terça-feira, 10 de junho de 2008

Pequenos delírios ideológicos

No Forum Atos, estamos debatendo sobre essa circunstância atual, bem pós-moderna, de ateus defenderem uma ideologia de direita, contra todo o passado esquerdista do grupo. 

O Jeanioz rebateu dizendo que "os ateus nunca vão se unir sob uma mesma ideologia (seja de esquerda, de centro ou de direita). É um dos efeitos colaterais do pensamento-livre."

Respondi que não estou falando de união de ideologia, até porque "pensamento livre" não funciona só para ateu, mas para todo ser humano. 

Aliás, "pensamento livre" é mais um daqueles jargões que todo mundo fala e ninguém define, porque é indefinível por natureza. O dia em que o definirem, ele será escravizado.

O mundo das idéias e dos confrontos ideológicos, tais como os conhecemos hoje, é produto do século XIX, e, ao que parece, é um artigo em extinção. 

Ideologia é um conceito do século XIX, também, e esses conceitos de "direita" e "esquerda" também são frutos da Revolução Francesa, assim como o Terceiro Mundo, ou Terceiro Estado, abaixo da nobreza e do clero (os dois primeiros Estados pré-Revolução). 

Até então, e por muito tempo depois, a realeza sempre esteve ligada à Igreja, e o rompimento com a Igreja foi uma das conseqüências da Revolução Francesa. 

O ateísmo sempre existiu, mas ganhou força a partir de então, seja com o materialismo dialético de Marx-Engels, seja com as muitas tendências de esquerda que se formara. 

O próprio conceito (também vago) de humanismo sempre se identificou com as propostas de esquerda, proletárias, socialistas e anti-capitalistas. 

A Guerra Civil espanhola, da década de 1930, é um exemplo triste de como essas forças se confrontaram. De um lado, a direita religiosa capitaneada por Franco e a esquerda materialista espanhola, ajudada pelos voluntários esquerdistas do mundo todo. 

É claro que havia gatos pingados de todos os matizes envolvidos em ambos os lados, mas foi nesse contexto que surgiu a Opus Dei, de direita, contra os ateus comunistas. 

Este "alistamento compulsório" de religiosos na direita e de ateus na esquerda perdurou por quase todo o século XX, e hoje eu confesso que fico tremendamente surpreso ao ver como existem ateus defendendo posições que ficariam muito mais "adequadas" na boca da Opus Dei.

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