfeitamente possível. 

Anime-se e não tenha vergonha alguma de procurar ajuda profissional. Você só tem a ganhar.

Caso não tenha recursos para tanto, busque os serviços públicos da sua cidade ou do seu bairro, eles também são muito bons.

Recomendamos também - como outra opção possível a seu critério - que você visite a página dos Neuróticos Anônimos (N/A) para verificar se existe atendimento deles (que é gratuito) na sua cidade ou região. 

Na página do N/A existe uma definição que eles dão para "neurótico". Não tenha nenhuma vergonha de se assumir como tal, pois a neurose é uma condição à qual todos nós estamos sujeitos e pela qual todos nós passamos em algum período da vida, e é absolutamente possível se livrar dela, não se desanime!

Se você preferir ou precisar urgentemente conversar com alguém, ligue grátis para o CVV  - Centro de Valorização da Vida (twitter @CVVoficial) de qualquer telefone público ou privado pelo número 188 em todo o Brasil, que do outro lado da linha vai haver uma pessoa capacitada para lhe ouvir e orientar.

Sim! Há esperança e há saída dessa situação extrema, como assegura a experiência de milhares (talvez milhões) de pessoas que tiveram forças para NÃO optar pela "não-solução" de Bill Zeller.

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Bill Zeller era o nome deste rapaz simpático na foto aí acima. Só que ele se matou no último dia 2 de janeiro, infelizmente. 

Na verdade Bill tentou o suicídio nesse dia, por enforcamento, e chegou a ser resgatado, mas não resistiu e faleceu na noite do dia 5/1, quarta-feira. 

Ele tinha 27 anos de idade, era programador e havia começado a fazer doutorado na área, na prestigiosa Universidade de Princeton (New Jersey), onde morava. 

Seria mais um dos lamentáveis suicídios que acontecem no mundo inteiro todo dia, se não fossem alguns detalhes sórdidos e - até então - secretos. 

É que Zeller publicou a sua carta de suicídio (que traduzi e publico abaixo) no Facebook, e também por e-mail aos amigos, e revelou ao mundo uma triste história que ninguém próximo conhecia: a de ter sido vítima de pedofilia. 

Pelo teor da carta, parece que os abusos começaram quando ele tinha 4 anos de idade, e lhe deixaram marcas profundas demais, realmente insuportáveis (dado o desfecho fatal). 

Soma-se a isso o fato de ter sido criado por uma família muito religiosa, que frequenta a Middletown Bible Church no Connecticut, onde seu pai é pastor-assistente há mais de 30 anos. 

Os pais o haviam expulsado de casa, segundo diz na carta, porque ele não queria frequentar esta igreja 7 horas por semana. 

Na carta em questão (a versão original pode ser lida clicando-se aqui), Zeller relata um pouco da dificuldade de relacionamento (especialmente pelo toque físico) e da confusão de sua persona sexual, como sequelas incontornáveis da pedofilia de que foi vítima. 

Não revela o nome do agressor, talvez por não conseguir sequer dizer o seu nome, por mais paradoxal que pareça esta atitude diante de uma medida tão extrema como a que ele tomou. 

Também conta que procurou profissionais para tratar dos seus problemas, mas nunca teve a coragem de contar sobre os abusos que sofrera, porque - basicamente - era incapaz de confiar o seu segredo mais íntimo e devastador a quem quer que fosse. 

Termina a carta dizendo que odeia seus pais e critica a maneira como a religião influenciou no seu relacionamento familiar. 

Enfim, é uma leitura difícil e dolorosa de um drama humano que não encontrou maneiras de se expressar e - inclusive - se ver pelos olhos dos outros, com algumas palavras chulas e blasfêmias que podem eventualmente ofender as pessoas mais sensíveis, mas é um testemunho que merece ser divulgado justamente para que as vítimas de pedofilia não tenham medo algum de procurar ajuda, contar o seu problema e inclusive nomear quem lhes perpetrou essa maldade. 

Também é um alerta para pessoas que têm amigos, relacionamentos e familiares que eventualmente possam ter um comportamento fora dos padrões "normais" da sociedade, para que tenham a compaixão e a sabedoria de identificar a oportunidade e poder ajudá-los a enfrentar as terríveis consequências do crime de que foram vítimas.



"Eu tenho o desejo de declarar a minha sanidade mental e justificar minhas ações, mas presumo que eu nunca vou ser capaz de convencer ninguém de que esta foi a decisão certa. Talvez seja verdade que quem faz isso é insano, por definição, mas posso pelo menos tentar explicar o meu raciocínio. Eu não considerei escrever nada disso por causa do quanto isto é pessoal, mas eu gosto de amarrar as pontas soltas e não quero que as pessoas fiquem se perguntando por quê eu fiz isso. Já que eu nunca falei com ninguém sobre o que aconteceu comigo, as pessoas provavelmente poderiam tirar conclusões erradas.

"Minhas primeiras memórias de infância são as de uma criança repetidamente violentada. Isto afetou todos os aspectos da minha vida. A escuridão, que é a única maneira que posso descrevê-la, seguiu-me como uma névoa, mas às vezes ficava densa demais e me esmagava completamente, geralmente desencadeada por uma situação aleatória qualquer. No jardim de infância eu não conseguia usar o banheiro e ficava petrificado sempre que eu precisava, o que iniciou em mim uma tendência de comportamento social bizarro e inexplicável. Os danos que foram feitos ao meu corpo ainda me impedem de usar o banheiro normalmente, mas agora é menos um impedimento físico do que propriamente um lembrete diário de que foi feito para mim.

"Essa escuridão me seguiu como eu cresci. Lembro-me de passar horas brincando com legos, sendo o meu mundo composto por mim e uma caixa de gelados blocos de plástico. Só esperando para que tudo terminasse. É a mesma coisa que eu faço agora, mas em vez de legos prefiro navegar na web, ler ou ver um jogo de beisebol. A maior parte da minha vida tem sido um sentimento de estar morto por dentro, esperando que o meu corpo chegue a este mesmo estado.

"Às vezes durante meu crescimento, eu sentia uma raiva inconsolável, mas eu nunca liguei isso ao que tinha acontecido até que atingi a puberdade. Eu era capaz de manter a escuridão de lado cada vez que isso acontecia, fazendo coisas que exigiam concentração intensa, mas as trevas sempre voltavam. Atraí-me por programação justamente por esta razão. Nunca fui particularmente apaixonado por computadores ou fã de matemática, e a paz temporária que isso me proporcionava era como uma droga. Mas a escuridão sempre voltava e fui construindo uma espécie de resistência, porque a programação foi se tornando cada vez menos um refúgio.

"As trevas me acompanham desde o momento em que eu acordo. Sinto-me como se uma sujeira estivesse me cobrindo. Sinto-me como se estivesse preço num corpo enlameado que nenhum ciclo de lavagem pudesse limpar. Sempre que eu penso sobre o que aconteceu eu começo a me coçar compulsivamente, e não consigo me concentrar em outra coisa. Isto se manifesta também na hora de comer, ficar acordado por dias seguidos, ou dormir direto durante dezesseis horas, bebedeiras, uma semana inteira de programação ou malhar constantemente na academia. Estou exausto de me sentir assim a cada hora de cada dia.

"Três ou quatro noites por semana eu tenho pesadelos com o que aconteceu. |Isto me faz evitar o sono e por isso estou constantemente cansado, porque tentar dormir com o que se prenuncia como horas de pesadelos não é nada repousante. Eu acordo suado e furioso. Lembro-me todas as manhãs do que foi feito contra mim e do controle que isso tem sobre a minha vida.

"Eu nunca fui capaz de parar de pensar sobre o que aconteceu comigo e isso dificulta minhas interações sociais. Ficava irritado e perdido em pensamentos para em seguida ser interrompido por alguém dizendo" Oi "ou puxando conversa, incapaz de entender por que eu parecia frio e distante. Eu andava por aí, vendo o mundo exterior a partir de um portal distante atrás dos meus olhos, incapaz de me conduzir segundo as normais delicadezas humanas. Ficava imaginando como seria ter relações normais para com as outras pessoas sem ter lembranças amargas sempre na minha mente, e eu queria saber se outras pessoas tiveram experiências similares, mas eram mais habilidosas em mascará-las.

"O álcool também foi algo que me deixava escapar das trevas, mas elas sempre me encontravam depois, sempre irritadas por que eu havia tentado escapar e me faziam pagar por isso. Muitas das coisas irresponsáveis que eu fiz foram o resultado das trevas . Obviamente, eu sou responsável por cada decisão e ação, incluindo esta, mas há razões para que as coisas aconteçam da maneira que elas acontecem.

"O álcool e outras drogas me deram uma maneira de ignorar a realidade da minha situação. Era fácil passar a noite bebendo e tentando esquecer que eu não tinha nenhum futuro para ficar esperando. Eu nunca gostei do que o álcool fazia comigo, mas era melhor do que encarar de frente a minha existência com honestidade. Eu não tenho provado álcool ou qualquer outra droga já faz mais de sete meses (e nem drogas ou álcool estão envolvidos neste meu ato) e isso me forçou a avaliar a minha vida de forma honesta e clara. Não há nenhum futuro aqui. As trevas estarão sempre comigo.

