quarta-feira, 11 de junho de 2008

O evangelho de Lucas - parte 32

O capítulo 19 marca a entrada de Jesus em Jericó (v. 1), acompanhado por uma enorme multidão (v. 3) que se somava aos moradores da cidade que se ajuntaram para vê-lo. Entre eles estava Zaqueu, o "maioral dos publicanos", ou seja, o chefe dos cobradores de impostos da região, certamente alguém muito mal visto pelo povo, já que tinham fama de corruptos. Zaqueu não resistiu à curiosidade e subiu num sicômoro a fim de ver Jesus, mas certamente algo mais lhe ardia no coração quando, apesar de sua posição de respeito, não teve vergonha de subir numa árvore para ver Jesus (v. 4). Detalhista como era, Lucas conta que Zaqueu tinha baixa estatura física, à qual se agregavam as suspeitas sobre a sua estatura moral. Jesus parou debaixo da árvore, olhou para cima e chamou-o pelo nome, dizendo que convinha que ele ficasse na casa de Zaqueu naquele dia (v. 5). Este desceu mais do que depressa e o recebeu com alegria (v. 6). Muito provavelmente, apesar de toda a sua riqueza e posição social, algo o incomodava profundamente, talvez uma necessidade de sentir-se aceito pela sua comunidade, e um profundo desejo de sentir-se aceito por Deus. Zaqueu recebeu Jesus em sua casa, o que gerou muitos comentários maldosos, pelo fato do Mestre se hospedar com um homem tido por todos como pecador notório (v. 7). A visita de Jesus à casa de Zaqueu foi tão significativa para este, que ele decidiu doar metade dos seus bens aos pobres e, se houvesse defraudado alguém, restituiria quatro vezes mais (v. 8). O fato de ter se levantado mostra a sua disposição de agir rapidamente e resolver as coisas de modo a reconciliar-se com Deus. Zaqueu não ficou apenas na intenção, mas tomou uma atitude de conversão, que verdadeiramente mostrava o repúdio público ao seu estilo de vida anterior. Diante de tal demonstração de fé e arrependimento, Jesus diz que a salvação havia chegado àquela casa (v. 9), pois "o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido" (v. 10).

A seguir, Jesus lhes conta a parábola das dez minas, que guarda alguma semelhança com a parábola dos talentos relatada por Mateus (25:14-29). A diferença mais significativa é que aqui se trata de um valor fixo que o homem nobre confia aos dez servos. Todos eles receberam uma mina (v. 13), o equivalente a cem dracmas, ou seja, uma grande quantia para a época, e deveriam negociá-las e fazê-las render. A história envolve este homem nobre que parte para uma terra distante a fim de tomar posse de um reino, o que não deixa de corresponder a uma história real que os judeus conheciam. Por ocasião da morte de Herodes, seu filho Arquelau foi a Roma reivindicar o seu reino, mas os maiorais dos judeus também enviaram uma delegação para pedir que ele não assumisse o trono. Arquelau ainda reinou por 10 anos, mas sua crueldade e despotismo fizeram com que mais judeus se revoltassem e ele foi destronado e enviado ao exílio na Gália. Seu irmão Herodes Antipas assumiu uma fração do seu reino e alguns dias depois deste episódio em Jericó, participaria do julgamento de Jesus. A parábola das minas envolve, basicamente, 3 dos 10 servos a quem havia sido confiada a soma de dez minas. Quando o rei retorna e lhes pede que prestem contas (v. 15), o primeiro lhe entrega dez minas, ou seja, 10 vezes mais do que havia recebido (v. 16), no que é elogiado e recebe a promessa de recompensa do rei (v. 17). O mesmo acontece com o segundo, que fez render cinco minas (vv. 18-19). O terceiro embrulhou a mina num lenço, com medo do rei (vv. 20-21), e é repreendido (v. 23) e castigado (v. 24), sendo que a sua única mina é repassada ao que tinha dez (v. 25). Trata-se de uma parábola, portanto, sobre a necessidade de se trabalhar para o reino de Deus e de ajudar a multiplicá-lo. "Todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado" (v. 26).

