Há alguns dias, estive discutindo com um católico sobre como alguns livros do Velho Testamento obtiveram o status de livros canônicos para os católicos. Esta é sempre uma discussão que rende muita conversa, e geralmente envolve muita pesquisa na história. No entanto, a pesquisa vale a pena, e podemos perceber os livros que os protestantes sempre consideraram canônicos também sempre foram aceitos por toda igreja como tal, enquanto que os chamados deuterocanônicos não foram assim reconhecidos.
Tudo isto devemos ao estudioso dos idiomas originais e tradutor da Vulgata latina, Jerônimo. Até o tempo em que Jerônimo elaborou sua tradução, a igreja latina dispunha de uma tradução feita a partir da Septuaginta, conhecida hoje como Vetus Latina. A Septuaginta naquela época era composta pelos livros canônicos mais alguns outros livros, entre eles os deuterocanônicos católicos. O escritor Cassiodoro faz uma lista dos livros que compunham esta tradução grega na época:
Assim, muitos dos antigos cristãos do ocidente estavam acostumados com estes livros, embora em algumas listas feitas por eles, dizia-se claramente que estes livros (os apócrifos) eram úteis apenas na edificação pessoal e não como base para formulação doutrinária. Jerônimo, conhecendo os idiomas originais, apontou que os livros apócrifos não eram de origem hebraica, mas grega. Para ele, as palavras de Deus lhes foram confiadas (Romanos 3:2). Assim, ele descartou todos os livros que não tinham origem hebraica como apócrifos, comentando em seu prefácio ao livro dos Reis:
À medida que sua tradução foi ficando popular, mais e mais os cristãos atestavam que estes livros eram apenas bons como leitura espiritual, mas não como base de doutrinas. Esta situação foi diferente apenas com relação a Agostinho, que cria piamente na inspiração da Septuaginta, embora ele mesmo tenha dito em outra parte que os livros apócrifos não poderiam ser considerados como base para doutrinas. Mesmo assim, nos concílios africanos que certamente tiveram sua influência, estes livros foram considerados canônicos.
Já na Idade Média, a tradução de Jerônimo já era bem conhecida e difundida. É nesta época que surge uma série de comentários bíblicos, usando esta tradução, que se tornaria a maior ferramenta de estudos teológicos: a Glossa Ordinaria. Ela reunia comentários de vários escritores cristãos primitivos, e com ela os teólogos antigos aprendiam sobre as Escrituras. Por este motivo, há vários teólogos que, ao elaborar suas listas de livros canônicos, enumeram exatamente os livros que Jerônimo considera canônicos.
É assim que chegamos à Reforma protestante. Lutero, ao negar o status canônico aos livros apócrifos, simplesmente está repetindo aquilo que era ensinado nos círculos acadêmicos. É digno de nota que estes livros são encontrados em sua tradução bíblica para o alemão, em uma seção dedicada aos apócrifos.
Diante disto, também é natural que os teólogos mais proeminentes do Concílio de Trento, demonstraram ser contrários à canonização dos livros apócrifos.
