Brian Eno é um produtor musical inglês de 61 anos que pouca gente conhece pelo nome, mas certamente já ouviu sons e grupos produzidos por ele, como o Talking Heads, o U2 e o Coldplay, entre outros. Só a experiência sonora variada das três bandas citadas mostra do que ele é capaz. A Folha de S. Paulo de hoje traz uma longa matéria sobre Brian Eno, que se declara ateu, mas faz comentários interessantes sobre sua origem católica e sobre o fato de cantar até hoje num coral de música gospel (a verdadeira música gospel americana, não a cacofonia da moda no Brasil). Destaco esses trechos:
Catolicismo
Se você cresce com uma religião forte como o catolicismo, certamente cultiva certo apego pela intensidade das ideias, quer a favor, quer contra elas.
Você jamais se esquece do processo mental por que passou. Isso se torna parte de seu quadro intelectual mais amplo.
Música na igreja
Se você refletir sobre a metade final dos anos 1950, quando tudo isso começou a acontecer para mim, a experiência de ouvir sons era muito diferente da atual. O estéreo não existia.
Se você ouvia música fora da igreja, exceto música ao vivo, o que era muito raro, os alto-falantes eram minúsculos. A experiência era agradável, mas muito pequena.
Assim, ir à igreja, um espaço especialmente projetado, repleto de ecos, encontrar um órgão, o órgão que meu avô construiu para a igreja que frequentávamos, e subitamente ouvir a música e o canto... Isso era uma experiência maravilhosa.
Era como ouvir o disco de alguém em um radinho de pilha e depois assistir a um show da mesma pessoa em um estádio de 60 mil lugares. Imenso, em termos comparativos.
Isso teve forte relação com meus sentimentos sobre som e espaço, um tema que se tornou muito importante para mim.
Como o espaço influencia o som, qual é a diferença entre ouvir alguma coisa nesta sala e depois na outra sala? Seria possível imaginar outras salas em que se pode ouvir música?
Isso também afetou a maneira como me sentia com relação à música como experiência comunitária, no sentido de que a música de que mais gosto, o canto em igreja, era realizada não por profissionais, mas sim por pessoas sem treinamento, apenas um grupo de pessoas comuns que eu via trabalhando durante o resto da semana na padaria ou entregando carvão.
Gospel
Faço parte de um coral gospel. Sabem que sou ateu, mas são muito tolerantes. Em última análise, a mensagem da música gospel é a de que tudo vai ficar bem.
Se você ouvir milhões de discos gospel -eu ouvi- e tentar destilar o que existe de comum a todos eles, é essa sensação de que podemos triunfar de alguma maneira.
Também envolve a perda do ego, dizendo que se pode vencer ou superar as coisas abrindo mão do individualismo e se tornar parte de algo melhor.
Ambas as mensagens são completamente universais e pouco se relacionam à religião ou a uma dada religião. Relacionam-se a atitudes humanas básicas, e você pode ter essa atitude, e portanto cantar gospel, mesmo que não seja religioso.
Chama a atenção, portanto, que alguém que se diz ateu tenha uma experiência tão forte – e aparentemente positiva – da vida na igreja, a ponto de chegar aos 61 anos de idade cantando num coral gospel. Digno de destaque, também, é o fato do coral gospel aceitar alguém ateu no seu grupo, mesmo que seja alguém famoso como o Brian Eno. Pelo menos bom gosto musical ele tem...
É tênue mesmo a linha que separa a crença da descrença, e isto vale para ambos os lados. Da mesma maneira que é possível um ateu cantar num coral gospel, não deixa de ser preocupante pensar que alguém que se diz cristão esteja cantando exaltações a Deus, mas no fundo nEle não crê. Temo que isto seja muito mais comum do que nossa santa ingenuidade possa imaginar.
Catolicismo
Se você cresce com uma religião forte como o catolicismo, certamente cultiva certo apego pela intensidade das ideias, quer a favor, quer contra elas.
Você jamais se esquece do processo mental por que passou. Isso se torna parte de seu quadro intelectual mais amplo.
