do Catecismo Maior de Martinho Lutero:
Primeiro Mandamento
NÃO TERÁS OUTROS DEUSES
NÃO TERÁS OUTROS DEUSES
Isto é: considerarás somente a mim como teu Deus. Que significa isso e como se deve entendê-lo? Que significa ter um Deus, ou, que é Deus? Resposta: Deus designa aquilo de que se deve esperar todo o bem e em que devemos refugiar-nos em toda apertura. Portanto, ter um Deus outra coisa não é senão confiar e crer nele de todo coração. Repetidas vezes já disse que apenas o confiar e crer de coração faz tanto Deus como ídolo. Se é verdadeira a fé e a confiança, verdadeiro também é o teu Deus. Inversamente, onde a confiança é falsa e errônea, aí também não está o Deus verdadeiro. Fé e Deus não se podem divorciar. Aquilo, pois, a que prendes o coração e te confias, isso, digo, é propriamente o teu Deus.
Por isso, o sentido desse mandamento é exigir fé genuína e confiança de coração, que vai certeiramente ao verdadeiro e único Deus e se apega exclusivamente a ele. Isso quer dizer tanto como: toma cuidado no sentido de, apenas, eu ser o teu Deus e de forma nenhuma procures outro. Isto é: o que te falta em matéria de coisas boas, espera-o de mim e procura junto a mim, e se sofres desdita e angústia, arrasta-te para junto de mim e apega-te comigo. EU, eu quero dar-te o suficiente e livrar-te de todo aperto. Tão-só não prendas a nenhum outro o coração, nem o deixes em outro descansar.
Devo explanar isso algo mais claramente, a fim de que se entenda e perceba a coisa à luz de exemplos cotidianos de comportamento oposto. Há muito quem pensa que tem Deus e o bastante de tudo quando possui dinheiro e bens. Tão inabalável e confiadamente deles se fia e jacta que ninguém lhe vale coisa nenhuma. Eis que tal homem também tem um deus, Mamon, de nome, isto é, dinheiro e bens, em que põe o coração todo. Esse, aliás, é o ídolo mais comum na terra. Quem possui dinheiro e bens sabe-se em segurança, e é alegre e destemido como se estivesse assentado no meio do paraíso. Por outro lado, quem nada possui, duvida e desespera, como se de nenhum Deus tivesse notícia. Pois a gente vai encontrar bem poucas pessoas que estejam de bom ânimo e não se lastimem nem se queixem quando não têm Mamon. Isto se gruda e adere à natureza até a sepultura.
Assim, também, aquele que se vangloria de grande erudição, inteligência, poder, apreço, parentela e honra, e nisso põe sua confiança: esse também tem um deus; não, porém, o Deus verdadeiro e único. Isso, por sua vez, o percebes, quando se torna aparente, quão presunçoso, seguro e orgulhoso se é em razão desses bens, e quão pusilânime quando inexistem ou deles se é privado. Repito, por isso, que a explicação correta desse ponto é: ter um Deus significa ter algo em que o coração confia inteiramente.
Considera, outrossim, o que praticamos e fizemos até agora na cegueira sob o papado. Se alguém estava com dor de dente, jejuava em honra de Santa Apolônia; se temia incêndio, fazia de São Lourenço seu padroeiro; se pestilência, fazia votos a São Sebastião ou São Roque, e número incontável de semelhantes abominações, cada qual escolhendo o seu santo, adorando-o e invocando-lhe a ajuda em aperturas. Para cá também pertence a atividade excessivamente grosseira daqueles que fazem pacto com o diabo, a fim de que lhes dê dinheiro a rodo, ou lhes ajude em amores, proteja-lhes o gado, recupere-lhes bens perdidos, como fazem, por exemplo, os magos e os bruxos. Pois todos esses põem seu coração e confiança em outra coisa que não no Deus verdadeiro. Nada de bom esperam dele, nem junto a ele o procuram.
Assim entenderás com facilidade o que e quanto esse mandamento requer, a saber, o coração todo do homem e a confiança inteira, exclusivamente para Deus e mais ninguém. Para ter Deus – fácil te será inferi-lo – não se pode pegar e contê-lo com os dedos, nem é possível metê-lo em bolsa ou encerrá-lo em cofre. Quando o coração o alcança e lhe adere, isto sim, chama-se apreendê-lo. Mas aderir-lhe com o coração outra coisa não é senão confiar inteiramente nele. Por isso quer desviar-nos de tudo o mais, fora dele, e atrair-nos para si, visto ser o único e eterno bem. É como se dissesse: O que anteriormente procuraste junto aos santos ou confiaste receber do Mamon ou de qualquer outra coisa, espera-o tudo de mim e considera-me como aquele que te quer ajudar e derramar copiosamente sobre ti tudo o que é bom.