Chega então o grande momento de entrar em Jerusalém. A missão terrena de Jesus estava muito próxima do fim. Não deve ter sido fácil para Jesus ter passado por Betânia pela última vez (v. 29), e ainda bem junto do Jardim das Oliveiras, cenário dos graves acontecimentos finais. Se havia um lugar em que Jesus se sentia bem, era em Betânia, na casa de Maria, Marta e Lázaro, e foi dali que ele despachou dois discípulos em busca de um jumentinho na aldeia vizinha (v. 30). Certamente, havia uma rede de discípulos que já havia traçado o plano para arranjar o animal, e muito provavelmente a expressão "Porque o Senhor precisa dele" era a senha para que o animal fosse entregue (vv. 31-34). Jesus montou no jumentinho e, cumprindo a profecia de Zacarias 9:9, entrou em Jerusalém, aclamado pela multidão que pouco tempo depois se voltaria contra ele (vv. 35-38). O contraste é marcante. Agora, a multidão faz um alvoroço tal que os fariseus se desesperam e pedem que Jesus os repreenda (v. 39), certamente temerosos de que os romanos tomassem aquele acontecimento como uma revolta popular. A resposta de Jesus, de que "se eles se calarem, as próprias pedras clamarão" (v. 40), mostra que aquele trajeto final era inevitável, e nada nem ninguém conseguiria deter o ritmo e o rumo dos passos do Mestre em direção ao Calvário. Jesus, então, chora sobre a cidade, lamentando por todas as chances que os judeus tinham perdido de exercer e cumprir a sua vocação e ministério como povo escolhido (v. 42). Jesus prediz a destruição de Jerusalém (v. 43), que ocorreria no ano 70, porque não haviam reconhecido a oportunidade da sua visitação (v. 44), bem ao contrário de Zaqueu, que havia recebido a visita de Jesus em sua casa, e com ela a salvação. Há uma rápida referência à purificação do templo dos vendilhões (v. 45), episódio que os quatro evangelistas relatam, mas Lucas é o mais lacônico deles. É no templo que Jesus passará mais alguns dias, pregando e ensinando (v. 47), enquanto os sacerdotes, os escribas e os maiorais do povo, preocupados com a repercussão da sua visita a Jerusalém, ao invés de recebê-lo, conspiravam para eliminá-lo (v. 48).

7 comentários:

  1. não consegui encontrar, até hoje, seus excelentes comentários de Lucas dos capítulos 23 e 24! achei esta obra por demais útil e edificante. gostaria de obter...
    se NÃO terminou, porque parou tão perto do fim?
    robsontj@ibest.com.br

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  2. Obrigado pelo comentário, Robson!

    É verdade, você tem razão, estão faltando os capítulos 23 e 24 de Lucas, finalmente alguém percebeu.... rsrs... é que naquela época, em 2008, o Gustavo e eu fazíamos estes estudos para um fórum que tínhamos (e depois os postávamos aqui), e - se não me engano - perdemos a base de dados e desanimamos. Não foi exatamente um desânimo, mas procrastinação mesmo, fomos deixando pra depois, pra depois, e você sabe como funcionam essas coisas, não retornamos mais aos estudos.

    Entretanto, como você mostrou interesse e foi útil e edificante para você, assim como foi pra nós e pra outras pessoas, vou retomar os estudos e assim que postar aqui, te aviso por email, ok!

    Abraços!

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  3. caros Hélio e Gustavo, tenho uma lembrança de insistência: este comentário pedindo a conclusão foi meu 2º contato(acho que eu enviei um e-mail). vejam QUÃO importante foram seus apontamentos(ainda que junto a várias outras fotes :) ), que agora eu 'assino' meio corporativo, meio institucional... (só há EU movendo o projeto)
    que Deus os abençoe muito!
    www.doutoresdealmas.org

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  4. Obrigado, Robson, pelo apoio e pelo elogio, muito nos honra, mas toda honra e glória dedicamos a Deus.

    A continuação do estudo de Lucas está saindo do forno. É que o Gustavo e eu estamos envolvidos em outros projetos e viagens, e vamos fazendo aos poucos. Eu mesmo cheguei do Mato Grosso hoje, depois de 10 dias visitando parentes e amigos, em que muitas das postagens já estavam adiantadas e agendadas.

    Não nos esquecemos de você não, essa semana ainda teremos o cap. 23 de Lucas, e o 24 vem em seguida.

    Abraços!

