segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Um ateu diante da morte

Coluna de Alvaro Pereira Junior na Folha de S. Paulo de hoje:


Um ateu diante da morte


VIVO ELOGIANDO o Christopher Hitchens. Agora ele vai morrer.

Hitchens, jornalista e ensaísta britânico, é o chamado espírito de porco. Ele pensa ao contrário do senso comum.

Chegou ao extremo de escrever um livro contra a Madre Teresa de Calcutá.

Para ele, a santa freirinha mantinha suas casas de caridade em condições precaríssimas por mero sadismo, já que recebia toneladas de doações em dinheiro e poderia perfeitamente montar hospitais de primeiríssima linha.

Mas eu ia dizendo: Hitchens vai morrer. Tem câncer de esôfago em estado avançado. A doença já se espalhou pelo corpo. Foi detectada tarde demais.

Ele está careca e muito magro, consequências da quimioterapia.

O fato de Hitchens ter escrito um livro chamado "God Is Not Great" ("Deus Não É Grande") e de ser ateu convicto não ajuda muito no que se chama de "consolo espiritual".

Vale muito a pena ver uma entrevista que ele deu há pouco para o repórter Anderson Cooper, na CNN.

Não se faz de vítima, muito pelo contrário. Enquanto o normal, diante de algo tão grave, é perguntar: "Por que eu?", Hitchens indaga: "Por que não eu?".

E explica: o pai morreu da mesma doença. O que não impediu Hitchens de não dar a mínima para a própria saúde, beber e fumar como um desesperado.

Quem acompanhou os passos dele na feira literária de Paraty, em 2006, se lembra de que ele era o último a sair das festanças, zureta e bêbado como um porco.

Agora, ele se confronta com o fim da vida.

Lamenta estar nesse estado tão cedo, aos 61 anos (o pai morreu aos 79). Gostaria, pelo menos, de ver os netos crescerem.


Veja a íntegra da entrevista de Christopher Hitchens a Anderson Cooper na página da CNN. Em inglês, obviamente.

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