terça-feira, 3 de junho de 2008

O evangelho de Lucas - parte 31

Já no capítulo 18, Jesus começa ensinando a seus discípulos alguns valores importantes sobre a oração, como o próprio Lucas diz no primeiro versículo. Era sobre o dever de orar sempre, já que no final do capítulo anterior, Jesus fala de seu retorno. Era importante para seus discípulos vigiarem, como diz em outro local:

(Mt 24:42) Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor;

Por isto Jesus ensina o valor da oração sem cessar. Para isto, emprega o exemplo de um juiz que não temia a Deus e nem respeitava os homens. Tal homem jamais teria compromisso algum com quem quer que seja. Ele diz também que uma viúva, uma das pessoas mais desamparadas, pedia sempre para que sua causa fosse julgada. O fim da parábola é que mesmo o juiz não devendo nada para ninguém, ele resolveu ajudar a mulher, pois ele não queria mais ser incomodado por ela.

Imagine agora para Deus, sendo você um seguidor fiel d'Ele. Se um juiz que não temia ninguém ajudou uma viúva, por que ela o incomodava com tantas petições, Deus não nos ajudaria sendo nós seus seguidores, e Ele tendo prazer em ajudar-nos?

Outra parábola é proposta para aqueles que confiavam em si mesmos. Um fariseu e um publicano foram orar. O fariseu agradece por ser mais santo que o publicano, enquanto que o publicano pede perdão. Jesus então ensina que é o publicano que foi justificado em suas orações, pois ele se humilhou. Mais uma vez aqui vemos uma crítica quanto ao proceder principalmente de fariseus. A humildade tem que ser uma constante na vida do cristão. Não devemos nos enaltecer, ou nos vangloriar daquilo que fazemos. Devemos lembrar, como foi dito no capítulo anterior, que tudo que fazemos estamos fazendo em débito. Também é relatado que se traziam crianças para que Cristo as tocasse, mas eram repreendidos pelos discípulos. A intenção de se trazer crianças para Cristo é melhor explicada em Mateus:

(Mt 19:13) Então lhe trouxeram algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreenderam.

Jesus no entanto os repreende, dizendo que é delas o Reino dos Céus. Marcos complemente a passagem dizendo:

(Mc 10:15) Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de maneira nenhuma entrará nele.
(Mc 10:16) E, tomando-as nos seus braços, as abençoou, pondo as mãos sobre elas.


Para os discípulos, as crianças não tinham condições de interagir com Cristo, tanto que foram levadas até Ele, não foram sozinhas. Aqueles que crêem em Cristo querem que seus filhos sejam também abençoados por Ele. Cristo, contrariando suas espectativas, declara que aquelas crianças da fato são um exemplo para todo o cristão, é delas que o Reino dos Céus é, e como elas, todo o cristão deve ser. Aqui, temos uma aplicação daquilo que foi dito na parábola anterior, ou seja, ser humilde.

Em seguida, um homem, referido por Lucas como um dos principais, pergunta para Cristo como obter a vida eterna. A passagem é muito usada por arianos, pois o homem chama Jesus de bom mestre, e o Senhor lhe responde que bom é somente um, que é Deus. Estaria Jesus negando sua divindade?

Em primeiro lugar, devemos observar que nosso Senhor não negaria a si mesmo, quando em outros lugares Ele diz:

(Mt 12:35) O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.

(Jo 10:11) Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.


Por outro lado, se Cristo não fosse bom, estaríamos dizendo que Ele como nós, era um pecador. Uma pessoa que não peca pode ser justamente chamada de pessoa boa, e por isto Deus é o único que pode ser chamado de bom: Ele não peca. Porém, se Cristo não é bom, então ele peca, então o que é dito sobre Ele em Hebreus é invalidado:

(Hb 4:15) Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer- se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.

É por esta razão que se entende que Cristo aqui estava forçando aquele homem a refletir sobre sua declaração. Afinal, reconhecer Cristo como Filho de Deus, um título divino, estava intimamente relacionado com a salvação (Mt 16:17-19; Jo 5:18), a questão feita por aquele homem. Jesus era bom? Então ele deveria ser Deus.

Então Jesus indica ao homem os mandamentos. Talvez aqui alguns possam alegar alguma relação entre se observar certos mandamentos, e ser salvo. Mas devemos levar em conta que estes mesmos mandamentos indicavam Cristo, que é o cumpridor deles.

O homem alega então que já observava aqueles mandamentos, como se justificasse perante todos. Assim, Jesus complementa o que disse, pedindo para o homem dar todas as suas riquezas aos pobres, e seguí-lo. Assim, o jovem por ser muito rico desiste da conversa e se vai. Como Jesus disse, é muito difícil que um rico se salve. Não por que é rico, mas por que geralmente o rico ama as suas riquezas. E a surpresa dos discípulos sobre isto está no fato já comentado antes, que se acreditava que a riqueza era um sinal de aprovação divina. Por isto perguntaram, então quem poderia ser salvo? Muitos acham que a pobreza é um problema, mas Cristo aqui menciona que a riqueza é um problema ainda maior. Como diz Paulo adiante:

(1Ti 6:9) Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.
(1Ti 6:10) Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.


Mas para Deus, tudo é possível. E é pela graça que somos salvos, pela graça, ricos também foram salvos, como Zaqueu, José de Arimatéia, Barnabas. Pedro em resposta, diz que eles deixaram tudo para seguir Cristo. Este os consola, dizendo que aqueles que deixaram suas coisas para seguí-lo, serão recompensados no reino vindouro. É como uma troca, onde recebemos algo muito melhor, e que muitas vezes não é tão evidente. Somente a fé pode demonstrar o quanto é melhor.

No versículo 31, Jesus propõe seguir para Jerusalém, onde sofrerá o martírio. Jesus explicou para eles o que iria lhe suceder, mas estas palavras para eles eram de difícil compreensão. Somente depois da crucificação de Jesus eles saberiam o que significa aquilo.

No caminho para Jerusalém, em Jericó, um cego se aproximou dele para ser curado. Como não sabia onde Jesus estava, começou a gritar por ele, onde foi repreendido. Aqui vemos um exemplo da obstinação que Jesus pregou no início do capítulo. O cego não desistiu de pedir para que Jesus o ajudasse, e desta forma foi atendido. Como era de se esperar de uma pessoa tão obstinada, ao ser curado, seguiu Cristo, glorificando a Deus pela sua cura. O que nos ensina também que depois de muito pedir por algo, devemos também agradecer pelo que nos foi concedido. Jesus disse àquele cego que sua fé o havia salvado. Que nossa fé nos salve de nossa cegueira, que nós sejamos tão obstinados como aquele cego em oração para sermos curados, e que possamos agradecer todos os dias pelas graças concedidas.

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