domingo, 11 de setembro de 2011

Outro 11 de setembro que jamais pode ser esquecido



Sim, eu me lembro com pesar do dia 11 de setembro de 2001. Esse é um daqueles dias em que o mundo para e a gente se lembra exatamente do que estava fazendo quando soube do fato, como foi o dia em que Lee Oswald matou John F. Kennedy para a geração passada, ou o dia em que Ayrton Senna morreu (1º de maio de 1994) para quem já não é tão jovem assim. Curiosamente, o dia 22 de novembro de 1963 não marcou apenas a morte de JFK, mas também a de C. S. Lewis e de Aldous Huxley (autor de "Admirável Mundo Novo"), e este inusitado encontro dos três no além é imaginado por Peter Kreeft em seu livro "O Diálogo", editado no Brasil pela Mundo Cristão.

No dia 11 de setembro de 2001, o técnico da Telefônica estava em casa instalando o Speedy (o que por si só já era um mau presságio) quando, lá pelas 9 da manhã, ele conectou o seu laptop para ver se a conexão funcionava e lá estava a home page do UOL com a foto de uma cortina de fumaça em uma das Torres Gêmeas, com a chamada de que um avião havia se chocado ali, o que era - obviamente - muito estranho. Imediatamente liguei a televisão e apenas aguardei o desenrolar (trágico, infelizmente) dos acontecimentos. Liguei para o escritório e avisei que não ia trabalhar naquele dia. Afinal, o mundo que a gente conhecia estava acabando ali, como de fato acabou.

Entretanto, eu me lembro também de outro 11 de setembro, no longínquo ano de 1973, quando eu tinha 10 anos de idade. Estava à tarde em casa assistindo um filme ou uma série, não me lembro ao certo, na extinta TV Tupi, em preto e branco ainda, quando a transmissão foi interrompida para mostrar as imagens do Palácio de La Moneda, sede da Presidência do Chile em Santiago, sendo bombardeado por aviões do próprio Chile! Eu era um garoto ainda, mas sabia que aquilo não era normal. Vivíamos numa ditadura e eu já havia sido suficientemente doutrinado para aquilo que é a sua grande força e o que ela tem de pior: o medo. O seu combustível é o horror. Naquele dia, Salvador Allende, presidente democraticamente eleito do Chile, estava sendo derrubado por um golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet. Eu ainda sabia pouco da vida, mas tinha consciência de que vivíamos tempos difíceis na América Latina, e o roteiro era (e continua sendo) sempre o mesmo: a elite do país e os Estados Unidos, contrariados em seus interesses, com o apoio eufórico e empedernido da imprensa local, chamam seus cães de guarda para derrubar os governos civis que foram legitimamente colocados no poder, sempre alegando que se trata de um "golpe preventivo" diante da terrível ameaça do comunismo ou coisa que o valha. Milhares de inocentes são torturados e triturados no processo (estima-se entre 30 e 40 mil mortos as vítimas da ditadura chilena) e os grandes interesses econômicos ficam preservados. Como facilmente se percebe, qualquer semelhança com "ataques preventivos" a países petrolíferos do Oriente Médio não é mera coincidência...

Salvador Allende não se entregou, preferiu se matar a  ser humilhado e ver seu corpo exibido como troféu de guerra pela ditadura de Pinochet, que - com mão de ferro - durou até 1990, louvada pela sua política econômica copiada pelos seus "Chicago boys" do liberalismo da então premiê britânica Margaret Thachter, que deu ao Chile uma certa estabilidade econômica às custas de uma fratura social que continua expostas nas ruas do país. Duas décadas se passaram desde Pinochet, e quatro décadas depois de Allende, e o Chile segue sendo um país irremediavelmente dividido, e isto com uma população menor do que a da área metropolitana de São Paulo. Quando eu estive em Santiago em 1999, fiz questão de visitar o Palácio de La Moneda, onde algumas marcas de tiro continuam preservadas nas fachadas dos prédios da praça no seu entorno, e também o Estádio Nacional, que deveria ser motivo de grande alegria para os brasileiros (afinal, foi ali que o Brasil ganhou sua segunda Copa do Mundo de futebol), mas também foi lá que milhares de chilenos foram torturados e executados nas horas e nos dias seguintes ao 11 de setembro de 1973, inclusive o grande cantor e compositor Victor Jara, que, antes de ser assassinado, teve suas mãos esmagadas a coronhadas para que o terror militar não corresse o risco de ouvir de novo suas canções de protesto. Impossível não se emocionar e se indignar diante de tanta barbárie.

Por isso, abaixo estão três vídeos (o último de Victor Jara, cuja voz continua ecoando em nossos corações) com aquelas imagens que me marcaram profundamente quando eu tinha 10 anos de idade, para que as novas gerações sigam lembrando todo dia 11 de setembro como um dia mundial da infâmia, não só pelo que aconteceu 10 anos atrás, mas por toda a miséria humana que deve ser sempre exposta ao lamento e à execração pública, para que jamais seja repetida.








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