segunda-feira, 1 de julho de 2013

Diocese americana divulga hoje relatório bombástico sobre pedofilia

Hoje, 1º de julho de 2013, é um dia particularmente difícil para a Arquidiocese de Milwaukee, no Estado norteamericano do Wisconsin, que foi por muito tempo capitaneada pelo atual arcebispo de Nova York, Timothy Dolan (foto ao lado).

[O cardeal Dolan, para quem não se lembra, foi um dos cotados para substituir Bento XVI no conclave papal de março de 2013]

É que às 13 horas de hoje (15 horas em Brasília) será divulgado um amplo relatório sobre os abusos sexuais praticados por 42 sacerdotes contra crianças das paróquias comandadas pela referida Arquidiocese, resultado do processo judicial de falência pelo qual ela passa.

O atual arcebispo (e sucessor de Dolan em Milwaukee desde 2009), Jerome Listecki, já se adiantou na carta semanal que envia aos católicos sob seu comando, dizendo que "não é necessário dizer que há algumas coisas terríveis descritas em muitos dos documentos", chegando a aconselhar: "Preparem-se para ficar chocados".

Entre os documentos ansiosa e tristemente esperados estariam detalhes sobre como os oficiais da igreja transferiram sacerdotes de uma paróquia (ou escola) para outra sem divulgar seus crimes, correspondência entre a Arquidiocese e o Vaticano e supostas provas de que o antigo arcebispo local, Timothy Dolan, teria oferecido dinheiro para que alguns padres aceitassem a decisão sem protesto.

A cereja podre desse mórbido bolo de horrores seria, entretanto, os relatos explícitos de como os menores de idade foram abusados por quem deveria cuidar de sua integridade física e emocional.

A juíza federal de falências Susan V. Kelley é uma das poucas pessoas que já tiveram acesso aos referidos documentos, e seu testemunho a respeito deles é bastante contundente e desagradável.

Comentando sobre os dez garotos adolescentes que foram abusados sexualmente pelo padre Franklyn Becker desde o começo dos anos 1960, Kelley reportou: "toda vez que eu tenho que ler esses arquivos, eu fico completamente arrasada".

O advogado Jeffrey Anderson, que representa a maioria dos 575 homens e mulheres que entraram com as ações de perdas e danos no processo de falência da Arquidiocese, diz que a liberação pública dos documentos é uma vitória para as vítimas e os sobreviventes de décadas de abusos cometidos por padres a ela subordinados.

Sustenta Anderson que o que os sobreviventes do escândalo mais querem é proteger as atuais crianças, "e a única maneira que você pode fazer isso é ter uma revelação completa do que aconteceu no passado".

Por sua vez, uma das vítimas de Franklyn Becker quando tinha 14 anos de idade, Charles Linneman, que hoje mora em Sugar Grove, Illinois, alega que não conhece nenhuma vítima ainda viva que queira manter secretos os arquivos, afirmando que "liberar esses documentos não vai nos machucar. O dano já foi feito. Nós não podemos sofrer mais do que nós já sofremos".

Os casos mais emblemáticos entre os padres pedófilos talvez sejam o do padre Lawrence Murphy, a quem se atribui o abuso sexual de cerca de 200 garotos surdos na escola especial destinada a eles, mantida pela Arquidiocese; e o do padre Sigfried Widera, contra quem constam 42 acusações de pedofilia tanto em Wisconsin como na California, o que o levou a se suicidar em 2003, quando saltou da janela de um hotel no México, ao ver se fechar o cerco policial contra si.

Estranho e vergonhoso é saber que o padre Murphy trabalhou na escola para surdos de 1950 a 1974, período mais que suficiente para que alguma autoridade eclesiástica local tivesse percebido que algo errado estava acontecendo por lá.

Na foto, o padre Murphy é o monstro sacerdote à esquerda, com as mãos justapostas.

Apesar da divulgação pública dos dados - até hoje secretos - do processo, alguns cuidados serão tomados para não identificar as vítimas e as suas famílias, além de situações específicas de sigilo jurídico ou médico.

Os documentos serão publicados concomitantemente nas páginas na internet tanto da Arquidiocese de Milwaukee como do grupo que representa as vítimas às 15 horas (de Brasília) de hoje, 1° de julho de 2013.

A fonte da informação é o Journal Sentinel, de Milwaukee (WI).



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