quinta-feira, 21 de junho de 2012

Teologia na lanhouse

Interessante artigo publicado no IHU sobre a teologia em tempos de internet:

Quando a teologia se torna rede

"É a busca inesgotável de sentido que me fez entender o valor do cabo USB que eu tenho na minha mão. E eu sei que o meu iPad tem a ver com o meu inextinguível desejo de conhecer o mundo, enquanto o meu Galaxy Note me diz (mesmo quando está em silêncio) que eu sou feito para não estar sozinho. Mas é a poesia de Whitman que me dá o gosto do progresso. E é Eliot que me deixa atento para não cair nas suas ciladas. Mas também é Flannery O'Connor me me faz entender que 'a graça vive no mesmo território do diabo' e, pouco a pouco, o invade".

A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 13-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Quem escreve estas intensas linhas poderiam ser um jovem literato apaixonado por tecnologia. Ou um poeta capaz de confiar nos instrumentos mais modernos da escrita. Ou ainda um filósofo capaz de se deslindar tanto na espiritualidade quanto nas fronteiras mais avançadas da inovação digital.

É, ao contrário, um padre. Um jovem, sim, mas já afirmado sacerdote ou, melhor, um teólogo, que provavelmente como muitos outros colegas seus é capaz de unir a sua pesquisa – e o ensino religioso – servindo-se das formas mais recentes que a rede oferece. Como demonstração, mais uma vez, de que a Igreja, das mais remotas paróquias de periferia até os austeros Sagrados Palácios do Vaticano, está adotando uma revolução que está transformando a sua abordagem e a sua linguagem.

Pioneiro desse desenvolvimento é certamente o padre Antonio Spadaro. Um jesuíta de Messina, de olhar atento, há poucos meses diretor de uma revista quinzenal prestigiosa como a La Civiltà Cattolica que é publicada com o imprimatur da Secretaria de Estado vaticana, e pessoa cujos interesses vão justamente da literatura à poesia, da pintura à música. E que encontra uma síntese fundamental dos seus próprios horizontes na religião explicada também através do uso da tecnologia.

O Vaticano, no mais alto nível, se deu conta desse professor de 45 anos da Pontifícia Universidade Gregoriana. O o próprio Papa Bento XVI recentemente o nomeou consultor em dois dicastérios-chave, o da Cultura, confiado às capacidades multiforme do cardeal Gianfranco Ravasi, e o das Comunicações Sociais, confiado às sábias mãos de Dom Claudio Celli.

Foi Spadaro, ainda em 2006, que se dedicou aos novos fenômenos da interatividade livros como Connessioni. Nuove forme della cultura al tempo di Internet e, há dois anos o inovador Web 2.0. Reti di relazione.

Muito ativo no âmbito das redes sociais online, fundou em 1998, um dos primeiros sites de escrita criativa, o Bombacarta.it. No ano passado, ele também inaugurou o blog Cyberteologia.it, abrindo enfim uma página no Facebook, uma conta no Twitter e, por último, um jornal online.

Portanto, um veterano. E este seu novo livro, Cyberteologia. Pensare il Cristianesimo al tempo della rete (Ed. Vita e Pensiero, 148 páginas), não é de fato uma coleção de mensagens, mas, sim, uma reflexão argumentada sobre a questão de se a revolução digital em curso no mundo contemporâneo também toca, de alguma forma, hoje, a esfera da fé.

E a resposta que o teólogo e diretor da Civiltà Cattolica dá de um modo nada assertivo, mas problemático, é que agora talvez chegou o momento de considerar a possibilidade de uma "ciberteologia", vista como "inteligência da fé no momento da rede". Porque a lógica das redes oferece intuições inesperadas para a possibilidade de abordar temas como a transcendência, a comunhão, o dom. E, em tudo isso, a teologia pode ajudar o ser humano a encontrar caminhos novos e mais apropriados.

Mas Spadaro, com a sua paixão pelas artes e o seu indiscutível background tecnológico, admite que "hic sunt leones", isto é, trata-se de um território ainda inexplorado, selvagem, pouco frequentado. Diante do qual ele mesmo, no início, se sentiu desconfortável, na tentativa de explicar, diante da tela branca do seu computador.

Depois, ele resolveu o impasse. E a leitura vale o tempo empregado, até as últimas páginas, tecidas a partir da junção de grandes pensadores, alguns já com a mente estendida às mudanças de hoje: "Foi o poeta Gerard Manley Hopkins que me ajudou a entender o papel da inovação tecnológica, foi o jazz que me fez entender o papel das redes sociais, são os teólogos – de Tomás de Aquino a Teilhard de Chardin – que me iluminaram sobre as forças que tornam o ser humano ativo no mundo, participando da Criação, e que elevam o ser humano a uma meta que o supera, muito além de qualquer excedente cognitivo".



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