sexta-feira, 25 de março de 2011

A igreja do pastor Roboão

Roboão herdou um grande reino, ainda cheio do esplendor conquistado por seu pai, Salomão, e seu avô, Davi. Era dele o trono sobre todo o Israel. O 12º capítulo do 1º livro dos Reis conta a sua coroação, e como o povo, liderado por Jeroboão, queria que o novo rei aliviasse a pesada carga de tributos e trabalhos forçados que seu pai lhes havia imposto. Roboão lhes pediu que voltassem em 3 dias para ouvir a sua resposta. Buscou conselho, inicialmente, com os anciãos que haviam servido a seu pai, e esses lhes disseram que deveria se tornar “servo do seu povo” e falar-lhes “boas palavras” (v. 7), o que não satisfez Roboão. Procurou, então, os jovens que haviam sido criados com ele, e esses lhe aconselharam a ser ainda muito mais duro do que fora seu pai com o povo (vv. 11-12), o que terminou sendo feito “asperamente” pelo novo rei (v. 13), resultando na divisão do reino em dois, Israel ao norte (sob o comando de Jeroboão) e Judá ao sul (o que restou a Roboão).

Ainda que a Bíblia relate que todas essas coisas aconteceram segundo o propósito de Deus (v. 15), é possível daí extrair lições para a igreja evangélica atual, que despreza tanto os conselhos dos antigos e vive à caça de inovações. É verdade que muitas dessas novidades nada têm de “jovens” e são heresias seculares, mas elas rotineiramente reaparecem com a roupagem e o frescor de coisa nova, como se todo o caminho trilhado pela Igreja cristã ao longo de dois milênios não mais tivesse qualquer valor. Nada mais satisfaz os novos líderes evangélicos. Mesmo aquilo que foi uma aparente novidade dez anos atrás não tem mais qualquer serventia nesta ânsia desenfreada de parecer jovem e antenado, talvez "diferente", como se o cristianismo tivesse começado no dia em que o profeta de ocasião “sentiu o desejo no coração” de fundar uma nova denominação. Os templos enchem e as mentes se esvaziam, numa rotatividade mórbida de membros que entram e que saem, sem que ninguém realmente consiga identificar o que foi que eles aprenderam (e principalmente creram – ou não) sobre Jesus. Isso, entretanto, não importa aos líderes, já que seu único compromisso é com sua vaidade e o culto ao seu próprio ego, imune a conselhos de qualquer época e espécie.

É neste aspecto que o conselho dos anciãos - que Roboão rejeitou – continua válido para os dias atuais. Precisamos de pastores que sejam, também, “servos do seu povo” e não que dele se sirvam. Quando os anciãos aconselharam Roboão a dizer “boas palavras” aos seus súditos, não estavam lhe pedindo que fosse demagogo ou hipócrita, mas que seguisse a gentileza, retidão, justiça e humildade, e que o rei não se esquecesse que a boa liderança inclui necessariamente o bom serviço, como o próprio Jesus se dispôs a fazer (Marcos 10:45). A autoridade do rei (e do líder cristão) não deriva, portanto, dos decretos egocêntricos ou do estilo áspero e inatingível de se impor, mas do respeito que ele tem por seu povo e pelo serviço que lhe devota. Infelizmente, hoje há muitos pastores que se preocupam mais com suas “determinações” e seus comandos imperativos do que simplesmente servir ao seu rebanho, com temor e tremor, o puro e imaculado evangelho da cruz de Cristo.

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