"Eu costumava pensar que se eu resolvesse algum problema ou alcançasse algum objetivo, talvez elas sairiam. Era reconfortante identificar os problemas concretos e solucionáveis como a origem dos meus problemas ao invés de algo que eu nunca seria capaz de mudar. Pensei que, se entrasse numa boa faculdade, ou uma boa escola de pós-graduação, ou perdesse peso, ou fosse para a academia quase todos os dias durante um ano, ou criasse programas que milhões de pessoas usariam, ou passasse um verão na Califórnia ou Nova York, ou publicados trabalhos que me dessem orgulhoso, então talvez eu sentiria um pouco de paz e não fosse constantemente perseguido e assombrado. Mas nada que eu fiz mudou um grão na forma como eu me sentia deprimido diariamente e não havia nada que eu fizesse que fosse recompensador. Eu nem sei porque eu pensei que algo fosse capaz de mudar.

"Eu não percebi o quão profundo isto tinha uma influência decisiva sobre mim e minha vida até o meu primeiro relacionamento. Estupidamente eu supus que, não importando o quanto a escuridão me afetava pessoalmente, os meus relacionamentos amorosos, de alguma maneira, seriam separados e protegidos. Enquanto eu crescia, eu via a possibilidade de relacionamentos futuros como uma possível fuga dessa coisa que me assombrava todos os dias, mas comecei a perceber o quanto isso estava emaranhado em todos os aspectos da minha vida e como isso nunca iria me libertar. Ao invés de ser uma fuga, os relacionamentos e contatos românticos com outras pessoas apenas intensificavam o meu problema de forma que eu não podia suportar. Eu nunca vou ser capaz de ter uma relação em que ele não é o foco, afetando cada aspecto das minhas interações românticas.

"Os relacionamentos sempre começavam bem e eu seria capaz de ignorá-lo por algumas semanas. Mas conforme nós íamos nos tornando íntimos emocionalmente, as trevas voltavam e a cada noite lá estariam eu, ela e as trevas num negro e horrível ménage-à-trois. Elas me cercavam e penetravam e quanto mais nós nos aproximávamos, mais intensas elas se tornavam. Fez-me odiar ser tocado, porque enquanto estávamos separados eu poderia vê-la como uma visão de fora, boa, gentil e imaculada. Uma vez que nos tocávamos, a escuridão também a envelopava e a levava, de maneira que o mal que estava dentro de mim também terminava envolvendo-a. Eu sempre me sentia como se estivesse infectando alguém com quem eu estava.


"Os relacionamentos não davam certo. Ninguém que eu namorava era a pessoa certa, e penso que se eu tivesse encontrado a pessoa certa eu a teria esmagado. Parte de mim sabia que o fato de encontrar a pessoa certa não ajudaria, então eu me interessei por garotas que obviamente não tinham interesse em mim. Por um momento eu pensei que eu era gay. Eu me convenci de que não eram as trevas, mas talvez a minha orientação sexual, porque isso me daria o controle sobre o porquê das coisas que eu não considerava “corretas”. O fato de que as trevas afetam questões sexuais de maneira mais intensa fez com que essa ideia tivesse algum sentido e eu me convenci disso por alguns anos, começando na faculdade depois do meu primeiro relacionamento ter terminado. Eu disse às pessoas que eu era gay (em Trinity, não em Princeton), ainda que eu não me sentisse atraído por homens e me mantivesse interessado por garotas. Então, se ser gay não era a resposta para os meus problemas, então qual era? As pessoas pensavam que eu estava evitando a minha orientação, mas o que eu estava realmente evitando era a verdade, a qual é que, mesmo eu sendo hetero, nunca estarei satisfeito com quem quer que seja. Agora eu sei que as trevas nunca irão embora.

"Na última primavera eu encontrei alguém que era diferente de qualquer outra pessoa que eu havia conhecido. Alguém que me mostrou o quanto duas pessoas podem conviver bem e quanto eu poderia se preocupar em cuidar de outro ser humano. Alguém com quem eu sei que poderia estar e amar para o resto da minha vida, se eu não fosse tão fudido. Surpreendentemente, ela gostava de mim. Ela gostava da casca de homem que as trevas haviam deixado para trás. Mas isso não importava, porque eu não conseguia ficar sozinha com ela. Nunca era só nós dois, tudo foi sempre a três: ela, eu e as trevas Quanto mais íntimos ficávamos, mais intensamente eu sentia a escuridão, como se fosse um espelho maligno das minhas emoções. Toda a intimidade que nós tínhamos e eu amava era complementado por uma agonia que eu não conseguia suportar e daí eu percebi que eu nunca seria capaz de dar a ela, ou a quem quer que fosse, tudo de mim ou somente o meu eu. Ela nunca poderia me ter sem a escuridão e o mal dentro de mim. Eu nunca poderia ter apenas ela, sem a escuridão como uma parte de todas as nossas interações. Eu nunca vou ser capaz de estar em paz e contente em um relacionamento saudável. Percebi a futilidade da parte romântica da minha a vida. Se eu nunca a tivesse conhecido, eu teria percebido isso tão logo encontrasse alguém com quem eu combinasse igualmente bem. É provável que as coisas não teriam funcionado com ela e que teríamos rompido (com o nosso relacionamento chegando a um fim, como a maioria dos relacionamentos chegam), mesmo se eu não tivesse esse problema, já que namoramos por pouco tempo. Mas vou ter que encarar exatamente os mesmos problemas com as trevas com qualquer outra pessoa com que me relacione. Apesar de minhas esperanças, amor e compatibilidade não são suficientes. Nada é suficiente. Não há nenhuma maneira de eu poder resolver isso ou até mesmo derrotar as trevas o suficiente para ter um relacionamento ou qualquer tipo de intimidade que seja viável.

"Então, eu observava como as coisas desmoronavam entre nós. Eu tinha colocado um limite de tempo explícito no nosso relacionamento, pois eu sabia que não poderia durar muito por causa das trevas e não queria segurá-la, e isso causou uma grande variedade de problemas. Ela foi colocada em uma situação anormal que ela nunca deveria ter tomado parte. Deve ter sido muito difícil para ela não saber o que realmente estava acontecendo comigo, mas isso não é algo que eu nunca fui capaz de conversar com mais ninguém. Perdê-la foi muito difícil para mim também. Não é por causa dela (eu superei o nosso relacionamento de forma relativamente rápida), mas por causa da constatação de que eu nunca teria um outro relacionamento e porque aquele significou a última ligação pessoal, exclusiva e verdadeira que eu podia ter tido. Isso não era evidente para outras pessoas, porque eu nunca poderia falar sobre as verdadeiras razões da minha tristeza. Fiquei muito triste no verão e no outono, mas não foi por causa dela, mas porque eu nunca vou escapar das trevas com quem quer que seja. Ela era tão amável e gentil comigo e me deu tudo que eu poderia ter pedido considerando as circunstâncias. Eu nunca vou esquecer o quanto ela me trouxe felicidade nesses poucos momentos em que eu poderia ignorar a escuridão. Eu havia planejado originalmente me matar no inverno passado, mas nunca parei para fazer isso (partes dessa carta foram escrita cerca de um ano atrás, outras partes dias antes de fazer isso.) Foi errado da minha parte me envolver em sua vida se esta fosse uma possibilidade e que eu deveria tê-la deixado sozinha, mesmo que a gente só tenha namorado por alguns meses e as coisas terminaram há muito tempo atrás. Ela é apenas mais um nome em uma longa lista de pessoas que eu magoei.


"Eu poderia gastar páginas falando sobre os outros relacionamentos que tive que foram arruinados por causa dos meus problemas e minha confusão em relação às trevas. Eu feri a tanta gente legal por causa de quem eu sou e minha incapacidade de experimentar o que precisa ser experimentado. Tudo o que posso dizer é que eu tentei ser honesto com as pessoas sobre o que eu pensava que era verdade.

"Eu passei minha vida magoando as pessoas. Hoje será a última vez.

"Eu disse a pessoas diferentes um monte de coisas, mas eu nunca contei a ninguém o que aconteceu comigo, nunca, por razões óbvias. Levei um tempo para perceber que não importa o quão próximo você está com alguém ou o quanto eles dizem te amar, as pessoas simplesmente não conseguem guardar segredos. Aprendi isso há alguns anos atrás, quando eu achava que era gay e contei às pessoas. Quanto mais prejudicial for o segredo, mais suculenta será a fofoca e o mais provável é que você seja traído. As pessoas não se preocupam com a sua palavra ou o com o que elas prometeram, eles apenas fazem o pior que elas querem e tentam justificá-lo mais tarde. A gente se sente extremamente solitária quando percebe que você nunca poderá compartilhar algo com alguém e que isto fique apenas entre vocês dois . Eu não culpo a ninguém em particular, eu acho que é apenas o jeito como as pessoas são. Mesmo que eu sinta assim é algo que eu poderia ter compartilhado, já que não tenho interesse em fazer parte de uma amizade ou relacionamento onde a outra pessoa me vê como a pessoa contaminada e danificada que eu sou. Assim, mesmo se eu fosse capaz de confiar em alguém, eu provavelmente não teria dito a eles sobre o que aconteceu comigo. Nesse ponto, eu simplesmente não me importo com quem sabe.

"Eu me sinto um mal dentro de mim. Um mal que me faz querer acabar com a vida. Preciso parar com isso. Eu preciso me certificar de que não matar alguém, o que não é algo que pode ser facilmente desfeita. Eu não sei se isso está relacionado com o que aconteceu comigo ou algo diferente. reconheço a ironia de me matar para me impedir de matar alguém, mas essa decisão deve indicar o que eu sou capaz.

"Então eu percebi que eu nunca vou escapar da escuridão ou a miséria associada a ele e eu temos a responsabilidade de parar de me agredir fisicamente os outros.