Minha discussão com este estudioso católico foi feita dentro da maior cordialidade, onde nós postamos os vários argumentos de forma respeitosa. Foi uma ótima discussão, e que fornece muitas referências ao assunto. Quem quiser acompanhar o debate mais profundamente, está convidado a acessar o link abaixo:
http://www.e-cristianismo.com.br/pt/atosforum/viewtopic.php?f=12&t=617
Tudo isto devemos ao estudioso dos idiomas originais e tradutor da Vulgata latina, Jerônimo. Até o tempo em que Jerônimo elaborou sua tradução, a igreja latina dispunha de uma tradução feita a partir da Septuaginta, conhecida hoje como Vetus Latina. A Septuaginta naquela época era composta pelos livros canônicos mais alguns outros livros, entre eles os deuterocanônicos católicos. O escritor Cassiodoro faz uma lista dos livros que compunham esta tradução grega na época:
Capítulo 14. A divisão da Escritura de acordo com a antiga tradução e de acordo com a Septuaginta. A Santa Escritura de acordo com a antiga tradução é dividida em dois Testamentos, que são o Velho e o Novo: em Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio; Josué; Juízes; Ruth; quatro livros dos Reis; dois livros de Crônicas; o Saltério; cinco livros de Salomão, que são Provérbios, Sabedoria, Eclesiástico, Eclesiastes, e Cantares, os Profetas, que são Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oseias, Amós, Miqueias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, que era também um anjo, Jó, Tobias, Ester, Judite, dois livros de Esdras, dois livros de Macabeus. Após esses, se seguem os quatro Evangelistas, que são Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos, as Cartas de Pedro aos gentios, de Judas, de Tiago às doze tribos, de João aos Partas, as cartas de Paulo, uma aos Romanos, duas aos Corítnios, uma aos Gálatas, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, uma aos Hebreus, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, o Apocalipse de João.
Fonte: Cassiodoro, De Institutione Divinarum Litterarum.
Assim, muitos dos antigos cristãos do ocidente estavam acostumados com estes livros, embora em algumas listas feitas por eles, dizia-se claramente que estes livros (os apócrifos) eram úteis apenas na edificação pessoal e não como base para formulação doutrinária. Jerônimo, conhecendo os idiomas originais, apontou que os livros apócrifos não eram de origem hebraica, mas grega. Para ele, as palavras de Deus lhes foram confiadas (Romanos 3:2). Assim, ele descartou todos os livros que não tinham origem hebraica como apócrifos, comentando em seu prefácio ao livro dos Reis:
Este prefácio às Escrituras podem servir como uma introdução "de capacete" a todos os livros que nós transformamos do Hebraico para o Latim, de forma que nós tenhamos a garantia de que o que não for encontrado em nossa lista deve ser colocado entre os escritos apócrifos. Sabedoria, então, que geralmente carrega o nome de Salomão, e o livro de Jesus, o filho de Siraque, e Judite, e Tobias e o Pastor não estão no cânon.
Fonte: http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf206.vii.iii.iv.html
À medida que sua tradução foi ficando popular, mais e mais os cristãos atestavam que estes livros eram apenas bons como leitura espiritual, mas não como base de doutrinas. Esta situação foi diferente apenas com relação a Agostinho, que cria piamente na inspiração da Septuaginta, embora ele mesmo tenha dito em outra parte que os livros apócrifos não poderiam ser considerados como base para doutrinas. Mesmo assim, nos concílios africanos que certamente tiveram sua influência, estes livros foram considerados canônicos.
Já na Idade Média, a tradução de Jerônimo já era bem conhecida e difundida. É nesta época que surge uma série de comentários bíblicos, usando esta tradução, que se tornaria a maior ferramenta de estudos teológicos: a Glossa Ordinaria. Ela reunia comentários de vários escritores cristãos primitivos, e com ela os teólogos antigos aprendiam sobre as Escrituras. Por este motivo, há vários teólogos que, ao elaborar suas listas de livros canônicos, enumeram exatamente os livros que Jerônimo considera canônicos.
É assim que chegamos à Reforma protestante. Lutero, ao negar o status canônico aos livros apócrifos, simplesmente está repetindo aquilo que era ensinado nos círculos acadêmicos. É digno de nota que estes livros são encontrados em sua tradução bíblica para o alemão, em uma seção dedicada aos apócrifos.
Diante disto, também é natural que os teólogos mais proeminentes do Concílio de Trento, demonstraram ser contrários à canonização dos livros apócrifos.
Minha discussão com este estudioso católico foi feita dentro da maior cordialidade, onde nós postamos os vários argumentos de forma respeitosa. Foi uma ótima discussão, e que fornece muitas referências ao assunto. Quem quiser acompanhar o debate mais profundamente, está convidado a acessar o link abaixo:
http://www.e-cristianismo.com.br/pt/atosforum/viewtopic.php?f=12&t=617