Eis que aqui tens o que é a verdadeira honra e culto divino agradável a Deus e por ele ordenado sob pena de ira eterna, a saber, que o coração não conheça outro consolo e confiança senão a ele. E disso não se deixará arrebatar, mas, sim, há de, sobre isso, arriscar e pospor tudo quanto existe na terra. Fácil te será compreender e julgar, em contraste com isso, como o mundo pratica apenas falso culto a Deus e idolatria. Porque jamais um povo foi tão ímpio que não instituísse e observasse algum culto divino. Cada um erigiu em deus especial aquele de quem fiava coisas boas, ajuda e consolo.
Assim, por exemplo, aqueles gentios que punham sua confiança em poder e domínio erigiram o seu Júpiter em deus supremo; os outros, que aspiravam a riqueza, felicidade ou prazer e dias bons, a Hércules, Mercúrio, Vênus ou outros; as mulheres grávidas a Diana ou Lucina, e assim por diante. Cada qual erigia em deus para si aquilo a que o atraía o coração. De sorte que, realmente, também na opinião de todos os pagãos ter um deus quer dizer confiar e crer. O erro, porém, está em que seu confiar é falso e errado, porquanto não se dirige ao único Deus, além do qual, na verdade, não há Deus, nem no céu, nem na terra. Por isso, os gentios, efetivamente, transformam sua própria fantasia e sonho a respeito de Deus em ídolo e fiam no puro nada. É o que se dá com toda a idolatria. Pois ela não consiste apenas em erigir uma imagem e adorá-la, mas, principalmente, num coração que pasma a vista em outras coisas e busca auxílio e consolo junto às criaturas, santos ou diabos, e não faz caso de Deus, nem espera dele este tanto de bem: que ele queria ajudar. Também não crê que procede de Deus o que de bem lhe sucede.
Existe, além disso, outro culto falso. Trata-se da maior idolatria que até agora praticamos, e ela ainda impera no mundo. Nela, também se fundamentam todas as ordens religiosas. Diz respeito apenas à consciência, quando essa procura ajuda, consolo e salvação em suas próprias obras e presume de forçar a Deus a lhe abrir as portas do céu, e calcula quantas doações fez, o número de vezes que jejuou, rezou missa, etc. Nessas coisas põe sua confiança e delas se abona, como se nada quisesse receber gratuitamente de Deus, mas obtê-lo por esforço próprio ou merecê-lo de modo supererrogatório [supérfluo], exatamente como se Deus estivesse de estar a nosso serviço e ser nosso devedor, nós, porém, os seus senhores feudais. Que é isso senão fazer de Deus um ídolo, sim um deus-maçã, e a si mesmo reputar-se Deus e em tal se erigir? Mas isso aí é um tanto erudito demais, impróprio para alunos de pouca idade.
Todavia, a fim de notarem e reterem bem o sentido desse mandamento, diga-se aos simples este tanto: deve confiar-se exclusivamente em Deus e dele prometer-se e esperar apenas coisas boas. Pois é ele quem nos dá corpo, vida, comida, bebida, nutrição, saúde, proteção, paz e todo o necessário em bens temporais e eternos. Além do que nos preserva de infortúnios e, quando algo nos sobrevém, ele nos salva e liberta. De forma que só Deus – conforme bastantemente se disse – é aquele de quem se recebe todo o bem e por quem se é livrado de todo infortúnio. A meu ver, essa também é a razão por que nós, alemães, desde tempos antigos, designamos a Deus precisamente com esse nome – mais fina e apropriadamente que qualquer outra língia – da palavra “gut”, por ser ele fonte eterna que transborda de pura bondade e do qual mana tudo o que é e se chama “bom”.
Pois, ainda que, de resto, muita coisa boa nos venha de homens, todavia, é receber de Deus tudo quanto se recebe por seu mandado e ordem. Nossos pais e todas as autoridades e, a mais disso, cada um relativamente ao seu próximo têm ordem de nos fazerem toda sorte de bem. De maneira que não o recebemos deles, senão de Deus, por intermédio deles. As criaturas são apenas a mão, o canal e o meio através de que Deus tudo concede, assim como dá seios e leite à mãe para dá-los à criança e dá grãos e toda espécie de frutos da terra para alimentação. Criatura nenhuma pode produzir, por si mesma, um só que seja desses bens. Homem algum se atreva, por isso, a tomar ou a dar algo, a menos que Deus o haja ordenado, a fim de reconhecermos que são dádivas de Deus e que também não se rejeitarão esses meios de receber bens através das criaturas, nem se procurarão, presunçosamente, maneiras e caminhos diversos dos que Deus ordenou. Isso não seria receber Deus, senão procurar de si mesmo.