"Eu sou apenas uma casca quebrada e miserável de um ser humano. O fato de ter sido molestado sexualmente me definiu como pessoa e me moldou como ser humano e isso fez de mim o monstro que eu sou e não há nada que eu possa fazer para escapar disso. I Não conheço nenhuma outra existência possível. Eu não sei o que a vida poderia ser além disso. Eu ativamente desprezar a pessoa que sou. Eu me sinto profundamente quebrado, quase não-humano. Sinto-me como um animal que acordou um dia em um corpo humano, tentando dar sentido a um mundo estranho, vivendo entre as criaturas que não compreende e às quais não consegue se conectar.

"Eu aceito que as trevas nunca vão me permitir entrar num relacionamento. Eu nunca vou dormir com alguém em meus braços, sentindo o conforto de suas mãos ao meu redor. Eu nunca vou saber o que é uma intimidade incontaminada. Nunca terei um vínculo de exclusividade com alguém, alguém que possa ser o destinatário de todo o amor que eu tenho para dar. Eu nunca vou ter filhos, e eu adoraria ser pai. Eu acho que eu seria um bom pai. E mesmo se eu tivesse lutado contra a escuridão e me casado e tido filhos, mesmo sendo incapaz de sentir a intimidade, eu nunca poderia ter feito isso se o suicídio fosse uma possibilidade. Eu realmente tentei minimizar a dor, embora eu saiba que esta decisão vá ferir muitos de vocês. Se isso te machuca, eu espero que você pelo menos pode se esquecer de mim rapidamente.

"Não há nenhum benefício em identificar quem me molestou sexualmente, então eu só vou deixar por isso mesmo. Duvido que a palavra de um cara morto, sem provas de algo que aconteceu há mais de 20 anos atrás teria muita influência.

"Você pode se perguntar por que não falar com um profissional sobre o assunto. Eu fui a vários médicos desde que eu era um adolescente pra falar sobre outras questões e tenho certeza de que qualquer outro médico não teria ajudado. Nunca ninguém me deu um conselho prático, nunca. A maioria deles passava a maior parte da sessão lendo suas anotações para lembrar quem eu era. E eu não tenho nenhum interesse em falar sobre ter sido violentado quando era criança, tanto porque eu sei que não iria ajudar e porque não tenho confiança de que iria permanecer em segredo. Conheço os limites jurídicos e práticos do sigilo entre médico e paciente, pois fui criado numa casa onde nós sempre ouvimos histórias sobre as mais variadas enfermidades mentais de pessoas famosas, histórias que foram transmitidas através de gerações. Tudo que fica é um médico que acha que a minha história é interessante o suficiente para compartilhar ou um médico que acha que é seu direito ou a responsabilidade de contactar as autoridades para me fazer identificar o molestador (justificando a sua decisão dizendo que alguém poderia estar em perigo). Só é preciso um único médico que viole a minha confiança, assim como os "amigos" a quem eu disse que eu era gay fizeram, e tudo seria tornado público e eu seria forçado a viver em um mundo onde as pessoas soubessem como eu tenho uma vida fudida. E sim, eu sei que isso indica que eu tenho sérios problemas de confiar nos outros, mas eles são baseados em um grande número de experiências com pessoas que têm demonstrado um profundo desrespeito para com a sua palavra e a vida privada dos outros .

"As pessoas dizem que o suicídio é egoísta. Eu acho que é egoísta pedir às pessoas que continuem vivendo uma vida dolorosa e miserável, já que assim você possivelmente não vai se sentir triste por uma semana ou duas. Suicídio pode ser uma solução permanente para um problema temporário, mas é também uma solução permanente para um problema de 23 anos que se torna mais intenso e avassalador a cada dia que passa.

"Algumas pessoas são tratadas horrivelmente nesta vida. Eu sei que muitas pessoas sofrem coisas piores do que eu, e talvez eu não sou mesmo uma pessoa forte, mas eu realmente tentei lidar com isso. Tentei lidar com isso todos os dias dos meus últimos 23 anos mas não posso mais aguentar essa porra.

"Muitas vezes me pergunto como é que a vida deve ser para outras pessoas. Pessoas que conseguem sentir o amor dos outros e devolvê-lo puro, pessoas que podem experimentar o sexo como uma experiência íntima e alegre, pessoas que podem experimentar as cores e os acontecimentos deste mundo sem uma miséria constante. Pergunto-me quem eu seria se as coisas tivessem sido diferentes, ou se eu fosse uma pessoa mais forte. Seria muito bom.

"Estou preparado para a morte. Estou preparado para a dor e eu estou pronto para já não existem. Graças ao rigor de leis de armas de Nova Jersey, isto será provavelmente muito mais doloroso do que precisaria ser, mas o que se pode fazer? Meu único receio neste momento é algo dar errado e eu sobreviver.
---

"Eu também gostaria de me dirigir à minha família, se é que você pode chamá-los assim. Eu desprezo tudo o que eles defendem e que eu realmente os odeio, de forma não-emocional, não passional e - eu acredito – de uma maneira saudável. O mundo será um lugar melhor quando eles morrerem - um mundo com menos ódio e intolerância.
Se você não estiver familiarizado com a situação, meus pais são cristãos fundamentalistas que me expulsaram de sua casa e cortaram as minhas finanças quando eu tinha 19 anos porque me recusei a frequentar a igreja sete horas por semana.

"Eles vivem em uma realidade em preto e branco que eles construíram para si mesmos. A separação do mundo em bons e maus e a sobrevivência através do ódio a tudo o que eles temem ou não compreendem, e chamam isso de amor. Eles não entendem que pessoas boas e decentes existem e estão ao nosso redor, "salvos" ou não, e que pessoas más e cruéis representam uma grande porcentagem de sua igreja. Eles se aproveitam das pessoas que procuram uma esperança, ensinando-lhes a praticar o mesmo ódio que praticam.

"Um exemplo aleatório:
"Estou pessoalmente convencido de que se um muçulmano realmente crê e obedece o Alcorão, ele vai ser um terrorista." - George Zeller, 24 de agosto de 2010.

"Se você optar por seguir uma religião onde, por exemplo, católicos devotos que estão tentando ser boas pessoas estão indo para o inferno, mas molestadores de crianças vão para o céu (contanto que eles estejam "salvos" em algum ponto), a escolha é sua, mas é foda. Talvez um deus que se paute por essas regras exista. Se assim for, ele que se foda.


"A igreja sempre foi mais importante que os membros da sua família e eles alegremente sacrificavam o que fosse necessário para satisfazer suas crenças inventadas sobre quem eles deveriam ser.

"Eu cresci numa casa onde o amor foi representado por um deus em quem eu nunca poderia acreditar. Uma casa onde o amor pela música com todo tipo de ritmo foi literalmente batido pra fora de mim. Uma casa cheia de ódio e intolerância, dirigida por duas pessoas que eram especialistas em parecer amáveis e calorosas quando os outros estavam por perto. Pais que dizem a uma criança de oito anos que sua avó está indo para o inferno só porque ela é católica. Os pais que alegam não serem racistas, mas em seguida falam sobre os horrores da miscigenação. Eu poderia listar centenas de outros exemplos, mas é cansativo.

"Desde que foi expulso de casa, já interagi com eles de forma relativamente normal. Eu converso com eles ao telefone como se nada tivesse acontecido. Eu não sei ao certo o porquê. Talvez porque eu goste de fingir que tenho uma família. Talvez eu goste de ter pessoas com quem eu possa falar sobre o que está acontecendo na minha vida. Seja qual for o motivo, ele não é real e soa como uma farsa. Eu nunca deveria ter permitido que este reatamento acontecesse.

"Eu escrevi o que acabei de escrever um tempo atrás, e eu me sinto assim a maior parte do tempo. Em outras ocasiões, porém, sinto-me menos odioso. Sei que meus pais honestamente acreditam na porcaria que eles acreditam e eu sei que a minha mãe, pelo menos, me amava muito e tentava fazer o seu melhor. Uma razão para guardar isso por tanto tempo é porque sei quanta dor que vai causar. Ela ficou triste desde que ela descobriu que eu não era "salvo", desde que ela acredita que eu vou para o Inferno, o que não é uma tristeza pela qual me sinto responsável. Isso nunca iria mudar e provavelmente ela acredite que o estado do meu corpo físico é muito menos importante do que o estado da minha alma. Ainda assim, eu intelectualmente não posso justificar esta decisão, sabendo o quanto isso vai machucá-la. Talvez a minha capacidade de tirar minha própria vida, sabendo quanta dor isso vai causar, mostre que eu sou um monstro que não merece viver. Tudo o que sei é que eu não posso lidar com essa dor por mais tempo e eu realmente sinto muito por não poder esperar até que a minha família e todos que eu conhecia morram, assim isto poderia ser feito sem ferir ninguém. Por anos eu desejava que fosse atropelado por um ônibus ou morresse ao salvar um bebê de um afogamento, o que poderia fazer a minha morte ser mais aceitável, mas nunca tive essa sorte.
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"Para aqueles de vocês que me mostraram amor, obrigado por aturar toda a minha merda, e mau humor e arbitrariedade. Eu nunca fui a pessoa que eu queria ser. Talvez sem as trevas, eu teria sido uma pessoa melhor, talvez não. Eu tentei ser uma pessoa boa, mas eu percebo que eu nunca cheguei muito longe fazendo isso.

