segunda-feira, 28 de julho de 2014

100 anos atrás, começava a Primeira Guerra Mundial

A guerra das trincheiras
Exatos 100 anos atrás, no dia 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro invadia a Sérvia, dando início ao primeiro grande conflito de escala mundial, que ficou conhecido como a "Grande Guerra" até que a invasão nazista da Polônia em 1º de setembro de 1939 inaugurasse outro confronto ainda maior, colocando os ordinais "Primeira" e "Segunda" em cada uma delas.

O estopim para a Guerra de 1914 foi o assassinato, em Sarajevo (capital da Bósnia-Herzegovina), do arquiduque Ferdinando Francisco, no dia 28 de junho daquele ano, conforme já tivemos oportunidade de comentar aqui.

As verdadeiras causas do conflito, entretanto, são outras. A primeira que merece ser citada é o colonialismo tardio europeu, junto de seu irmão gêmeo, o imperialismo que grassava no continente naquela época.

Imperialismo em charge da época:
a China sendo fatiada por Reino Unido,
Alemanha, Rússia, França e Japão.
É estranho para o homem do século XXI pensar em colonialismo nos termos de 100 anos atrás, já que hoje o poder de um país sobre outro se impõe de maneira muito mais, digamos, sutil, e o imperialismo ganhou o adjetivo "econômico".

A Europa continua multifacetada como era 100 anos atrás, uma colcha de retalhos de territórios e povos embalada por um pout-pourri de idiomas e dialetos com fronteiras nacionais mal definidas.

Claro que hoje existe a União Europeia para domar, a duras penas, os nacionalismos basco e catalão na Espanha, apenas para citar um exemplo bem conhecido de todos, mas a tensão continua sempre presente.

Na Europa de 1914 os conflitos étnicos eram muito mais complicados, visto que as fronteiras e os Estados eram muito pior definidos do que atualmente.

Nesse caldeirão de rivalidades, a Alemanha, que havia sido oficialmente unificada em 1871, sob o comando de Bismarck, chegava atrasada à corrida colonialista que espanhóis, portugueses, ingleses e franceses já vinham desenvolvendo com estrondoso sucesso por mais de 3 séculos.

Seu tradicional grande aliado, o Império Austro-Húngaro (oficialmente criado em 1867), tinha tantos problemas com nacionalidades rivais no seu próprio território, que sequer podia pensar em se aventurar além de suas fronteiras.


Mulher dá flores a soldado alemão deixando Berlim para ir à guerra em 1914.
Mal sabiam eles o inferno em que jogariam o mundo por 3 décadas.

A Alemanha unificada não queria continuar assistindo de camarote a hegemonia do grande império britânico, seu maior rival, governando de sol a sol o mundo colônias inimagináveis para o mundo atual, como a China e a Índia.

A Namíbia, por exemplo, se tornou colônia alemã na África a partir de 1885.

A África fatiada entre os europeus
A esse caldo pútrido de colonialismo, imperialismo e nacionalismo exacerbados se somou o tradicional militarismo dos países europeus, tristemente acostumados que estavam às guerras localizadas dos séculos anteriores.

Havia outro ingrediente que hoje é bem conhecido, mas nascia com todo vigor naquela época: a tecnologia, que permitia incrementar as armas e máquinas de guerra.

Fizeram sua estreia no teatro de operações da Primeira Guerra, apenas para citar alguns "apetrechos", a metralhadora, as armas químicas, os tanques, submarinos e aviões.

O período entre o fim da Guerra entre Rússia e Japão (com derrota dos primeiros) em 1905 e 1914 ficou conhecido como "A Paz Armada", o que revelava as tensões latejantes entre as nações.

Enquanto isso, o outrora glorioso Império Otomano (hoje representado pela Turquia) se esfacelava, o que estimulava o apetite das potências da época em levar o conflito a uma escala mundial.

Tudo isso permitiu, por assim dizer, que os alemães e austríacos se sentissem autorizados a promover uma guerra de expansão territorial e econômica dentro do seu próprio continente, mas os seus cálculos se revelaram muito mal feitos.

Tríplice Aliança x Tríplice Entente
Bateram-se inicialmente então, de um lado a Tríplice Aliança, formada por Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália (esta viraria de lado em 1915), e a Tríplice Entente, composta por Reino Unido, França e Rússia, com adesões posteriores de lado a lado.

Apesar do sucesso inicial na invasão da França e - sobretudo - da Rússia, as tropas alemãs tiveram seu avanço detido pela guerra de trincheiras, que, no primeiro ano de guerra, permitiu que situações inusitadas acontecessem, como o Natal comemorado conjuntamente pelos inimigos no Natal de 1914, conforme já tivemos oportunidade de registrar aqui.

No flanco oriental, a revolução bolchevique na Rússia fez com que o novo governo comunista buscasse um armistício com os alemães, o que permitiu a estes que concentrassem suas forças no front ocidental.


Nem tudo são flores no campo de batalha. Ou - pior - não há lugar nem tempo para flores por lá.

Nada mudou, entretanto. Apesar da aparente imobilidade dos exércitos nas trincheiras, os alemães foram colecionando derrotas e - principalmente - gastos.

A mídia alemã vendia ao seu povo a ilusão de que a vitória final era apenas questão de tempo, enquanto os cofres públicos se esvaíam.

Apesar do fôlego obtido com a paz com a Rússia, a entrada dos Estados Unidos na guerra em 1917 fez com que o Império Alemão visse a balança virar em seu desfavor.

1917 foi o ano em que o Brasil também entrou na guerra, em retaliação ao torpedeamento do vapor "Paraná" (em 5 de abril), do navio "Tijuca" (em 20 de maio) e do cargueiro "Macau" (em 23 de outubro), supostamente por submarinos alemães.

A participação brasileira, entretanto, foi mínima, até porque pouco restava o que fazer para encerrar o conflito. Limitou-se a um grupo de aviadores enviado à Força Aérea britânica, um corpo médico-militar integrado às forças francesas e o patrulhamento naval da costa noroeste africana até o estreito de Gibraltar.

Desta maneira, impedidos de sustentar sua máquina de guerra, os alemães se rendem em 11 de novembro de 1918, deixando atrás de si um sangrento rastro de cerca de 20 milhões de mortos espalhados por vastas áreas do globo.

Apesar da insistência do então presidente americano, Woodrow Wilson, em estabelecer uma paz permanente e não tão humilhante para a Alemanha, o Tratado de Versalhes de 1919 impôs condições duríssimas aos teutônicos, o que manteve as tensões latentes para engendrar, pouco tempo depois, o macabro fenômeno do nazismo e o terror da guerra que se seguiu.


Prenúncio do terror: um exultante Hitler saúda o anúncio do início da guerra em Munique em 1914

De certa maneira, as duas Grandes Guerras podem ser consideradas como uma só, com um interstício de 20 anos, visto que tudo o que não foi resolvido na Primeira resultou na Segunda, em que a violência ganhou contornos exponencialmente muito piores.

Hoje, 28 de julho de 2014, é - portanto - uma data que merece ser lembrada porque o fantasma de um novo conflito de escala mundial, apesar de arrefecido por iniciativas de relativo sucesso como a União Europeia e a ONU, continua batendo à porta, e - se vier a acontecer - poderá ser o último que o planeta verá.



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