segunda-feira, 30 de junho de 2008

O evangelho de Lucas - parte 33

O capítulo 19 começa com a entrada de Jesus em Jericó. E é ali que Jesus encontra Zaqueu. Este não era apenas um publicano, mas era o chefe dos publicanos.

E como no capítulo 18 Jesus fala da dificuldade de um rico em entrar no reino dos céus, aqui a comparação é inevitável. O que chama mais atenção é comparar o que o rapaz do capítulo anterior devia fazer para herdar a vida eterna, e o que Zaqueu se propôs a fazer.

(Lc 18:22) Quando Jesus ouviu isso, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens e reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.

(Lc 19:8) Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, dou aos pobres metade dos meus bens; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo quadruplicado.


Por que para o jovem Jesus pede que doe tudo, e para Zaqueu aceita a doação da metade? Podemos fazer uma comparação entre as atitudes dos dois para tentar compreender isto.

O jovem se aproxima de Jesus, chamando-o precipitadamente de "Bom Mestre", como se já o conhecesse. Zaqueu, pelo contrário, procurou ver Cristo, talvez para ver se o que diziam sobre Ele é verdade. O jovem pergunta a Cristo o que ele tem que fazer para herdar a vida eterna, justificando-se por já observar as leis. Zaqueu se alegra apenas de poder receber Cristo, e não pergunta nada para se justificar, mas toma a iniciativa de compensar o mal que tinha feito.

Nos dois casos, podemos perceber que Zaqueu se arrependeu sinceramente, enquanto que o rapaz do capítulo anterior apenas queria se justificar. E como a Graça alcança a todos, neste dia um rico entrou para o reino dos Céus. A riqueza não se torna um empecilho para a salvação, quando se coloca o Senhor em primeiro lugar. Zaqueu fez isto.

Note como há o murmuro da população quando Jesus resolve se hospedar na casa de Zaqueu. Em todas as épocas houve grupos de pessoas que são marginalizados pela sociedade. O publicano era considerado um pecador, por cobrar os impostos, muitas vezes de forma injusta, como deixa claro a promessa de Zaqueu. Hoje não consideramos mais publicanos como pecadores. Mas muito tipo de coisa é considerado como pecado pela maioria das pessoas. Muitos pecados de hoje podem prejudicar e muito famílias honestas, como o publicano no passado poderia prejudicar famílias ao cobrar mais do que necessário. Não devemos considerá-los como pecadores eternos, mas devemos sempre lembrar que Deus pode perdoar a todos, desde que todos tenham um arrependimento sincero, e a vontade de se aproximar de Deus como Zaqueu teve, enfrentando todas as dificuldades possíveis.

E imitando Cristo, não demos ouvidos à multidão. Pois muitas vezes os grandes pecadores do ponto de vista das pessoas são ou serão grandes fiéis.

Na casa de Zaqueu ainda, Jesus percebendo que sua ida a Jerusalém despertou a atenção de judeus ansiosos pelo reino terrestre do Messias, Jesus conta uma parábola para corrigir sua noção errada. Provavelmente os ânimos dos judeus se exaltaram ao ouvir o homem que chamavam de Messias chamar Zaqueu de filho de Abraão, e estar de partida para Jerusalém. Para eles, o reino messiânico imediatamente se instalaria, e é esta noção de algo muito próximo que Jesus pretende corrigir com a parábola.

Nela, um jovem que vai tomar posse de um reino (assim como Cristo) vai se ausentar até conseguir tomar posse. Aqui vemos que o reino de Deus não era para ser imediato, como os judeus daquela época achavam. Ao ir, o príncipe dá a 10 servos a posse de minas, para que negociassem. Alguns não queriam que o homem reinasse sobre eles, o que pode ser comparado a alguns judeus da época.

Ao voltar o homem pede contas do que todos fizeram. Quem foi adiante e negociou com os bens do rei, recebeu suas recompensas, proporcionalmente ao valor que obtiveram. Estes são os discípulos de Cristo, que usando os bens deste mundo, fizeram frutos. O que guardou as minas representa aqueles discípulos que não fizeram nada para produzir bons frutos com os bens de Cristo, mesmo sabendo do caráter de seu Mestre. Estes não terão mais estes bens, de forma que serão dados àqueles que obtiveram muitos bens. Por fim, aqueles que não quiseram ser reinados pelo rei, serão mortos diante dele. Isto indica as consequências da rejeição de Cristo. O que a parábola indica?

Indica que Cristo de fato reinará, mas não imediatamente como os judeus acreditavam. Ele teria que se ausentar por um tempo. Enquanto isto, seus discípulos, aqueles que querem ser governados por Cristo, devem empregar os bens recebidos para dar frutos. Eles não podem estar ociosos. Cristo governará de uma forma ou de outra. Não adianta não querer ser governado por Ele. Por isto, os judeus que esperavam o reino messiânico, que não esperassem com isto obter alegrias. Primeiro, que eles deveriam estar agindo da forma que seu Senhor os ordenou. O dia que Ele obteria o reinado não é sabido. Estejamos todos vigilantes.

A caminho de Jerusalém, Jesus dá ordens a seus discípulos para que eles preparem sua entrada. Como os discípulos se referiram a Jesus como "o Senhor" para os donos do jumentinho, é possível que eles fossem discípulos de Cristo.

Todos comemoravam a chegada de Cristo, como um Rei chegando na capital de seu reino. E provavelmente por isto os fariseus pediram para que Cristo os repreendesse. A resposta de Cristo mostra que o evento era memorável, que não havia como ficar em silêncio. O Messias havia chegado para consumar seu plano, não da forma que os judeus esperavam. Ali, vendo Jerusalém, Jesus prevê sua futura destruição. Jesus atribui isto à seu estado de cegueira, não identificando quem poderia trazer a paz.

Em Jerusalém, Lucas nos relata que Jesus vai então ao templo, onde ele expulsa os vendedores. Não seria este um ótimo recado para os pastores de igrejas defensoras da teologia da prosperidade, que vendem seus produtos milagrosos na igreja? Ou aqueles que transformam o culto a Deus em um negócio, como se a igreja fosse uma empresa?

E depois disto Lucas termina o capítulo falando que Jesus ensinava todos os dias no templo. Por isto os fariseus e doutores da lei procuravam matá-lo, no entanto o respeito que o povo tinha por Cristo tornava isto muito difícil.

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