"Eu sinto muito pela dor que isso causa. Eu realmente queria que eu tivesse outra opção. Espero que esta carta explique por que eu precisava fazer isso. Se você não consegue entender esta decisão, espero que você pode pelo menos possa me perdoar. "

Bill Zeller
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"Por favor, salve esta carta e a poste de novo se for deletada. Eu não quero que as pessoas fiquem se perguntando por que eu fiz isso. Eu divulguei esta carta o mais amplamente do que eu pude, porque eu estou preocupado que a minha família venha a tentar restringir o acesso a ela. Eu não me importo se esta carta seja tornada pública. Na verdade, eu preferiria que fosse tornada pública a pessoas são incapazes de lê-la e que elas tirassem suas próprias conclusões.

"Sinta-se livre para publicar esta carta, mas somente se ela for reproduzida em sua totalidade."

45 comentários:

  1. Fui vitima de pedofilia quando tinha uns 7 anos de idade, por um primo.Cheguei a contar a minha mãe que nada fez e como ela era muto rígida não parou pra falar nada comigo, eu não a jugo como culpada pois sei que ela não falou nada por que eu era uma criança a qual não podia estar a pá de certos assuntos, alem dela ter sido criada por um sistema rigoroso a qual também nós criava.Eu era muito inocente e não sabia de nada a respeito de sexo assim deixei acontecer sem saber de que se tratava.
    Hoje tenho 18 anos passo boa parte da minha vida triste, e muitas vezes penso em me matar, acho que ninguém sabe que fui vitima de pedofilia,acredito que a minha mãe não lembra mas de nada e não tenho coragem de falar sobre o assunto, tento levar uma vida normal, muitas vezes choro desesperadamente mais fingo que esta tudo bem.Tenho muita dificuldade em mim relacionar com as pessoas principalmente com meninos e também de falar sobre sexualidade principalmente na parte de virgindade. Meu primeiro beijo foi com 17 anos e muitos comentavam por ter sido tão tarde.Falam de mim por conta do meu comportamento, por ser tímida e não gostar muito de sair de casa.O meu maior medo é que descubram que eu não sou mais virgem e mim juguem de outra forma, tenho medo também de tentar construir uma família e casar e mim cobrarem a virgindade alem de ter medo de ter relações, e de chegar a ter filhos é não conseguir ser uma boa mãe querer proteger demais de um forma que a prejudique.Não sei se vou conseguir levar essa barra pesada comigo até o fim, sem ninguém para dividir, já pensei em mim matar e até em como fazer isto, não sei se é a melhor opção mas acredito ser unas das únicas alternativas mas se eu tiver de fazer isto é só quando eu perde os meus pais, por enquanto vou levando,
    Espero que seja feito justiça por aqueles que ainda a tempo de lutar de colocar esses pedofilis na cadeia onde devem apodrecer.E que a sociedade cumpra o seu papel e a família tenha mais participação na vida dos filhos.
    Espero que esse jovem tenha encontrado a paz como eu torço para encontrar a minha.

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    1. A paz mesmo só se encontra em Jesus! Ele reconheceu que estava em trevas e em que pese tenha buscado saida, buscou nas coisas erradas, nas pessoas erradas, nos medicos carnais, nos relacionamentos falidos! Não se deixe abater, nao se perca! O primeiro passo é se auto perdoar, perdoe a voce mesmo por pensar em por fim à sua vida, Jesus veio para nos dar vida ABUNDANTE, não se curve diante do satanás e se coloque aos pés da cruz, peça a Deus de todo o seu coração que Ele te visite, te restaure, te cure as feridas e libere sua alma da prisão. Não desista, voce é a coisa mais linda que Deus tem! Não resista ao maior amor de todos os tempos, ao amor derramado por voce na cruz! Fique na paz! Esse moço nao encontrou paz, nao faça dele um idolo e sim busque nao vir a ser falido como ele. Entrega Teu caminho ao Senhor, confia Nele e tudo o mais Ele fará! Abç,

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    2. A paz mesmo só se encontra em Jesus! Ele reconheceu que estava em trevas e em que pese tenha buscado saida, buscou nas coisas erradas, nas pessoas erradas, nos medicos carnais, nos relacionamentos falidos! Não se deixe abater, nao se perca! O primeiro passo é se auto perdoar, perdoe a voce mesmo por pensar em por fim à sua vida, Jesus veio para nos dar vida ABUNDANTE, não se curve diante do satanás e se coloque aos pés da cruz, peça a Deus de todo o seu coração que Ele te visite, te restaure, te cure as feridas e libere sua alma da prisão. Não desista, voce é a coisa mais linda que Deus tem! Não resista ao maior amor de todos os tempos, ao amor derramado por voce na cruz! Fique na paz! Esse moço nao encontrou paz, nao faça dele um idolo e sim busque nao vir a ser falido como ele. Entrega Teu caminho ao Senhor, confia Nele e tudo o mais Ele fará! Abç,

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    3. Menina eu tb sofri muito abuso do meu pai e como retaliação ele me espancou por decadas e me humilhou até o fim da vida dele. Minha mãe morreu quando eu tinha 10 anos e fiquei nas mãos dele. Mesmo assim nao deixei de cuidar do meu pai na velhice dele(ele morreu 2 anos atrás) mas sempre tive uma tristeza comigo que nao saía de mim mas hoje com 41 anos sinto que superei muitas coisas, e me sinto bem melhor Deus está limpando meu coração. O perdão é muito importante. .Acredite numa coisa quem errou nao foi vc, quem deveria ser punido é o agressor e vc nao deve pagar a pena no lugar do agressor. Se vc se mata vc está fazendo o jogo que o agressor quer e fez contigo antes ou seja ele te agrediu e vc entregou os pontos, desistiu da vida. Isso é injusto. Ele é quem tem de pagar e nao vc. O erro foi dele!. Ele nao pensou em vc, nas suas dores quando te abusou entao a melhor resposta é vc se cuidar, tentar levar a vida o melhor possível, tentar ser positiva. Essa é a melhor resposta.. Se matar só vai te deixar mais perdida do outro lado da vida, só vai te trazer mais dor. Um abraço e te cuida.

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  2. Obrigado, Anônima, pelo seu comentário!

    Admiro a sua coragem de se expor desta forma, ainda que através do anonimato, que se justifica plenamente nessa questão. Vejo, entretanto, que você é bem jovem, e ainda que as feridas do que fizeram com você aos 7 anos demorem pra cicatrizar, é possível SIM viver uma vida feliz e superar este trauma. Primeiramente, acho que no seu íntimo você tem que perdoar sua mãe pela omissão dela num momento em que você precisava muito de cuidados especiais. Se hoje a pedofilia é tratada abertamente, e mesmo assim muita gente não sabe como lidar com a situação e socorrer a vítima, imagine como era há 11 anos atrás. Uma série de razões pode ter levado à omissão da sua mãe, mas muito provavelmente ela não sabia como lidar com esta situação, nem com as consequências que isso acarretaria para você. Quanto ao ofensor, o pedófilo, você tem que procurar uma maneira de superá-lo também, porque a maior arma que eles têm é justamente o sentimento de culpa que você está sentindo e que te impede - momentaneamente - de ser feliz. Por isso te digo: você NÃO tem culpa alguma do que aconteceu, e tem todas as condições de superar este trauma. Há uma série de caminhos e confrontações que você pode - eventualmente - seguir, mas neste caso seria muito importante você buscar ajuda especializada de um terapeuta profissional, um psicólogo por exemplo. Não sei se você tem condições de pagar, nem onde mora, mas mesmo que não tenha, há serviço público de qualidade, bem como clínicas patrocinadas por faculdades e universidades, aonde você pode buscar ajuda. Não tenha vergonha de procurar este apoio. Botar tudo isso pra fora com alguém especializado vai ser essencial para você perceber que pode (e deve) ser feliz porque é jovem e tem uma vida enorme pela frente. Procure, fuce, investigue, que tenho certeza de que você encontrará profissionais habilitados para te atender e orientar em regime de confidencialidade, em serviços tanto gratuitos como pagos, dependendo da tua situação financeira e de onde você mora. Não tenha vergonha alguma em pedir socorro a eles nesta hora. Tenho certeza de que você vai conseguir superar tudo isso. Conte com minhas orações e meus melhores votos de felicidade e boa sorte! Qualquer dúvida pode voltar a postar aqui.

    Abraços!

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  3. Hélio, fico feliz pela tua postura com a menina q está anônima.
    Sofri abuso na infância a partir dos 5 anos, então sei q é possível ser feliz sim!
    Sou casada, tenho crianças lindas, mas antes disso desci ao inferno, mas saí dele.
    Anônima não deixe q ninguém diga o contrário, se alguém ficar preocupado apenas com a sua virgindade, este alguém não te merece.
    Vc ainda tem 18 aninhos, pode tudo, pode inclusive superar esse terrível abuso.
    Se cuide, trate bem de vc!

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  4. Querida...já que o que aconteceu não pode ser mudado...que tal se voce se ajudar e superar esse episodio nefasto da sua infância...não se culpe, procure ajuda,como disse o nosso amigo Hélio e fale abertamente sobre isso com um profissional...bota pra fora, não guarde.Justamente por guardar é que o autor dessa longa carta terminou como terminou.Viva a sua vida com alegria, e que Deus te ajude,querida! Seja Feliz!

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  5. Querida anonima, sinto muito pelo que te aconteceu, mas pelo menos não se paute na parte fisica, já que a psicológica ficou muito afetada.
    Esqueça esse lance de virgindade. Isso tem importância zero para as pessoas de sua geração.
    Cuide de sua parte psicológica com zelo e dedicação...Tenho certeza que superará isso e ficará cada dia mais distante...Torço pela sua felicidade

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  6. Meu Deus amado conforte esses corações tão sofridos. Meu pai sei que tu nos dá dificuldades para que sejamos fortes e confias em nossas capacidades. Mas peço que sustentes essas almas em sofrimento e que o peso dessa cruz seja aliviado por seu amor maior que toda dor. Passei por uma grande prova e sei que posso confiar no teu amor por nós.