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  5. acho que o trabalho de voces possui maior vulto do que possa aparentar. se não, o que estaria fazendo o mestre Ciro Zanbordi no meio(lá no final)de "Todos os Membros"? qual é a real gama de vossos trabalhos?...
    não sei, mas a descrição de "sobre o blog" me pareceu meio contida em relação ao que demonstram em seus textos/idéias. excetuando-se a possibilidade de voces não quererem mostrar tudo de voces, me parece que, talvez, voces possuam muito mais dracmas do que pensam. acho que se reavaliarem a suspensão, motor e caixa, farão muito mais. não estou dizendo que este trabalho(o blog) seja algo fraco nem pequeno. mas tenho uma impressão de que há um laboratório fabricando invenções. entrem nele! ;)

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  6. Caro Robson,

    as suas palavras muito nos alegram, porque alguém, digamos, percebeu o que fazemos aqui... rsrs

    primeiro, desde que começamos com o blog reconhecemos que existe uma quantidade grande de blogs evangélicos e que não queríamos, digamos, "concorrer" com eles. Isto não significava, como não significa até hoje, querermos ser "melhores" do que eles. Estamos plenamente cientes da nossa limitação e de que toda e qualquer força e sabedoria vêm de Deus. Somos apenas servos dEle, e isso por si só nos garante uma vida feliz (e eterna, o que é melhor ainda)

    Segundo, justamente por não encararmos a blogosfera como uma concorrência, mesmo que desejemos sempre que o blog seja mais lido e divulgado, não quisemos utilizar nenhum expediente marketeiro para promovê-lo, deixando que Deus trouxesse aqui aqueles que pudessem ser inspirados pelo blog a serem melhores cristãos, ou, no caso de quem não é cristão, que se sentisse animado, ainda que um pouquinho, a sê-lo um dia.

    Terceiro, isto não significa que critiquemos a maneira como outros blogs evangélicos desenvolvem o seu trabalho. Acreditamos que há espaço para todos e Deus dá inspiração a todos os que a Ele se achegam buscando orientação. Cada um tem uma vocação e nós respeitamos. A nossa é a do serviço aos irmãos e aos não-irmãos, da oração e, muitas vezes, do silêncio mesmo

    Quarto, tudo isso não aconteceu logo de cara, e aos poucos fomos encontrando o nosso caminho, que continuamos buscando aprimorar, sempre procurando SERVIR como maior objetivo nosso.

    Quinto, fazemos isso por amor. Amor a Deus em primeiro lugar, à igreja, aos irmãos, à humanidade, e queremos que mais pessoas cheguem ao conhecimento da Verdade em Cristo Jesus.

    (continua...)

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  7. Sexto, queremos que os leitores do blog pensem por si mesmos. Por isso procuramos variar bastante os assuntos, sem entretanto fugir muito do nosso objetivo central (talvez único), que é proclamar o evangelho. Não omitimos a nossa opinião forte (para alguns, radical) quando achamos necessário nos posicionarmos, mas procuramos fazer isso de maneira que ninguém se sinta excluído do debate, e que todos possam se manifestar se assim quiserem.

    Sétimo, temos obtido boas respostas ao longo desses anos. Poucas, na verdade, mas profundamente intensas e recompensadoras, como é a que você está nos dando agora. Isto nos enche o coração de alegria e de louvor a Deus, mesmo em textos que não têm, a princípio, nada a ver com o evangelho, como é o caso do texto sobre "instituto jurídico" (é só clicar na tag "instituto jurídico" no menu do lado direito), que tem uma circulação imensa entre estudantes de Direito, e muitos deles são, de alguma maneira, tocados por outros textos cristãos do blog.

    Oitavo, estamos em constante transformação. Procuramos ser metamorfoses ambulantes e não nos contentarmos com o que já conseguimos. Reconhecemos que é muito pouco perto do que poderíamos fazer, mas não queremos dar um passo além das pernas, nem fazer nada que Deus não nos tenha inspirado a fazê-lo.

    Nono, o site e-cristianismo é uma extensão do nosso trabalho, que exige muito tempo e dedicação, neste caso muito mais cuidado pelo Gustavo do que por mim, enquanto o blog está mais sob os meus cuidados do que do Gustavo, mas em tudo a gente conversa, debate e chega a um acordo.

    Décimo, não queremos ser maiores do que somos à força, ou seja, não queremos ficar forçando as pessoas a ler o blog. Talvez por isso mesmo ele tenha uma reputação respeitável no pequeno (mas não desprezível) público que atinge. As pessoas sabem que tentamos ser os mais naturais possível, como se elas tivessem a liberdade de conversar livre e francamente conosco num encontro casual qualquer, e acho que temos conseguido transmitir essa informalidade que nunca é sinônimo de irreverência desenfreada.

    Enfim, temos muito ainda que aprender.

    Obrigado pelo carinho mais uma vez.

    Graça e paz! Sempre!

    Abraço!

    ResponderExcluir

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