A imprensa brasileira está cada vez mais previsivel. Poder-se-ia dizer "cada vez mais tucana", mas já atingiram os píncaros da tucanagem faz muito tempo. A edição da Folha de S. Paulo de hoje traz como principal manchete a notícia "Governo quer mais imposto da mineração", e já adverte no subtítulo: "Ministro defende aumento da taxação sobre exploração; para mineradoras, isso afugentará investidores". Sob os holofotes, obviamente, está a Vale do Rio Doce, privatizada em circunstâncias controversas no governo FHC, e que hoje faz uma campanha institucional massiva na mídia para contrabalançar o enorme apoio popular à tese da sua reestatização. Nas páginas internas, a matéria de Valdo Cruz e Sheila D'Amorim (acesso para quem tem UOl aqui) traz argumentos que, a priori, justificam pelo menos uma análise favorável do projeto, como a opinião do deputado José Fernando Aparecido de Oliveira (PV-MG), que, segundo a Folha, "destaca que a Vale e a Petrobras têm atualmente uma lucratividade muito semelhante, só que a primeira 'paga muito menos tributos pela exploração das nossas riquezas do que a segunda'", ou ainda, a afirmação do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, de que "a tributação média no setor de mineração, exceto petróleo e gás, é de 14%. Já a Petrobras paga 65%. Essa situação não pode prosseguir. O país tem de participar dessa riqueza no setor mineral". Chama a atenção, portanto, que a Folha se apresse em destacar - na primeira página - que "isso afungentará investidores", a mesmíssima desculpa que os maiores órgãos de imprensa do Brasil usaram para apoiar incondicionalmente a dilapidação do patrimônio público nas privatizações de FHC, feitas a toque de caixa, e que custaram aos tucanos uma desconfiança popular que se revelou devastadora nas urnas nas duas últimas eleições presidenciais. A elite brasileira, capitaneanda pela Folha, vai dizer que o povão não entende nada de política ou economia, e só eles têm o direito de dizer o que é bom ou ruim para o país, mas a gente já viu esse filme antes, de uma empresa estatal vendida a preço de banana para enriquecer alguns felizes gatos pingados. Soa no mínimo estranho que a mídia brasileira ainda acredite que nós acreditamos neles. Considerando, entretanto, os polpudos anúncios que a Vale continua publicando nos jornais, a Folha podia seguir a Veja e usar uma só palavra para auto-definir-se: previsível...