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  7. fui vitima de abuso aos 3 anos de idade eu não sabia o que estava acontecendo so me dei conta disso na puberdade,então veio uma avalanche de sentimento,odio culpa,me sentia suja o tempo todo,o problema é que estas lembranças ficam mais claras a cada dia,hj com 31 anos 3 filhos casada e bem resolvida,mas sempre bate uma tristeza,semtimento de culpa de sujeira,falei com meu marido sobre isso,pois ele percebia certas coisas...
    hoje ainda tenho odio da minha mae,que não me protegeu o suficiente, o importante é ter com quem falar,ler a respeito e colocar na cabeça a culpa não é da vitima.que deus ilumine esta alma aflita e conforte a familia,e que outras pessoas despertem para essa violencia que destroi pessoas todos os dias

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    1. Obrigado pelo comentário!

      Tenho certeza de que hoje, casada e com 3 filhos, você está bem resolvida, o que muito me alegra. Entretanto, você é jovem e tem uma longa vida pela frente que desejo que seja ainda mais feliz, apesar do problema que ficou no passado. Se você me permite te dar um conselho, acho que você deve tratar esse sentimento negativo em relação à sua mãe. A cada dia que passa eu percebo mais que os pais, sobretudo os mais velhos, não tiveram boas referências dos seus pais, que por sua vez também não tiveram referências boas dos pais deles, num círculo vicioso que vinha se repetindo desde o passado. Aqueles eram outros tempos, bem mais difíceis, com muito pouca informação, em que já era uma enorme vitória se o filho sobrevivia aos primeiros anos de vida, e talvez por isso mesmo eles eram muito duros, frios e ausentes na criação das gerações mais novas. Você teve a felicidade de quebrar esse círculo e se resolver, e tenho certeza que é uma excelente mãe. Agora, então, é tempo de você perdoar a sua mãe, mesmo que ela tenha tido todos os defeitos do mundo. Para tanto, aconselho que você procure, se possível, um bom acompanhamento psicológico, que está disponível gratuitamente inclusive na rede pública e nas faculdades de psicologia. Você terá também a oportunidade de constatar que não está sozinha nessa busca de acerto de contas com o passado, e que o exercício consciente e gracioso do perdão é a melhor saída. Você é jovem, tem muita coisa boa a produzir na vida até ser uma avó maravilhosa, então não se permita carregar esse fardo daninho por toda a sua vida. Está em tempo de você resolver definitivamente essa pendência com a sua mãe e tocar a vida adiante, linda, leve e solta. Que Deus te abençoe a seguir por este caminho. Boa sorte!

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    2. ter postado isso mecheu com muitos sentimentos hj,sempre tentei abordar o assunto com minha mae e ela diz que é coisa da minha cabeça,faz que não sabe,o fato é que me lembr claramente,qnd o irmao mais novo do meu abusador contou para toda familia que viu nos dois "fazendo besteira" fico chocada qnd toco no assunto e ela desconversa,mas passou,vou procurar ajuda, e hj tento fazer o melhor possivel para cuida rbem dos meus filhos

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    3. Fico muito contente em ver que você resolveu enfrentar esse último fantasma e tenho certeza de que você vai vencê-lo. É muito bom que você busque ajuda profissional, porque talvez não seja mesmo o caso de discutir essa questão com a sua mãe, até porque ela própria não deve ter condições de encarar a verdade e por isso foge dela como o diabo da cruz. O inconsciente de todas as pessoas prega muitas peças que é difícil escapar, mas tenho certeza de que você conseguirá se libertar completamente dessas más lembranças para uma vida nova e feliz. Vá em frente e que Deus te acompanhe, e Ele certamente te acompanhará.

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  8. Concordo com o q foi postado pelo Ermitão,realmente o fato de virgindade hj e ultrapassado tanto como casar se de veu e grinalda.Procure preencher esta lacuna,cuidando se do seu emocional e psicologico,o resto ñ existe.Jamais,suicidio resolvera teu problema,vai,piorar mais.Deus e contigo e sera sempre.Sugestão,procure literatura ROSA CRUZ,ou,ate mesmo um Pronaus;Capitulo ou Loja,estes são lugares onde nos nos reunimos,pode ser q vc encontre respostas p/viver sem barreiras.Seja feliz.Abrç frtrno y votos de Paz Profunda

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  9. Que Deus lhes dêem as forças que nescessitam... Li os posts,...muito emocionado aqui,mal consigo comentar... Fiquem com Deus!!!!!!

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  10. Quando criança,eu devia ter uns 5 anos, tive um padrasto que me molestava. Me lembro que sempre que ele fazia isso eu fechava os olhos e pedia a Deus pra acabar logo, mas somente a dois anos eu tive coragem de contar a minha mãe sobre isso.
    tive uma adolescencia normal,pelomenos essa era a imagem que eu passava pras outras pessoas, mas por dentro eu nunca fui inteira, sempre fui destruida e cheguei ate a tentar o suicidio.
    Aos 18 anos fui estuprada e dessa vez decdi não me calar,fui a delegacia de dei queixa mas sai de la humilhada pela delegada e mesmo depois de ter reconhecido o estuprador ele saio de cabeça erguida e nada foi feito.Isso so piorou ainda mais minha sanidade mental e acabou com o meu emocional, como cosequencia passei a odiar as pessoas naquela cidadezinha de merda e bebia com frequencia pra desfarcar a dor.
    Ao contrario do autor da carta, as lembranças não me incomodavam por que eu nunca me permiti te-las, mas isso foi ruim, porque existe um buraco que eu não consigo tampar em meu peito, e pela primeira vez estou me deixando relembrar tudo isso, enqaunto escrevo esse depoimento.
    Não consigo me relacionar com ninguem por muito tempo e depois de um periodo ate o abraço da pessoa passa a me incomodar, ja cheguei a me relacionar com mulheres pra saber se eu era lesbica, mas não é esse o caso.Os homens me interessao, mas o interesse vai embora assim que o compromisso aparece.A um tempo a dor vem aumentando e adepressao é inevitavel, olho os casais e me pergunto se algum dia vou viver o que meus amigos vivem.
    Hoje tenho 24 anos e olhando a cicatriz no meu pulso agradeco a Deus por eu esta aqui hoje escrevendo. A duas semanas atras a dor em meu peito era tão intensa e a depressão tão pertubadora que a ideia de suicidio que eu achei que tinha ficado na adolescencia voltou e eu fui internada por ingerir 30 comprimidos de diazepan com bebida alcoolica e cortar o pulso.
    sei que eu deixei uma carta suicida, mas eu estava tão pertubada no momento em que escrevi que não lembro o que tem escrito nela e ainda não tive coragem de ler porque sei que ainda não estou preparada pra ler os motivos do buraco em meu peito.
    Estou viva, mas fico feliz por isso, mas não por mim. Fico feliz porque sei o quanto minha mãe sofreria e eu prefiro viver morta por dentro do que acabar com meu sofrimento e desencadear uma loucura nela.
    Sera que algum dia essa dor vai passar?
    Sera que eu vou conseguir ter um relacionamento normal?

    Isso foi mais um desabafo do que qualquer outra coisa.
    abraços!

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    1. Cara Anônima,

      Me solidarizo com a sua dor, embora saiba que só você possa dimensionar o tamanho dela.
      Ainda que anonimamente, você sabe que aqui do outro lado existe alguém que está te "ouvindo" e se interessa pelo seu bem estar.
      Entretanto, vejo pelas suas palavras que você deu um passo gigante para enfrentar o problema e vencê-lo. O seu desabafo aqui, ainda que de forma anônima, mostrou que você - primeiro - reconhece que tem um problema sério e - segundo - tem esperança real de resolvê-lo, por mais que seja difícil no momento e você tenha acabado de sair de um momento desesperador.
      Você é jovem e tem todas as condições de reconstruir a sua personalidade sexual apesar dos abusos que sofreu.
      Lamento profundamente que algumas pessoas que cruzaram o seu caminho foram instrumentos de maldade para você. Todas elas, inclusive a péssima delegada que te atendeu, fizeram com que você se sentisse "culpada" das coisas ruins que te aconteceram, quando a culpa é delas.
      Portanto, sugiro que a primeira coisa que você deva fazer é reconhecer que você não teve culpa alguma das coisas que te aconteceram. Este não é um processo rápido, mas é perfeitamente possível superá-lo.
      Como você foi corajosa ao escrever este desabafo aqui, penso que seria muito interessante que você desse mais um passo corajoso e buscasse ajuda profissional na cidade em que você vive.
      Mesmo que você não tenha condições financeiras de pagar um psicólogo, por exemplo, é muito provável que exista na sua cidade ou numa cidade próxima um serviço de atendimento psicosocial público, ou um grupo de apoio como os Neuróticos Anônimos, que fazem terapia de grupo anonimamente, ou ainda uma faculdade de psicologia que tenha uma clínica que atende gratuitamente o público.
      Apesar da palavra "neurótico" ter um significado um pouco negativo na cultura brasileira, todas as pessoas são neuróticas em maior ou menor grau, já que todos sofremos de algum tipo de disfunção emocional em razão das nossas limitações e do nosso histórico de vida. O que varia (e muito) é a maneira como cada pessoa encara e resolve essas situações.
      Você pode visitar a página dos Neuróticos Anônimos aqui:
      http://www.neuroticosanonimos.org.br/
      Lá existe inclusive um grupo virtual, caso você não tenha nenhum grupo real de pessoas aí perto de onde você mora.
      Acho que você tem todas as condições de reconstruir a sua vida, e desejo que você continue nessa trajetória de coragem e força para dar os próximos passos. No que for possível ajudar, estamos por aqui.
      Abraços!

