Notícia da Gazeta do Povo de Curitiba (PR):
Sem-tecnologia dão um jeitinho para sobreviver
Grupos religiosos que recusam modernidades contratam gente de fora para usar internet e inovam em adaptações
Helena Carnieri
Um fazendeiro da Pensilvânia é condenado a passar 90 dias na cadeia por se recusar a instalar um sistema de esgoto na “casinha” da escola que dirige. Em Israel, um grupo de rabinos proíbe seus seguidores de surfar na internet, mas desenvolve um buscador que respeita rígidas regras: não mostra qualquer conteúdo sensual e trava aos sábados. Grupos como os amish norte-americanos e os judeus ultraortodoxos são exemplos excêntricos de pessoas que rejeitam a tecnologia, mas dão um jeito de se beneficiar dela.
A recusa em adotar modernidades pelas comunidades amish, formadas por descendentes de suíços anabatistas do século 16, foi retratada no filme A Testemunha, com Harrison Ford (Peter Weir, 1985).
A professora de Ciências Humanas Ambientais da Universidade do Missouri Jana Hawley precisou se adaptar a essa realidade. Para a pesquisa de seu doutorado, ela passou um ano entre os amish da cidade de Jamesport, no estado do Missouri. “Fiz pão em um forno a lenha, lavei roupas em uma máquina movida a diesel, doces em um fogão a querosene e sidra em uma prensa manual” relata em artigo. Mas ela também se admirou com inovações do grupo, como lamparinas instaladas em lustres.
Em conversa com a Gazeta do Povo, Hawley contou que outro trabalho para o qual foi muito requisitada foi o de motorista: os amish da comunidade com a qual fez amizade não podem dirigir nem possuir carros, mas pegam carona de bom grado. “Fiz 55 mil milhas (88,4 mil quilômetros) naquele ano”, recorda.
A aceitação desta ou daquela inovação foi justamente o motivo das divisões entre o grupo original que migrou da Suíça para os EUA. Hoje os 300 mil membros de comunidades amish espalhados pelo campo norte-americano têm diferentes níveis de tolerância a carros, motores para trator e roupas moderninhas. Algumas comunidades se espalharam até o Canadá e o México.
“Em alguns quesitos, eles vivem como no século 18, mas em outros estão como em 1960”, disse Jana à reportagem. A lógica por trás da vida amish é estar separado do mundo, conforme interpretação do versículo bíblico que diz: “Não vos conformeis com este mundo” (Romanos, 12:2).
Motivação semelhante, mas que remonta ao Velho Testamento, têm grupos ultraortodoxos do judaísmo, que recusam diversos tipos de tecnologia. Restrições que foram contornadas via inovação. A internet “kosher” (termo que designa a alimentação preparada de acordo com os preceitos judaicos) é um exemplo, e serve para informar sobre produtos e serviços em Israel sem o “risco” de cair em páginas com pornografia ou violência. Buscar palavras como “televisão”, “rádio” ou “máquina” no site www.koogle.co.il, porém, é perda de tempo.
Os ortodoxos também criaram formas de usar a eletricidade no sábado, dia sagrado, sem ferir a lei judaica, e, por incrível que pareça, têm feito avançar as pesquisas de teste genético. Casais em que o homem e a mulher são portadores de genes ligados a alguma doença são desencorajados a ter filho.
Características comuns entre as comunidades amish e ultraortodoxa são a recusa em servir ao Exército e o emprego de mão de obra externa ao grupo para “manipular” tecnologias indesejadas. Também, o tino comercial. “Os amish andam em carroças bem simples, mas fazem modelos bem sofisticados para vender. É nelas que os turistas dão voltinhas no Central Park de Nova York”, conta Jana.
Sem-tecnologia dão um jeitinho para sobreviver
Grupos religiosos que recusam modernidades contratam gente de fora para usar internet e inovam em adaptações
Helena Carnieri
Um fazendeiro da Pensilvânia é condenado a passar 90 dias na cadeia por se recusar a instalar um sistema de esgoto na “casinha” da escola que dirige. Em Israel, um grupo de rabinos proíbe seus seguidores de surfar na internet, mas desenvolve um buscador que respeita rígidas regras: não mostra qualquer conteúdo sensual e trava aos sábados. Grupos como os amish norte-americanos e os judeus ultraortodoxos são exemplos excêntricos de pessoas que rejeitam a tecnologia, mas dão um jeito de se beneficiar dela.
A recusa em adotar modernidades pelas comunidades amish, formadas por descendentes de suíços anabatistas do século 16, foi retratada no filme A Testemunha, com Harrison Ford (Peter Weir, 1985).
A professora de Ciências Humanas Ambientais da Universidade do Missouri Jana Hawley precisou se adaptar a essa realidade. Para a pesquisa de seu doutorado, ela passou um ano entre os amish da cidade de Jamesport, no estado do Missouri. “Fiz pão em um forno a lenha, lavei roupas em uma máquina movida a diesel, doces em um fogão a querosene e sidra em uma prensa manual” relata em artigo. Mas ela também se admirou com inovações do grupo, como lamparinas instaladas em lustres.
Em conversa com a Gazeta do Povo, Hawley contou que outro trabalho para o qual foi muito requisitada foi o de motorista: os amish da comunidade com a qual fez amizade não podem dirigir nem possuir carros, mas pegam carona de bom grado. “Fiz 55 mil milhas (88,4 mil quilômetros) naquele ano”, recorda.
A aceitação desta ou daquela inovação foi justamente o motivo das divisões entre o grupo original que migrou da Suíça para os EUA. Hoje os 300 mil membros de comunidades amish espalhados pelo campo norte-americano têm diferentes níveis de tolerância a carros, motores para trator e roupas moderninhas. Algumas comunidades se espalharam até o Canadá e o México.
“Em alguns quesitos, eles vivem como no século 18, mas em outros estão como em 1960”, disse Jana à reportagem. A lógica por trás da vida amish é estar separado do mundo, conforme interpretação do versículo bíblico que diz: “Não vos conformeis com este mundo” (Romanos, 12:2).
Motivação semelhante, mas que remonta ao Velho Testamento, têm grupos ultraortodoxos do judaísmo, que recusam diversos tipos de tecnologia. Restrições que foram contornadas via inovação. A internet “kosher” (termo que designa a alimentação preparada de acordo com os preceitos judaicos) é um exemplo, e serve para informar sobre produtos e serviços em Israel sem o “risco” de cair em páginas com pornografia ou violência. Buscar palavras como “televisão”, “rádio” ou “máquina” no site www.koogle.co.il, porém, é perda de tempo.
Os ortodoxos também criaram formas de usar a eletricidade no sábado, dia sagrado, sem ferir a lei judaica, e, por incrível que pareça, têm feito avançar as pesquisas de teste genético. Casais em que o homem e a mulher são portadores de genes ligados a alguma doença são desencorajados a ter filho.
Características comuns entre as comunidades amish e ultraortodoxa são a recusa em servir ao Exército e o emprego de mão de obra externa ao grupo para “manipular” tecnologias indesejadas. Também, o tino comercial. “Os amish andam em carroças bem simples, mas fazem modelos bem sofisticados para vender. É nelas que os turistas dão voltinhas no Central Park de Nova York”, conta Jana.