segunda-feira, 11 de junho de 2012

Há judeus no Irã

Sinagoga em Teerã
Apesar do Malafaia já ter pago anúncio na imprensa contra o Irã (sem especificar de onde saiu o dinheiro para essa sua desventura diplomática... aquele dinheiro que ele pede para "anunciar o evangelho", lembra?...  tá sobrando grana, hein, Silas!), ele deveria ler interessante matéria publicada na Folha de S. Paulo de ontem, 10/06/12:

Judeus no Irã têm liberdade com limites


Proibida de contato com Israel, comunidade judaica no país persa é a segunda maior no Oriente Médio, com 20 mil 

Minoria religiosa se define como ortodoxa e não é submetida à legislação islâmica em questões civis e morais


SAMY ADGHIRNI 
DE TEERÃ

Homens com quipá na cabeça entram na sala. Acomodam-se em pé um ao lado do outro e começam a ler a Torá, enquanto balançam o corpo. Mulheres estão numa área separada. Cânticos suaves em hebraico ecoam.

A sinagoga Abrishami seria idêntica a tantas outras pelo mundo não fosse pelo fato de estar situada em Teerã, capital de um país cujo presidente questiona o Holocausto e defende que Israel seja varrido do mapa.

O Irã governado por Mahmoud Ahmadinejad abriga até hoje a segunda maior comunidade judaica no Oriente Médio, depois de Israel.

Ao menos 20 mil judeus vivem hoje espalhados pelo país persa -eram 80 mil até a Revolução Islâmica de 1979.

Eles enfrentam algumas restrições e são vistos com desconfiança por setores ultrarradicais. Mas, vivendo sob reconhecimento e proteção do regime, formam uma das minorias judaicas com maior liberdade religiosa nos países de maioria islâmica.

"Nossa vida é tranquila, ninguém nos incomoda", diz a dona de casa Sarah, 47, na sinagoga Abrishami, uma das 11 em Teerã.

Numa comunidade que se define como ortodoxa, judeus iranianos mantêm escolas israelitas para os filhos e não estão sujeitos à lei islâmica em questões civis e moral. Quem dá a palavra final em divórcio ou herança são rabinos consultados pelo regime.

A comunidade, que diz rejeitar a ideia de um ataque israelense ao Irã, também tem direito de adquirir ou produzir vinho para uso em cerimônias religiosas. Para os iranianos muçulmanos, bebida alcoólica pode levar à cadeia.

NEGÓCIOS

A maior parte das famílias judias tem atividades empresariais bem-sucedidas. "Nossa mente é voltada para a economia, como a dos judeus no resto do mundo", brinca o empresário Yoram, 29.

Os judeus são presentes na política por meio de uma cadeira no Parlamento. O atual representante é Ciamak Moreh Sedgh, reeleito em março para mais quatro anos.

Ele diz manter excelentes relações com os outros deputados e com o Executivo.

"Sou iraniano acima de tudo. Minha língua é o farsi, e minhas raízes estão aqui", afirma Moreh Sedgh, um médico de carreira que dirige o hospital judaico Sapir, instituição de caridade em Teerã.

"Tenho muito mais afinidade com iranianos muçulmanos do que com judeus no Reino Unido", diz.

Na mesa do seu escritório, há um candelabro judaico, e, na parede, um retrato do aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador da República Islâmica.

O deputado afirma que um antissemitismo organizado, "do tipo europeu", não existe no Irã. Mas ele admite se incomodar com as dúvidas emitidas por Ahmadinejad sobre o Holocausto.

"Já falei com ele pessoalmente sobre esse tema. Eu sei que 6 milhões de judeus foram exterminados na Segunda Guerra Mundial".

Sobre os reiterados apelos do presidente pelo desaparecimento de Israel, ele diz que se trata de "uma declaração política, não militar".

ELOGIO A AHMADINEJAD

Apesar da retórica incendiária, Ahmadinejad é visto por alguns como o presidente do Irã mais preocupado com a minoria judaica.

Moreh Sedgh diz que o hospital israelita de Teerã, dependente de doações, foi salvo da falência em 2008 pelo presidente, cujo escritório contribui desde então com US$ 2 milhões anuais.

Ahmadinejad também é elogiado por Farhad Aframian, 32, que diz ser o único advogado judeu do Irã.

Ele diz que a principal revista da comunidade judaica sobrevive graças a doações do escritório presidencial.

Mas muitos judeus iranianos odeiam Ahmadinejad.

"Como alguém que se diz acadêmico pode dizer tanta besteira? Esse cara é doente", murmura um dos fiéis na sinagoga Abrishami.

Alguns se queixam de discriminação na hora de conseguir emprego e de festivais de caricaturas antijudaicas promovidos pelo regime.

Mas o que mais incomoda é a proibição de qualquer elo com Israel, linha vermelha traçada pelo regime. Há relatos de judeus presos por telefonar a conhecidos em Tel Aviv ou Jerusalém.

É consenso que o regime nos últimos anos passou a fazer vista grossa para cidadãos que viajam a Israel, mas qualquer manifestação de apoio ao Estado judaico é passível de pena de morte. "Essa lei vale para todos, não só para judeus", diz Aframian.



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