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  11. Meu Deus!!! Achei que que apenas vivia nesse escuro, me ajude para não terminar assim.

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    1. Olá, Anônimo! Obrigado pelo seu comentário!

      Que bom que você percebeu que você não é a única pessoa que, como você disse, "vivia nesse escuro".
      Além dos depoimentos de pessoas que passaram pelo mesmo problema, que você pode ler acima, existe muita gente que passou por experiências parecidas que lhes deixaram marcas profundas.
      Até hoje, por exemplo, foram mais de 3.300 acessos a este texto do blog, a maioria deles certamente de vítimas de pedofilia que não sentiram a necessidade (ou não tiveram coragem) de deixar o seu depoimento de vida.
      Portanto, ainda que no caso do rapaz que deixou esta carta o final não tenha sido feliz, inspire-se no fato de que a imensa maioria das pessoas que sofreram abusos na infância consegue, de alguma maneira, superar o trauma. Uns mais, outros menos, mas é possível sobreviver a isso e viver uma vida feliz.
      Por isso, sugiro que você procure ajuda profissional para enfrentar esses fantasmas, pois é perfeitamente possível vencê-los e ser feliz.
      Conte com o nosso apoio e a nossa torcida!
      Abraços!

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  12. Boa tarde, sofri abuso sexual no jardim de infância, da ajudante da professora que era sua irmã. Ela inventou uma brincadeira em que eu era mãe e ela o pai. Fui molestada, no outro dia não aceitei entrar de jeito nenhum na escola. Agarrei minha mãe e implorei para não ficar. Minha mae sem saber de nada me levou para casa e não me levou mais. Tinha uns 4 anos e para ela não faria diferença. Durante anos me senti suja e achando que a culpa foi minha. Hoje sou casada e tenho um casal de filhos e não confio em ninguém. A pouco tempo contei para minha mãe. Ela ficou apavorada e disse porque não contei. Sinceramente eu não sei, medo, vergonha sei lá. Mesmo assim sei que aquela mulher destruiu a infância de outras crianças e eu não falei nada.

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    1. Cara Infância Roubada, obrigado pelo seu depoimento.

      É importante que você reforce em você mesma a percepção de que você era uma criança que não tinha condições de entender a gravidade do que estava acontecendo, e por isso mesmo não pode se permitir sentir culpa. A culpa é uma das maiores armas que os abusadores utilizam para manter suas vítimas indefesas presas aos piores sentimentos. Você construiu a sua vida e tem todas as condições de superar os sentimentos de culpa e de desconfiança. Procure ajuda profissional se se sentir à vontade para tanto e aproveite a vida com toda a felicidade que você tem direito. Conte com nosso apoio!

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  14. tudo isso e muito triste............................sem palavras ????

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  15. Fui abusada aos 8 anos por um senhor que era muito próximo a mim e a minha família.
    As vezes me sinto triste e revoltada mas vejo a força que Deus me deu e procuro focar em outras coisas.
    Essa é a primeira vez que falo a respeito e meu conselho é se apegar a algo com amor e crer que Deus pode curar qualquer ferida!

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  16. Sou triste. Sofri abuso. Sexual. Moral. Fui perseguido na escola o tempo todo. Meu pai sempre me tratou diferente do meu irmão ex: ele chegava com presentes pra ele é nada pra mim. Passei por vários outros traumas e situações que nem todos poderiam entender. Me sinto sujo. Um lixo. Um culpado. Tenho dificuldades em confiar nas pessoas. Penso em acabar com tudo. Meu nome é Bruno Reis.

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  20. os três comentários acima foram excluídos a pedido do seu autor

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  21. eu queria ter lido a carta e os comentarios mas é muita coisa consegui nao

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  22. Querida amiga eu também passei por isso, mas hoje eu sou casada tenho um filho e me dedico totalmente a minha religião que é catolica, mas antes entrei numa depressão profunda depois de muito tempo, mas recuperei através de Deus que é o meu pai e confio plenamente que ele nunca me abandonou, hoje sou muito feliz encontre um homem maravilhoso que me deu um filho lindo que hoje é meu porto seguro, vejo a vida hoje de outra forma, inclusive consegui até perdoar esse homem que não tem importancia nenhuma para mim.

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  23. Querida amiga eu também passei por isso, mas hoje eu sou casada tenho um filho e me dedico totalmente a minha religião que é catolica, mas antes entrei numa depressão profunda depois de muito tempo, mas recuperei através de Deus que é o meu pai e confio plenamente que ele nunca me abandonou, hoje sou muito feliz encontre um homem maravilhoso que me deu um filho lindo que hoje é meu porto seguro, vejo a vida hoje de outra forma, inclusive consegui até perdoar esse homem que não tem importancia nenhuma para mim.

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  24. Não é fácil, mas sei que estou no caminho certo, tentando não julgar o próximo e tento o máximo possível demonstrar a todos que estejam em minha volta, o amor de Deus que carrego comigo. Independente de quem são e como são, procuro ser gentil com as pessoas e auxilia-lás à maneira como posso. Farei uma prece para que Deus em sua infinita bondade, tenha misericórdia com esses irmãos que carregam mágoas e passam por problemas aos quais não podem "evitar" ou ao menos se redimirem nesta vida. Que a paz de Deus esteja com todos.

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  25. Admiro as pessoas dos comentários aqui escritos, que, apesar de terem sofrido tanto acreditam na bondade e veracidade de um Deus.
    Esse não é o meu caso, hoje.
    Eu sofri quando criança, meu pai é extremamente estressado, machista porém é um pobre arrependido, que volta e meia comete os mesmos erros desumanos, principalmente com a minha mãe, mulher que eu vi mudar a minha vida toda, que hoje está melhor do que desde que me entendo por gente até meus 10 anos. Sempre apanhou, e todas as noites quando se deitava com meu pai eu ouvia do meu quarto "deixa" "não toca em mim, eu vou gritar" "olha que delícia" "(choro)". É isso que me lembro da infância. Conforme eu crescia, como uma adolescente normal, minha mãe me prendia do mundo, eu a entendo mesmo não sabendo o por que de tanta proteção, se quando o mal tem que acontecer, acontece e não há a nossa mãe pra nos salvar, não há luz, não há Deus, não há ninguém.
    Quando eu tinha 14 anos, no mês de setembro, fui abusada sexualmente por um rapaz 5 anos mais velho que eu. (Eu não desejo isso nem pra ele). No final do mês de outubro, meu ciclo não vinha e eu não entendia muito bem o que estava acontecendo. Eu ficava enjoada de manhã com o cheiro do café e dormia muito durante o dia. Até que eu dei por mim que podia estar grávida, do rapaz que me estrupou, que era da minha escola, e que eu tanto o enojava e fingia que nada tinha acontecido quando o via. Eu comprei um teste e não soube fazer, acabou estragando pela minha ignorância.
    Eu sentia uma bola no meu útero, que crescia e eu não queria acreditar que era real. Eu então, sem saber o que fazer, fui falar com o rapaz, o enfrentei dizendo tudo o que em setembro aconteceu, que eu sofri, dor externa e interna, mas não sendo só isso que eu estava grávida e o pedi ajuda, pedi ajuda pro causador dos meus maus, pedi ajuda ao "demônio", que me ludibriou com um remédio, que seria um ponto final para aquela história. Foi aí que eu conheci o CYTOTEC, medicamento para aborto. Ele disse que compraria. Tentou comprar em novembro, sendo enganado por um site, o remédio não chegou, 3 meses, ficou sem dinheiro e disse que compraria em janeiro, 5 meses. Janeiro de 2014, 5 meses, uma barriga com forma de mulher grávida, um bebê dentro do meu ventre. Ele conseguiu comprar o remédio, porém não havia garantia de abortar e de eu sair viva. Eram 6 comprimidos sublingual e 6 intravaginal. Eu me lembro de quando o fiz, lembro da febre, do calafrio, das contrações... E eu me lembro do meu filho ficar do lado esquerdo da minha barriga, lutando pra viver, dentro do que seria seu lar até se formar e até mesmo depois. Mas essa não foi a imagem que minha criança teve de mim. Eu fui o monstro embaixo da cama, que ele não chegou a ter, eu fui o escuro da noite que ele nem chegou a ver mas haverá o dia de parar o meu coração, que pulsa sem querer.
    Ainda que pare, ouvirei do fundo da sepultura, através da lápide e cruz ferrugem (cor de minha alma), as batidas daquele coração puro.
    Sentirei a dor daquela alma ociosa. Afundarei teus anseios até depois da passagem. Desde aquele dia eu nunca mais serei digna de uma vida digna. Quando o mal encontra a gente, não dá pra se esconder, fugir.
    Desde aquele dia também, eu só vi o agressor uma vez, o acaso, no ano seguinte me fez sentir tudo de novo naquele dia, mas não só naquele dia, eu sinto involuntariamente, enquanto meu coração ensaiar bater.

