terça-feira, 29 de março de 2011

Descobertos textos cristãos do primeiro século

A se confirmarem as notícias que chegam hoje do Oriente Médio, teremos uma verdadeira revolução na historiografia do início do Cristianismo, bem como novas e profundas evidências no debate a respeito da historicidade de Jesus. Um beduíno teria encontrado numa caverna da Jordânia mais de 70 "livros" que poderiam ser textos cristãos do primeiro século, escritos numa forma antiga do idioma hebraico, e - além disso - utilizando um código secreto. Segundo informa a matéria publicada pela BBC, eles seriam datados de aproximadamente 2.000 anos. Diz-se "livros" entre aspas porque cada um deles tem entre 5 e 15 folhas de chumbo (pequenas) ligadas por anéis do mesmo metal (já tem gente chamando-os de "iPad de Jesus"), o que dá uma conotação ainda mais espetacular ao achado, já que normalmente se esperaria que se tratassem de papiros, que dadas as dificuldades de conservação, teriam poucas chances de sobreviver aos elementos do ambiente.




Por isso mesmo, sabe-se que os textos mais antigos que recebemos do Novo Testamento, por exemplo, são datados do século II, e estão em condições sofríveis de conservação. Eles já seriam cópias dos pergaminhos originais, perdidos pelo desgaste do tempo e do manuseio constante. A descoberta atual teria acontecido entre 2005 e 2007, quando um beduíno israelense encontrou, por acaso, dois nichos em uma caverna no deserto remoto da Jordânia, cuja entrada havia sido desenterrada depois de uma enchente. Um dos nichos estava marcado com um menorah (o candelabro judeu). O governo jordaniano protestou contra o que chama de "contrabando de relíquias", mas o beduíno agora afirma que o tesouro arqueológico estaria na sua família há mais de 100 anos. O que está em jogo, segundo Ziad al-Saad, diretor do Departamento de Antiguidades da Jordânia, são textos provavelmente escritos por seguidores muito próximos de Cristo, tanto no tempo como no espaço, que poderiam revelar detalhes preciosíssimos sobre sua crucificação e ressurreição, algo que tornaria este novo achado muito mais importante do que os famosos manuscritos do Mar Morto, encontrados em 11 cavernas de Qumran entre 1947 e 1956.

Ainda segundo al-Saad, "talvez isso conduzirá a uma outra interpretação e verificação da autenticidade do material, mas a informação inicial é muito encorajadora, e parece que estamos olhando para uma descoberta muito importante e significativa, talvez a mais importante descoberta na história da arqueologia". David Elkington, um estudioso de arqueologia religiosa antiga que chefia a equipe britânica que investiga o fato, também diz que esta pode ser "a grande descoberta da história do cristianismo", acrescentando: "É de tirar o fôlego pensar que temos acesso a esses objetos que poderiam ter sido realizadas pelos santos nos primórdios da Igreja". Ele acredita que a maior evidência de uma origem cristã encontra-se nas imagens que decoram as capas dos livros e algumas das páginas das que já foram abertas.

Outro estudioso britânico, Philip Davies, professor emérito de Estudos do Antigo Testamento da Universidade de Sheffield, afirma que a evidência mais forte indicando uma origem cristã encontra-se num mapa que mostra a imagem da cidade santa de Jerusalém. São suas essas palavras: "Assim que eu vi isso, fiquei mudo. Isso me pareceu tão obviamente uma imagem cristã. Há uma cruz em primeiro plano, e por trás dele é o que tem de ser o túmulo [de Jesus], uma pequena construção com uma abertura, e por trás dela estão os muros da cidade. Também há muros retratados em outras páginas desses livros e eles certamente se referem a Jerusalém". E é a cruz que é a característica mais notável, na forma de um T maiúsculo, como as cruzes usadas pelos romanos para a crucificação. [observação: este é um detalhe que, se confirmado, derrubará definitivamente o dogma das Testemunhas de Jeová de que Jesus foi morto numa estaca e não numa cruz]

Acrescenta Davies ainda: ""[Outra] das evidências mais fortes que indicam uma origem cristã é que não se trata de pergaminhos, mas de livros. Os cristãos foram particularmente associados com a escrita em forma de livro ao invés de pergaminhos ou papiros [tipicamente judeus] e selar os livros, em especial, fazia parte da tradição secreta do cristianismo primitivo".

Estamos, portanto, diante de uma descoberta realmente sensacional, sobre a qual veremos e ouviremos muitas coisas nos próximos meses e anos. Entretanto, é sempre bom ter cautela, pois muitos achados já causaram furor na mídia e se revelaram fraudes, como as muitas vezes em que a arca de Noé teria sido encontrada. Em seu blog, o erudito Larry Hurtado, professor de Novo Testamento da Universidade de Edinburgh, na Escócia, recomenda muito cuidado na avaliação dos artefatos, e se diz hesitante justamente por causa da sua inusitada confecção mediante placas de metal. Recomenda um profundo exame público e isento dos "livros" para que seja estabelecida a sua autenticidade. Por outro lado, fica a pergunta: por que um eventual falsificador utilizaria este método tão estranho? Agora, se essas informações vindas também de fontes confiáveis se confirmarem, estaremos sim diante da maior descoberta arqueológica dos últimos tempos, senão de toda a história da humanidade. Aguardemos, então, com um misto de ansiedade e precaução, o desenrolar dos fatos.



Você pode ver mais fotos no site da BBC


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