Este dia em que a torcida do Corinthians comemora efusivamente o seu primeiro título da Copa Libertadores da América, talvez seja um ótimo contraponto com uma tragédia futebolística ocorrida exatos trinta anos atrás.
É provável que as novas gerações nunca tenham ideia do que significou o dia 5 de julho de 1982 para quem gosta de futebol. Mesmo que o Brasil perca a final da Copa de 2014 para a Argentina no Maracanã, a seleção brasileira já não tem mais a mesma importância e o encanto que tinha naquela época. E o Maracanazo de 1950 foi uma experiência limitada aos ouvidos e às ondas do rádio.
A Copa do Mundo de 1982 se parece com um desses filmes que começam bem, promissor, mas têm um final trágico, que derruba qualquer um. A clássica foto acima é a que foi publicada na primeira página do Jornal da Tarde do dia seguinte à “Tragédia de Sarriá”.
O choro do garoto resumia o sentimento de uma nação, e de uma geração que ia passar as décadas seguintes tentando encontrar alguma razão para o Brasil ter perdido por 3x2 para a Itália. A seleção havia encantado ao mundo com o seu futebol. Comandados por Telê Santana, Zico, Sócrates e Falcão, entre outros, haviam atropelado todos os adversários na fase inicial (2x1 na URSS, 4x1 na Escócia, 4x0 na Nova Zelândia), além de ter atropelado a Argentina de Maradona (3x1) na primeira partida da segunda fase.
Parecia que os assim chamados “deuses do futebol” haviam conspirado para formar um time inesquecível, como de fato inesquecível ficou. Apenas se esqueceram de nos avisar que havia uma derrota no caminho, no Estádio Sarriá de Barcelona. Tudo indicava que o Brasil seria campeão, mas havia Paolo Rossi do outro lado. A Itália tinha se classificado a duras penas para a segunda fase, mas conseguiu vencer a Argentina e precisava vencer o Brasil para seguir adiante.
Diz a lenda que os italianos já levaram as malas prontas para o Sarriá. Tiveram que desfazê-las, já que Paolo Rossi, que não havia marcado nenhum gol até então, resolveu marcar três naquele dia, um deles numa falha clamorosa de Toninho Cerezo.
O mundo certamente não foi mais o mesmo depois de 5 de julho de 1982. Pelo menos para quem gosta de futebol, não. Uma sensação de perda se espalhou pelo Brasil e pelo mundo naquele fatídico dia: o futebol-arte acabava de morrer. Coroas de flores deviam ser destinadas ao Sarriá, e nem o estádio resistiu à maldição, tanto que foi demolido alguns anos depois.
O nó na garganta por aquela derrota dura até hoje. O próprio futebol passou a ser visto com outros olhos, utilitários, mais interessados no resultado do que na arte, na beleza, no prazer de jogar bola. Os fins justificam os meios.
Não que uma coisa anule a outra, afinal o futebol continua dando outro tipo de espetáculo, menos estético e mais bruto, como foi a merecida vitória do Corinthians sobre o Boca Juniors ontem à noite.
Entretanto, naquela tarde em Barcelona, no dia 5 de julho de 1982, perdemos muito mais que uma partida ou um título. Aquela geração nostálgica, fiel cada um ao seu time de infância, continuou gostando de futebol, mas virou viúva inconsolável de um estilo de jogo bonito que infelizmente não existe mais. Pelo menos por aqui. Talvez na Espanha, justamente em Barcelona... será?