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  26. Triste ver e saber que esse problema se repete em muitos lares, por acaso, tenho os dois lados na minha família, tanto vítimas, quanto um pedófilo, confesso que não consigo encarar de frente o segundo, até pq tenho um filho que foi vítima tb, mas não dessa pessoa, de outro, que nunca consegui saber quem é, confesso que oro e peço a Deus sempre que me tire a vontade que tenho de saber quem fez isso com meu filho e matá-lo. Na verdade, meu filho nunca me contou, fiquei sabendo pq ele contou para outra pessoa, que jurou segredo. Hj consigo dentro da luz da espiritualidade conviver com esse fato de forma menos tensa. Sei que o suicídio nunca é a melhor solução, mas devemos respeitar a todos e não julgar suas dores. Que ele seja acolhido pela espiritualidade, onde quer que esteja.

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  27. Como Espírita muitas vezes é difícil para mim pensar no suicídio, já pensei nisso várias vezes, quando estou triste e pior, fico imaginando em minha morte e como as pessoas se comoveriam com isso.

    É uma situação que alargo desde minha infância, quando passo algo difícil, e agora esta pior, não consigo ir para frente.

    Ela sempre esta relacionada a relacionamentos.Tudo começou com minha mãe que sempre me maltratou, lembro de um fato onde pegou minha cabeça e bateu contra a parede da cozinha varias vezes, por ter derramado um copo de leite, e depois maltratos psicológicos, que acabam com meu ser, até hoje é dificil conviver com ela.

    Tive um outro fato com minha ex mulher, foi  pior fase da minha vida.Nos separamos e aquela familia não queria me deixar conviver com meu filho, fiquei 3 anos sem conseguir ver ele, pensava em suicidio diversas vezes, perdi meu emprego, gastei tudo o que tinha com advogados, que no final a justiça não resolveu nada.

    Consegui superar tudo aquilo, resgatei o contato com meu filho, de tanto persistir em tentar ver ele, minha sorte foi que minha ex mulher casou com uma pessoa que tinha passado por isso com seu pai, e a convenceu com influência de seu passado.

    Consegui até me relacionar de novo, essa pessoa viu todo esse processo, iamos nos casar, a ideia era formar uma nova familia, e quando estava comprando uma casa com meus recursos, apareceu interesse da outra pessoa em se aproveitar,e afastei e segui minha vida.

    Depois de 3 meses descobri que estava sendo traido com essa pessoa, e que a mesma após terminar com ela já estava com este.Foi dificil, fiquei 1 mês na cama, sem conseguir sair de casa, quase pulei da janela, avisei meus pais e vieram em socorro.

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  28. Ainda esta sendo dificil, estou desempregado a 9 meses, assumi a divida dessa casa pensando em casar e reconstituir uma familia.É dificil vida de pai separado, 15 em 15 com seu filho, você perde sua paternidade, não é a mesma coisa, e a justiça brasileira não resolve nada.

    Era meu sonho ter uma familia novamente, pensavamos em ter uma menina,sinto tanta falta desta relação com essa mulher, essa traição me tirou a autoestima, não acredito mais em me relacionar com outra mulher, ja vai fazer quase um ano sem sexo ou beijar outra mulher.

    Muitas vezes me vêem em sonhos a cena dela transando com esse cara, me traindo, e muitas vezes relembro nossas alegrias e sonhos em casal.

    Não sei o que faço mais, penso varias vezes em suicídio, ja estou falindo, sem emprego nessa crise, dividas acumulando, não como direito, noites sem dormir.

    Li todo o texto deste amigo, me fez bem ver seu sofrimento e o entendo.

    Algo que me paralisa muito a vontade de me matar, é o espiritismo, sei as causas desse ato, e meu filho.Não posso abandonar ele aqui, já sofri muito para viver com ele novamente.

    Como queria ser pai novamente, me faz uma falta não ter a rotina de pai.Queria tanto poder levar meu filho na escola, fazer sua lição de casa, ver ele todos os dias.

    A vida é tão dificil, cada um sofre com alguma coisa.Todos temos nossas dívidas de outras vidas aqui nesse mundo.

    As vezes acho que não sou forte, e as vezes tiro forças para superar.

    Mas agora esta complicado demais, a vontade de não viver mais é forte dentro de mim.Nada esta dando certo, me sinto um merda sem trabalho e sem conseguir fazer coisas basicas que um pai pode fazer com um filho.

    Preciso trabalhar, precisava de paz em muitos aspectos da minha vida.

    É com muita fé que persevero muitas vezes.Onde tiro minhas forças para continuar, mas os pensamentos estão lá, bate aquela tristeza quando alguém nos machuca, o passado simplesmente retorna novamente.

    Estou com medo agora, nunca imaginei que teria isso de novo.Cansado já de como esse mundo está, cheio de pessoas interesseiras e más.

    É difícil, o que me ajuda a superar é minha religião, ela que me dá otimismo para tentar de novo.

    Como é dificil e bom ver estes relatos, são eles que nos fazem não fazer o mal, e principalmente pensar que as vezes, nossos problemas são tão pequenos.

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    1. Obrigado por compartilhar seu desabafo conosco, já foi um primeiro passo para você começar a sair dessa situação, se expor e gritar por socorro, saiba que esta página é visitada por dezenas e muitas vezes centenas de pessoas todos dias, e tenho certeza de que todos os que tiverem oportunidade de ler o seu testemunho se lembrarão de erguer uma prece por você, independentemente da religião que professarem.

      Vejo que você encontra muita força para superar tudo isso na sua religião e no seu filho. Continue assim, você vai sair dessa. Apenas um conselho em relação ao seu filho. Pare de se culpar por "não conseguir fazer coisas básicas que um pai pode fazer com um filho". Eu sei que as dificuldades momentâneas impedem que você faça certos programas com o seu filho, mas tenha certeza de que o mais importante para ele e para você é o fato de dividirem um tempo juntos, por isso invista na qualidade desses momentos porque são eles que são fundamentais para o bem estar de vocês dois.
      Força, luz e vida! Abraços!

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  29. Eu não consegui acessar a carta, gostaria de ler pois estou pesquisando sobre o assunto para uma campanha do setembro amarelo....

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    1. Perdão, mas não entendi direito sua dúvida. Você está querendo acessar a transcrição original da carta em inglês, é isso?
      Se for este o seu desejo, você pode acessar a transcrição do original em inglês no link https://gizmodo.com/5726667/the-agonizing-last-words-of-bill-zeller

      O texto acima é a tradução livre que eu próprio fiz para o português

      Caso seja outra a sua dúvida, por gentileza volte a perguntar, estou à sua disposição

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  30. Quando eu era criança, mais ou menos uns oito anos, e também tenho uns flash de quando eu era bem menor. Meu pai sempre me molestava, ele abusava de só não concluiu o ato pq as pessoas iam perceber, eu morava com minha avó. E ele vinha me buscar de vez em quando pra dormir na casa dele, eu me sinto culpada por que eu ia, mas eu nao entendia oq acontecia ali. Depois na minha puberdade comecei entender contei pra minha mãe e ela nao acreditou em mim e hoje sou forçada a vê lo como se nada tivesse acontecido. Tenho muito medo dele, não consigo abraçalo e de vez em quando vem aquelas cenas na minha cabeça, me sinto muito triste. Minha adolescência foi a pior parte da minha vida, hoje com 19 anos namorando a muito tempo eu disfarço minha dor por conta dessa pessoa, que conseguiu me estruturar um pouco. Eu me sinto tão abandonada, a pessoa que devia me proteger estragou meu psicólogo, e ainda tenho que conviver com ele. Teve um tempo que eu coloquei em minha cabeça que era apenas lembranças inventadas na minha imaginação, mas um dia ele bêbado falou "me desculpa, eu nunca mais vou fazer aquilo"
    Eu não respondi, fui embora segurando as lágrimas, até que cheguei na casa do meu namorado e chorei.
    Ninguém sabe, só minha mãe que acha que eu menti, porquê eu mentiria sobre isso?
    Queria que Deus tirasse esse vazio do meu coração, queria ser amada, ter sido cuidada. Minha vida é uma eterna solidão. Eu disfarço muito bem

