Nem só de Richard Dawkins vive a Inglaterra, que está em polvorosa nos últimos dias, em razão da disputa envolvendo um casal cristão pentecostal, os aposentados Owen e Eunice Johns (foto abaixo), e os tribunais locais, sobre o direito do casal servir como uma espécie de pais adotivos (ou substitutos) para crianças abandonadas. Segundo noticia o jornal britânico Daily Mail, eles vivem na cidade de Derby e desde 1992 já haviam cuidado de 15 crianças neste regime parecido com o de orfanato aqui no Brasil, só que com características de uma família substituta. Após alguns anos de interrupção, em 2007 eles se inscreveram novamente na Corte local para prestar este tipo de serviço, e quando da investigação da Assistência Social a que foram submetidos, foi levantada a questão de que, por serem cristãos que consideram a prática homossexual "imoral e contrária à Lei de Deus", não poderiam cuidar de crianças, já que sua atitude em relação à homossexualidade contraria o Ato de Igualdade sobre Orientação Sexual, em vigor desde 2007.
O casal entrou com uma ação na Justiça inglesa pedindo que lhes fosse garantido o direito de cuidar de crianças, e após uma batalha judicial que envolveu o Arcebispo de Canterbury (líder religioso da Igreja Anglicana) de um lado e movimentos homossexuais de outro, terminaram tendo negado o seu pleito. Durante o processo, a Comissão de Direitos Humanos e Igualdade chegou a dizer que as crianças que fossem eventualmente criadas pelo casal corriam o risco de serem "infectadas" pela sua visão moral cristã. O casal disse não ser homofóbico e não apoiar o casamento homossexual. Após o trâmite dos recursos, a Alta Corte de Londres, através dos juízes Munby e Beeston, sentenciou que não há discriminação contra o casal, e "as provisões legais de igualdade em relação a orientação sexual têm precedência" sobre a visão cristã dos recorrentes. O caso gerou profunda comoção no meio religioso britânico e Eunice Johns disse que "este é um dia triste para o cristianismo. Os juízes sugeriram que nossa visão pode prejudicar crianças. Nós não achamos que seja assim. Nós estamos preparados para amar e aceitar qualquer criança. Tudo o que nós não estamos querendo fazer é dizer a uma criança pequena que a prática da homossexualidade é uma coisa boa".
O resultado do processo gerou um conflito intenso na sociedade britânica durante os últimos dias, e num debate promovido pela BBC no último dia 3 (veja os vídeos abaixo), o historiador gay e ateu David Starkey diz ter profundas dúvidas sobre este caso, e lhe parece que os juízes estariam instaurando uma nova moralidade tão tirana e opressiva como a antiga, sendo também intolerante e sobretudo intrusiva nos assuntos internos da família. Citando ainda outro caso, o de proprietários cristãos de um pequeno hotel que foram multados em 3.600 libras por restringirem a oferta de cama de casal somente a pessoas legalmente casadas, Starkey conclui que a melhor solução seria não bani-los nem puni-los, mas fazê-los simplesmente colocar um aviso no hotel dizendo que são cristãos e é isso o que eles creem.
Essa questão certamente ainda renderá muitos debates na sociedade britânica, mas é uma situação que deverá ser enfrentada e resolvida sobretudo mediante o diálogo e o entendimento. Não se pode vencer a intolerância com intolerância, como disse o jornalista Liam Halligan, do Sunday Telegrah, no mesmo debate (segundo vídeo abaixo, a partir dos 6 minutos), após dizer que o casal Johns devia ser celebrado: "Eu sou um cara tolerante, mas algumas vezes se você - de forma absoluta - pressiona pessoas tolerantes, elas se tornam intolerantes porque você ultrapassou o ponto de não-retorno. E esta é uma situação em que a letra fria da lei, que foi pensada com boas intenções, terminou por explodir qualquer proporção de bom senso".
O casal entrou com uma ação na Justiça inglesa pedindo que lhes fosse garantido o direito de cuidar de crianças, e após uma batalha judicial que envolveu o Arcebispo de Canterbury (líder religioso da Igreja Anglicana) de um lado e movimentos homossexuais de outro, terminaram tendo negado o seu pleito. Durante o processo, a Comissão de Direitos Humanos e Igualdade chegou a dizer que as crianças que fossem eventualmente criadas pelo casal corriam o risco de serem "infectadas" pela sua visão moral cristã. O casal disse não ser homofóbico e não apoiar o casamento homossexual. Após o trâmite dos recursos, a Alta Corte de Londres, através dos juízes Munby e Beeston, sentenciou que não há discriminação contra o casal, e "as provisões legais de igualdade em relação a orientação sexual têm precedência" sobre a visão cristã dos recorrentes. O caso gerou profunda comoção no meio religioso britânico e Eunice Johns disse que "este é um dia triste para o cristianismo. Os juízes sugeriram que nossa visão pode prejudicar crianças. Nós não achamos que seja assim. Nós estamos preparados para amar e aceitar qualquer criança. Tudo o que nós não estamos querendo fazer é dizer a uma criança pequena que a prática da homossexualidade é uma coisa boa".
O resultado do processo gerou um conflito intenso na sociedade britânica durante os últimos dias, e num debate promovido pela BBC no último dia 3 (veja os vídeos abaixo), o historiador gay e ateu David Starkey diz ter profundas dúvidas sobre este caso, e lhe parece que os juízes estariam instaurando uma nova moralidade tão tirana e opressiva como a antiga, sendo também intolerante e sobretudo intrusiva nos assuntos internos da família. Citando ainda outro caso, o de proprietários cristãos de um pequeno hotel que foram multados em 3.600 libras por restringirem a oferta de cama de casal somente a pessoas legalmente casadas, Starkey conclui que a melhor solução seria não bani-los nem puni-los, mas fazê-los simplesmente colocar um aviso no hotel dizendo que são cristãos e é isso o que eles creem.
Essa questão certamente ainda renderá muitos debates na sociedade britânica, mas é uma situação que deverá ser enfrentada e resolvida sobretudo mediante o diálogo e o entendimento. Não se pode vencer a intolerância com intolerância, como disse o jornalista Liam Halligan, do Sunday Telegrah, no mesmo debate (segundo vídeo abaixo, a partir dos 6 minutos), após dizer que o casal Johns devia ser celebrado: "Eu sou um cara tolerante, mas algumas vezes se você - de forma absoluta - pressiona pessoas tolerantes, elas se tornam intolerantes porque você ultrapassou o ponto de não-retorno. E esta é uma situação em que a letra fria da lei, que foi pensada com boas intenções, terminou por explodir qualquer proporção de bom senso".