“Talvez haja mais compreensão e beleza na vida quando os raios ofuscantes do sol foram suavizados pelos contornos da sombra." (Virginia M. Axline)

domingo, 18 de setembro de 2011

Vaticano se defende acusando Tribunal Penal Internacional de aprovar partido pedófilo

Alguns dias atrás, foi divulgada a notícia - repercutida aqui no blog - de que uma entidade norteamericana de proteção às vítimas de pedofilia cometida por sacerdotes católicos formalizou uma denúncia do papa Bento XVI e da Cúria Romana junto ao Tribunal Penal Internacional, que funciona em Haia, na Holanda. Agora o Vaticano adotou a conhecida estratégia futebolística de que "a melhor defesa é o ataque", argumentando que o próprio Tribunal de Haia - em 2006 - se recusou a se pronunciar sobre a legalidade ou não de um partido pedófilo holandês, que foi extinto não pelas leis ou pelos tribunais, mas pela pressão da opinião pública. O problema é que a emenda encontrada pelo Vaticano pode sair pior que o soneto. Quando se desvia um assunto - que tem essa gravidade - de sua essência para tecnicalidades procedimentais, ainda que comparativamente, pode-se passar a ideia de não se quer discutir o seu fundamento central, ou seja, a dificuldade que a Igreja Católica tem de lidar com casos de pedofilia que envolvem o seu próprio clero. Até porque o referido partido pedófilo não existe mais, enquanto o Vaticano é uma instituição milenar que tem um nome a zelar. Todo acusado cuja primeira reação, para se defender, começa a se comparar com outro, ainda que por mera analogia, já está escolhendo a estratégia errada de defesa. Pano pra manga não vai faltar nunca, a não ser que Roma tome medidas muito mais drásticas e colabore - abundante e transparentemente - com as autoridades policiais e judiciárias de cada país. Confira a notícia da agência católica Zenit:

Di Noto: foi TPI quem “absolveu” partido pedófilo

Por que ninguém quis definir a pedofilia como crime contra a humanidade?


ROMA, sexta-feira, 16 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – É paradoxal a decisão de dirigir-se ao Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia para processar Bento XVI e os representantes da Cúria Romana por “crimes contra a humanidade”, sobretudo porque foi precisamente Haia que não aceitou o recurso contra o partido pedófilo holandês do Amor Fraterno, da Liberdade e da Diversidade. Quem afirma isso com indignação é Fortunato Di Noto, pioneiro na luta pela proteção da infância e fundador da Associazione Meter, da Itália (www.associazionemeter.org).

A associação, desde sua constituição em 2006, havia criado uma campanha contra esse partido, que se dissolveu quatro anos depois e que tinha entre seus objetivos a legalização da pornografia infantil e das relações sexuais entre adultos e crianças.

As palavras de Di Noto chegam poucos dias depois da decisão da Survivors Network of those Abused by Priests (SNAP), a maior associação de vítimas de pedofilia por parte de membros da Igreja Católica, de apresentar ao TPA a documentação que pretende demonstrar que o Vaticano haveria “tolerado e tornado possível o encobrimento sistemática e difundida de estupros e crimes sexuais contra crianças no mundo inteiro”.

“Jamais nos cansaremos – disse o fundador da associação – de estar do lado das vítimas; há 20 anos, nós as acolhemos, escutamos, acompanhamos em um percurso de ressurgimento. Não ficamos atrás tampouco no compromisso da prevenção, formação e informação sobre um dos fenômenos mais abjetos, trágicos e violentos, o da pedofilia, o abuso sexual a menores.”

“A gravidade é enorme, quando perpetrada por quem reveste um papel paternal, educativo e religioso. É exponencialmente mais devastador quando organizações criminais exploram crianças até produzir o inverossímil – esta foi a última denúncia realizada pela associação: centenas de crianças submetidas a práticas sadomasoquistas e bondage.”

Porém, “apesar da denúncia formal às autoridades da polícia, a comunicação à mídia – observou o sacerdote –, ninguém se indignou nem pensou em escrever a Haia para definir que estes são crimes contra a humanidade”.

“A pedofilia do clero, como a dos magistrados, dos advogados, dos médicos, dos professores, de um pai, mãe, avô, irmão, irmã, é um crime contra a humanidade: e, neste caso, é bom reafirmar que precisamente Haia havia considerado que a pedofilia, como liberdade de expressão, de reunião, inclusive de organização de um partido político, está nas bases de uma sociedade democrática.”

“Com esta motivação, o tribunal de Haia rejeitou o recurso de algumas associações (entre elas, a nossa), que pediam que o recém-fundado NPDV, o partido dos pedófilos, fosse expulso da sociedade holandesa.”

“O juiz Hofhuis, presidente da Corte, estabeleceu que o partido 'não cometeu um crime, mas apenas pede uma reforma constitucional'. Felizmente, o partido pedófilo holandês se dissolveu oficialmente pela pressão pública, e não certamente por Haia.”

“Paradoxos? Seria preciso analisar. Mas como se podem dirigir a Haia quando houve estas implicações dramáticas e ambíguas que 'favoreceram' a difusão da pedofilia e da pedopornografia?”, pergunta-se Di Noto.

“Nós estamos com o Papa Bento XVI pela coragem com que ele enfrentou o problema da pedofilia do clero – declarou –, mas estamos com ele também porque nunca faltou seu incentivo com relação àqueles que se ocupam da infância violada, abusada e vilipendiada.”

“É provável – reconheceu – que ainda não haja uma sensibilidade total e um envolvimento dos bispos e também dos sacerdotes e dos operadores pastorais sobre estes temas delicados, devastadores que ferem permanentemente as crianças e as famílias afetadas. Contudo, o Papa assumiu responsabilidades radicais, em nome de todos”, observou.

Por isso, o fundador da associação desejou “que outros carreguem a responsabilidade, talvez a partir dos escritórios dedicados a enfrentar estas questões, que não podem nem poderão ser enfrentadas superficialmente. Já se fez muito, mas é preciso fazer muito mais”. Por exemplo, “não se pensou em uma 'pastoral de proximidade' contra os abusos (não somente os sexuais), inserida no itinerário formativo a longo prazo, e não somente para uma emergência”.

“Não são suficientes os discursos acadêmicos ou científicos, mas 'operatividade' e ação para dar respostas concretas, não só diante da pedofilia no clero, mas diante de todos os abusos contra a infância.”

“Os atos de reconciliação e de paz são realizados quando 'justiça e misericórdia' se encontram. Chega de guerra; seremos todos vítimas e os únicos vencedores serão precisamente os pedófilos, os exploradores de crianças, que proliferam e aumentam constantemente, cometendo graves crimes contra a infância. É preciso refundar a reformar a sociedade inteira”, concluiu.

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