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    1. Eu sei que é difícil para você, mas por gentileza aceite o meu elogio pela coragem com que você expôs o seu problema, ainda que no anonimato. Este é o primeiro passo para a cura total das suas emoções (que é possível, acredite!) e merece ser elogiado. Digo isto porque o traço comum que eu percebo na imensa maioria dos depoimentos que chegam até esta página (alguns não publicados em respeito à intimidade de quem os fez) é que a vítima tem que lidar com um SENTIMENTO DE CULPA terrível, sentimento negativo este que é manipulado pelo agressor (ou violador) para que ele continue no controle da situação, tentando inverter os papéis, pois o violador passa a fazer o papel de vítima e tenta incutir (induzir) na vítima a culpa por ele ter feito a barbaridade que cometeu.
      Então, o primeiro passo para a cura você já deu, ao expor o seu problema aqui neste espaço em que muitas pessoas compartilham suas histórias de vida de maneira pública ou anônima, e todos são muito bem-vindos e carinhosamente acolhidos.
      O segundo passo é exatamente este a que eu me referi acima: não se deixar vitimizar pela culpa que o agressor tentou te transmitir (contaminar) ao longo dos anos.
      Para tanto, além do teu próprio autoconvencimento, eu aconselho que você procure ajuda profissional num primeiro momento, se não tiver alguém de absoluta confiança com quem compartilhar a sua dor. Se não tiver condições de pagar um bom profissional (psicólogo, por exemplo), procure grupos de apoio que, dependendo da cidade e região em que você mora, estão disponíveis e acessíveis gratuitamente, como consultórios de faculdades de Psicologia e comunidades como os Neuróticos Anônimos (não se assuste com a palavra "neuróticos" rs porque todos nós estamos sujeitos à neurose em algumas fases da nossa vida, e alguns - infelizmente - passam muito tempo presos à neurose, mas é perfeitamente possível e não tão difícil se livrar dela).
      Se você se sentir à vontade para isto, acesse a página http://neuroticosanonimos.org.br/ e verifique se há um serviço (gratuito) deles perto de onde você mora.
      Este é o seu momento de buscar a cura para as suas emoções e sobretudo a liberdade para viver a sua vida em paz, deixando para trás o SENTIMENTO DE CULPA que não te pertence, esta carga negativa que suga as tuas energias e este peso enorme que você não precisa carregar, principalmente porque - repito - você é a vítima nesta situação e não tem nenhuma culpa do que aconteceu, mas agora tem a consciência, a possibilidade e a liberdade de dar um novo destino à sua vida, confiando em si mesma e - caso creia numa divindade - em Deus.
      Sim, como você própria escreveu acima, Deus quer e pode tirar este vazio do teu coração. Xô, SENTIMENTO DE CULPA!
      Apesar de tudo, não tenha vergonha alguma de ser quem você é, nem da sua história de vida. Mesmo as piores coisas que nos acontecem na vida podem ser revertidas em nosso favor, no mínimo como experiência, resistência, resiliência e sabedoria acumulada, sem minimizar o sofrimento pelo que passamos.
      Em resumo, deixe aos outros os problemas deles (eles terão que se entender com Deus e/ou com a consciência deles, inevitavelmente, mas isto é problema deles, não teu), e busque forças e apoio para resolver os teus problemas aproveitando a liberdade de ser quem você é além da possibilidade presente (e claríssima) de ser a pessoa que você quer ser.
      É possível!
      No que precisar de nós desta comunidade aqui, estamos à sua disposição!

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  31. MEU RELATO, JU_ANONIMA, PARTE 1:
    Hoje eu tenho 33 anos. Eu fui molestada pelo meu avô quando eu tinha 4 anos. Me lembro de tudo, do toque, do cheiro dele e do peso da mão entre as minhas pernas. Eu só entendi o que tinha acontecido quando tinha 11 anos. Contei para a minha mãe e ela não acreditou. Então, passei a contar pra todo mundo: amigas da escola, professores, diretora, psicólogo. Hoje todo mundo sabe disso, pq já postei até no Facebook. Quanto mais falavam que eu tinha me calar e ter vergonha disso, mais eu falava, mais eu gritava. EU FUI ESTUPRADA QUANDO ERA CRIANÇA! Eu sabia que fechar os olhos e fingir que nada tinha acontecido só pioraria a minha dor. Me comunicar, falar sobre isso, me aliviava. Minha família não acreditava. Hoje a minha avó e minha mãe acretidam. Tem gente da minha família que ainda não acredita, mas eu continuo falando ATÉ HOJE. Ninguém nunca fez nada contra ele. Apenas disseram "esqueça isso". Passei a adolescente inteira ouvindo "esqueça isso".

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  32. RELATO JU_ANONIMA, PARTE 2:
    Sinto muita raiva quando me falam isso e às vezes sou agressiva. Sinto muito ódio e às vezes perco o controle quando me sinto ameaçada. Esquece? Como se faz essa mágica? Isso só me deixa com mais e mais ódio. Meu agressor já morreu. Foi uma morte triste, lenta e dolorosa. Eu o ajudei em seu leito de morte, levei flores no enterro e fiz sete dias de luto. Pq eu fiz isso? Pq eu queria provar a mim mesma que eu não sou como ele, que sou alguém melhor. A dor não diminuiu, o ódio não passou. Mas, na hora da morte dele eu o respeitei como ser humano, tive piedade e misericórdia. Antes dele morrer, lá no hospital, senti pena dele de verdade. Fiz isso por mim! Mas, tbm por ele ser um ser humano. Sei lá o que me deu na hora. Eu não fui capaz de negar o socorro que ele precisava. Me fez bem. Não espero que entendam, e nem quero. Eu estou em paz com a minha atitude. Ajudei ele no hospital em seu leito de morte. Ele estava partindo e não poderia fazer mais nada pra me machucar. Ele nem sabia mais quem eu era, nem lembrava. Eu lembrava, mas toda a dor ficou de lado e eu fui apenas solidária. Sei lá, eu não consegui agir de outra forma pq não sou de outra forma de não esta aqui.
    Hoje eu tenho uma filha de três anos, no qual eu super protejo. Eu já ensino para ela certas coisas, como "não podem mexer aqui e vc tem que me contar". Eu converso muito com a minha filha e presto atenção em tudo que ela fala. Ela é muito alegre e eu cultivo essa alegria dela. Eu me tornei alguém melhor depois que ela nasceu. Eu não falo com o pai dela e a crio sozinha, graças a Deus. Eu nunca quis ele por perto. Só queria ter o filho, não o marido. Meus outros relacionamentos foram horríveis, abusivos e fui constantemente estuprada por um ex namorado. Mas, eu achava que era normal, pq eu era namorada dele e achava que ele tinha poder sobre mim por eu ser mulher. Fui criada em uma família de mulheres fortes, mas ao mesmo tempo submissas a seus maridos, e assim fui ensinada. Quando me dei conta do que realmente estava acontecendo, eu explodi. Nunca mais eu permiti um "A" de macho.
    Eu comecei a me prostituir com 18 anos, pq eu botei na minha cabeça que "cansei de chorar de graça".Só via utilidade em homem se fosse de forma financeira. Trabalhei por 10 anos na rua Augusta. Odiei todos os meus clientes, sem eles imaginarem. No puteiro eu percebi como eles são cruéis, egoístas e traidores com suas esposas, fazendo elas de besta. Lá conheci tudo quanto foi tipo de homem, dos bons aos ruins. Fui estuprada outras vezes, mas sempre revidei, bati, arranquei sangue. Nunca mais me calei. Eu chamava o segurança que terminava de espancar os caras. Quando o cara achava ruim, apresentavamos para ele nossos melhores amigos do cabaré: atrás da porta tinha um taco de beisebol escrito em canetão azul "O Gerente" e uma barra de ferro que chamávamos de "Direitos Humanos". A grande maioria das meninas que trabalhavam lá no puteiro já tinham sido violentadas ou molestadas na infância, apanhado do namorado, abusada pelo professor, pelo pai, pastor, primo, etc. Hoje eu não me prostituo mais, pq eu não quero. Só cansei disso! Depois que meu avô morreu, eu parei de sentir tanta raiva. Ainda tenho, mas diminuiu. Hoje eu sei que nem todo homem é ruim e cruel. Mas, antes eu não achava isso.

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  33. RELATO JU_ANONIMA, PARTE 3:
    Sai da zona, fui estudar, cuidar de mim, da minha vida, construi casa e fiz minha vida com aquele dinheiro. Quando engravidei, só pensava em ter uma menina. Se fosse um menino, eu queria cria-lo para respeitar as pessoas em suas diferenças. Hoje eu luto pelos direitos das mulheres, das crianças, dos negros, homossexuais e dos animais. Hoje coloquei minha cabeça no lugar e estudo para fazer do país um lugar melhor para nossas crianças. As trevas ainda existem, mas eu não dou mais atenção pra ela. Odeio ter passado pelos abusos e jamais vou superar isso. Não! Eu não vou e nem quero esquecer. Eu não consigo perdoar. Acho que isso cabe apenas a Deus. E agora que meu agressor morreu, ele que se vire do outro lado com os pecados dele.
    Eu sei que o que me aconteceu marcou a minha vida de tal forma que eu pirei por um tempo. Me joguei na vida, na noite, nas drogas... Eu só queria desesperadamente me distrair com qualquer coisa, mesmo que fosse auto destrutível. Hoje eu me sinto mais madura, mas controlada. Eu consigo conter a minha raiva. Já fiz acompanhamento psicológico. Hoje pratico exercício físico, faço meditação e vou para as missas. Eu percebi que o que aconteceu não pode me definir como pessoa, e que eu tenho o poder de decidir a minha vida, o que eu quero ser e o que quero fazer. Não penso em me matar porque eu gosto demais da vida. Eu gosto da possibilidade de conhecer um mundo tão grande e lindo. A vida não se resume em estupro e agora eu consigo ver fora dessa caixa. Gosto de fazer serviços voluntários, gosto de ajudar as pessoas. A raiva ainda está aqui dentro de mim. As trevas, como disse o rapaz da carta, é algo presente na minha vida. Ela sempre me rodeia. Mas, eu não a alimento. Ela fica ali num cantinho insignificante, onde deve ser o lugar dela. As lembranças doem, claro. No entanto, eu me sinto muito forte, muito foda, um mulherão da porra. Independente de qualquer doideira que eu tenha feito na minha vida, eu me sinto profundamente orgulhosa pela mulher que eu me tornei. Eu precisei cair na insanidade para poder me transformar em quem eu sou hoje. Eu nunca poderei apagar o que aconteceu, mas eu finalmente decidi quem eu quero ser. Vou postar como anônima, pq hoje eu estudo para ser médica, quero ser oncologista pediátrica, cuidar de crianças com câncer e ajudar os familiares. Tudo nessa vida pode ser melhor. Eu acredito em mim e acredito que todo ser humano, independente da sua dor, é capaz de explodir em luz e esperança.

    OBSERVAÇÃO: ONTEM MEU RELATO EM 3 PARTES PORQUE O SITE NÃO ACEITAVAM RELATO COM TANTOS CARACTERES.

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