Música na igreja
Se você refletir sobre a metade final dos anos 1950, quando tudo isso começou a acontecer para mim, a experiência de ouvir sons era muito diferente da atual. O estéreo não existia.
Se você ouvia música fora da igreja, exceto música ao vivo, o que era muito raro, os alto-falantes eram minúsculos. A experiência era agradável, mas muito pequena.
Assim, ir à igreja, um espaço especialmente projetado, repleto de ecos, encontrar um órgão, o órgão que meu avô construiu para a igreja que frequentávamos, e subitamente ouvir a música e o canto... Isso era uma experiência maravilhosa.
Era como ouvir o disco de alguém em um radinho de pilha e depois assistir a um show da mesma pessoa em um estádio de 60 mil lugares. Imenso, em termos comparativos.
Isso teve forte relação com meus sentimentos sobre som e espaço, um tema que se tornou muito importante para mim.
Como o espaço influencia o som, qual é a diferença entre ouvir alguma coisa nesta sala e depois na outra sala? Seria possível imaginar outras salas em que se pode ouvir música?
Isso também afetou a maneira como me sentia com relação à música como experiência comunitária, no sentido de que a música de que mais gosto, o canto em igreja, era realizada não por profissionais, mas sim por pessoas sem treinamento, apenas um grupo de pessoas comuns que eu via trabalhando durante o resto da semana na padaria ou entregando carvão.
Gospel
Faço parte de um coral gospel. Sabem que sou ateu, mas são muito tolerantes. Em última análise, a mensagem da música gospel é a de que tudo vai ficar bem.
Se você ouvir milhões de discos gospel -eu ouvi- e tentar destilar o que existe de comum a todos eles, é essa sensação de que podemos triunfar de alguma maneira.
Também envolve a perda do ego, dizendo que se pode vencer ou superar as coisas abrindo mão do individualismo e se tornar parte de algo melhor.
Ambas as mensagens são completamente universais e pouco se relacionam à religião ou a uma dada religião. Relacionam-se a atitudes humanas básicas, e você pode ter essa atitude, e portanto cantar gospel, mesmo que não seja religioso.
Chama a atenção, portanto, que alguém que se diz ateu tenha uma experiência tão forte – e aparentemente positiva – da vida na igreja, a ponto de chegar aos 61 anos de idade cantando num coral gospel. Digno de destaque, também, é o fato do coral gospel aceitar alguém ateu no seu grupo, mesmo que seja alguém famoso como o Brian Eno. Pelo menos bom gosto musical ele tem...
É tênue mesmo a linha que separa a crença da descrença, e isto vale para ambos os lados. Da mesma maneira que é possível um ateu cantar num coral gospel, não deixa de ser preocupante pensar que alguém que se diz cristão esteja cantando exaltações a Deus, mas no fundo nEle não crê. Temo que isto seja muito mais comum do que nossa santa ingenuidade possa imaginar.
Prezado irmão Hélio,
ResponderExcluirquanto ao ato de cantar em um coral de igreja, acredito que nada significa, pois, fica o cantar pelo cantar. Quando identificamos o ato de cantar em um coral gospel com adoração, que é muito mais do que cantar, aí tudo muda. Um ateu não consegue e não pode adorar sendo ateu. Pelo descrito por Brian este coral gospel não adora, somente canta valores universais. De qualquer maneira a sensação que ficou foi a de uma grande confusão. Suas observações finais são muito pertinentes.
Um abraço
Obrigado pelo comentário, Pr. Luiz Fernando,
ResponderExcluirConcordo com o irmão, me parece que este coral gospel está mais interessado na beleza da música e da mensagem do que propriamente na adoração. Por ser um fato inusitado, isto me chama a atenção para algo que é uma faca de dois gumes: a estética. De um lado, Deus é a perfeição absoluta e inatingível, e o grande inspirador da música que persegue esta mesma perfeição. Entretanto, o senso estético pode desviar a atenção para o ser humano, no sentido de que ele é o compositor e destinatário final de todo louvor. Aí é que mora o perigo.
Graça e paz!
kkk
ResponderExcluiresses pastores só querem dinheiro e dão uma de santo!