Quando se fala de história da Igreja, é muito difícil não se falar de Orígenes. Certamente um personagem muito controverso, ele no entanto deixou para a posteridade um enorme legado. No site e-cristianismo se encontra uma biografia deste que foi um dos grandes Pais da Igreja cristã, que nos mostra como ele era famoso em sua época:
Tudo indica que Orígenes tenha nascido em uma família cristã em Alexandria, por volta do ano 185, tendo recebido sólida formação religiosa (sob Clemente) e também secular, completada na escola do filósofo Amônio Sacas, pai do neoplatonismo, o que lhe permitiu ter uma erudição filosófica incomparável entre os Pais da Igreja. No ano 202, seu pai Leônidas foi martirizado durante a perseguição do imperador Sétimo Severo, e os bens da família foram confiscados. O jovem Orígenes incentivou seu pai a ser fiel até a morte e diz-se que sua mãe teve que esconder suas roupas para que ele não saísse de casa e fosse preso. Para poder manter a mãe e seis irmãos menores, Orígenes abriu uma escola de gramática (literatura) e, pouco depois, diante da ausência de quadros qualificados, já que muitos haviam fugido ou sido mortos pela perseguição, o bispo Demétrio de Alexandria incumbe a Orígenes, então com 18 anos de idade, a dirigir a escola de catecúmenos, enquanto procurava enfrentar a forte perseguição aos cristãos. Por algum tempo, seguiu com as duas escolas, mas quando a família teve condições de se sustentar por si própria, dedicou-se exclusivamente à catequese e, nesse particular, opera-se um verdadeiro milagre para a época: sua reputação entre os alexandrinos era tão alta que muitos pagãos e gnósticos passaram a frequentar a escola de catecúmenos para aprender diretamente do jovem mestre.
Não só isto, mas Orígenes influenciou toda a geração de teólogos orientais depois dele. A mesma biografia fala sobre as obras de Orígenes.
Orígenes deixou uma obra gigantesca, sendo que o catálogo compilado por Eusébio dá conta de 2.000 escritos, enquanto Epifânio diz que Orígenes escreveu impressionantes 6.000 obras. O historiador Paul Johnson diz que “parece que trabalhava o dia inteiro e a maior parte da noite e era um escritor compulsivo. Até o intrépido Jerônimo, mais tarde, reclamaria: ‘alguém já leu tudo que foi escrito por Orígenes?’. Seus comentários às escrituras eram tão vastos que nenhum foi transmitido na íntegra. Alguns foram perdidos, outros sobrevivem como paráfrases drásticas”. Eusébio justifica essa alta produtividade com o fato de que “sete estenógrafos que se revezavam em intervalos definidos, e outros tantos escreventes de livros e mulheres calígrafas” (“Histórica Eclesiástica”, VI, 23, 2), provavelmente patrocinados por Ambrósio. De qualquer maneira, 800 desses escritos chegaram até nossos dias. Poucos, entretanto, trazem os textos originais, já que a maioria foi expurgada pelas controvérsias origenistas posteriores, e outra parte sobreviveu apenas por meio de traduções sofríveis.
A história no entanto nos reserva sempre grandes surpresas. Isto aconteceu recentemente, quando a professora Marina Molin Pradel foi preparar um novo catálogo dos manuscritos gregos da Bayerische Staatsbibliothek, em Munique (Alemanha)
Enquanto examinava o conteúdo do Codex Monacensis Graecus 314 (do século 11 a 12), uma coleção anônima de 29 homílias (supostamente inéditas) dos Salmos, ela descobriu que os manuscritos incluíam 4 das 5 homílias de Orígenes sobre o Salmo 36 traduzidos por Rufino.
Além disto, a pesquisadora descobriu que a lista de homílias corresponde em uma larga extensão àquela apresentada por Jerônimo em sua carta 33 a Paula, sendo o grupo mais importante aquele de 7 homílias no Salmo 77.
A descoberta já está sendo chamada nos circuitos bíblicos eruditos de "o achado do século".
A auspiciosa notícia nos chega através de Lorenzo Perrone, o maior especialista em Orígenes na atualidade, e que já está trabalhando na transcrição dos textos. Parece haver inclusive textos considerados perdidos. Sua carta à comunidade pode ser lida em inglês, aqui.
Esta é sem dúvida uma descoberta fantástica, já que não tínhamos textos de Orígenes em seu idioma original. O que uma visita ao "arquivo morto" de uma biblioteca não pode ressuscitar e nos revelar, não é mesmo?