quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Veredas antigas



No seu livro “História do Movimento Missionário”, recentemente lançado pela Ed. Hagnos, Justo L. González e Carlos Cardoza Orlandi chamam a atenção para alguns aspectos que contribuíram para o crescimento da Igreja primitiva nos primeiros séculos, e que andam esquecidos pela Igreja atual. 

O primeiro é a importância das mulheres, que eram muito mais numerosas que os homens. 

Timóteo é o exemplo claro desta influência, através de sua avó Loide e sua mãe Eunice (2 Tim 1:5), mas o fato é que tudo indica que as mulheres viram na nascente igreja cristã uma maneira de escapar da promiscuidade e dos abusos sexuais que marcavam a ferro e fogo a sociedade machista da época. 

Além disso, as mulheres tinham (e continuam tendo) muito mais contatos sociais com maior capacidade de comunicarem a mensagem do evangelho. 

Assim, geralmente elas eram as primeiras a se converterem e logo traziam à igreja seus maridos e filhos.

O segundo aspecto é o cuidado que os primeiros crentes tinham um para com os outros, especialmente numa época de epidemias que dizimavam populações inteiras, como era o cenário dos primeiros séculos da era cristã. 

Enquanto os pagãos eram individualistas, abandonavam os doentes e procuravam fugir das cidades, os cristãos se ajuntavam e cuidavam dos seus enfermos, e logo passaram a cuidar inclusive dos pagãos carentes, dando início à longa tradição de caridade que marcou a história do cristianismo. 

Havia, portanto, uma taxa maior de sobrevivência (e permanência) entre os cristãos. 

Um terceiro ponto que favoreceu o crescimento cristão é o repúdio ao aborto e ao infanticídio, práticas comuns entre os pagãos, além da aversão às relações extraconjugais. 

Tudo isto combinado gerou uma taxa positiva de crescimento populacional dos cristãos, enquanto os demais experimentavam uma redução no seu número.

Esses dados da Igreja primitiva podem ser resumidos em um só verbo, hoje em desuso nas comunidades cristãs: servir

Os primeiros crentes colocavam em primeiro lugar o interesse do outro, o serviço ao próximo, a proteção da comunidade, sem exclusivismo. 

Foi esta característica que chamou a atenção dos pagãos e transformou o mundo.

Infelizmente, vivemos uma era em que muita gente dentro das igrejas procura apenas servir-se dela e da comunidade, para os seus próprios interesses egoístas. 

A seus líderes se aplica a advertência de Judas (vv. 12-16): são “pastores que se apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas, estrelas errantes, para as quais tem sido reservado para sempre o negrume das trevas, [...] a sua boca diz coisas muito arrogantes, adulando pessoas por causa do interesse”.

Voltemos, então, ao exemplo que nos deixaram nossos pais na fé.

Para ler o trecho do livro “História do Movimento Missionário” aqui comentado, visite o site e-cristianismo.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  2. Obrigado pela resposta, Geraldo!

    Apaguei o seu comentário porque ali estava o teu endereço de email, assim evitamos os spammers da internet.

    Fico feliz que você tenha conseguido o que desejava. Não sou um especialista em Bourdieu, mas se houver tempo no futuro (o que duvido!... rs), me parece que a abordagem jurídica que mais se aproxima (com evidentes dificuldades) da noção de "campo" de Bourdieu é a pragmática, cujo expoente maior no Brasil é Tercio Sampaio Ferraz Jr.:

    http://www.terciosampaioferrazjr.com.br/?q=/publicacoes-cientificas/28

    o Dr. Tercio teve como seu maior inspirador o alemão Theodor Viehweg, que tem uma obra clássica chamada "Tópica e Jurisprudência", já publicada no Brasil. Por "tópica" deve ser entendido o "senso comum", que se aproxima mais do conceito de "campo" do Bourdieu. São pequenas semelhanças que eu vejo e que podem eventualmente ser aprofundadas num trabalho futuro, se você assim o desejar.

    abraço!

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