Atente, pois, cada qual em si mesmo, para que esse preceito seja magnificado e exaltado acima de todas as coisas e não seja levado de galhofa. Inquire e esquadrinha o teu próprio coração miudamente. Descobrirás, então, se se apega ou não com Deus apenas. Se tens um coração que é capaz de esperar somente coisas boas de Deus, especialmente em aflições e penúria, e que, a mais disso, sabe renunciar e abandonar tudo o que não é Deus, então tens o único e verdadeiro Deus. Se, inversamente, o coração se apega em outra coisa, de que se promete, a título de consolo, mais bem e socorro que de Deus, e se, ao se encontrar situação desesperadora, foge dele em vez de para ele refugir, então tens um outro deus, um ídolo.
A fim de que se advirta, por conseguinte, que Deus não quer ver isso tratado de resto, porém, seriamente, quer velar no seu cumprimento, juntou ao preceito, primeiro, uma terrível ameaça, em seguida, uma bela e confortadora promessa, que também se devem inculcar bem e, nelas, martelar junto à mocidade, para que as tome a peito e as lembre.
Por isso, o sentido desse mandamento é exigir fé genuína e confiança de coração, que vai certeiramente ao verdadeiro e único Deus e se apega exclusivamente a ele. Isso quer dizer tanto como: toma cuidado no sentido de, apenas, eu ser o teu Deus e de forma nenhuma procures outro. Isto é: o que te falta em matéria de coisas boas, espera-o de mim e procura junto a mim, e se sofres desdita e angústia, arrasta-te para junto de mim e apega-te comigo. EU, eu quero dar-te o suficiente e livrar-te de todo aperto. Tão-só não prendas a nenhum outro o coração, nem o deixes em outro descansar.
Devo explanar isso algo mais claramente, a fim de que se entenda e perceba a coisa à luz de exemplos cotidianos de comportamento oposto. Há muito quem pensa que tem Deus e o bastante de tudo quando possui dinheiro e bens. Tão inabalável e confiadamente deles se fia e jacta que ninguém lhe vale coisa nenhuma. Eis que tal homem também tem um deus, Mamon, de nome, isto é, dinheiro e bens, em que põe o coração todo. Esse, aliás, é o ídolo mais comum na terra. Quem possui dinheiro e bens sabe-se em segurança, e é alegre e destemido como se estivesse assentado no meio do paraíso. Por outro lado, quem nada possui, duvida e desespera, como se de nenhum Deus tivesse notícia. Pois a gente vai encontrar bem poucas pessoas que estejam de bom ânimo e não se lastimem nem se queixem quando não têm Mamon. Isto se gruda e adere à natureza até a sepultura.
Assim, também, aquele que se vangloria de grande erudição, inteligência, poder, apreço, parentela e honra, e nisso põe sua confiança: esse também tem um deus; não, porém, o Deus verdadeiro e único. Isso, por sua vez, o percebes, quando se torna aparente, quão presunçoso, seguro e orgulhoso se é em razão desses bens, e quão pusilânime quando inexistem ou deles se é privado. Repito, por isso, que a explicação correta desse ponto é: ter um Deus significa ter algo em que o coração confia inteiramente.
Considera, outrossim, o que praticamos e fizemos até agora na cegueira sob o papado. Se alguém estava com dor de dente, jejuava em honra de Santa Apolônia; se temia incêndio, fazia de São Lourenço seu padroeiro; se pestilência, fazia votos a São Sebastião ou São Roque, e número incontável de semelhantes abominações, cada qual escolhendo o seu santo, adorando-o e invocando-lhe a ajuda em aperturas. Para cá também pertence a atividade excessivamente grosseira daqueles que fazem pacto com o diabo, a fim de que lhes dê dinheiro a rodo, ou lhes ajude em amores, proteja-lhes o gado, recupere-lhes bens perdidos, como fazem, por exemplo, os magos e os bruxos. Pois todos esses põem seu coração e confiança em outra coisa que não no Deus verdadeiro. Nada de bom esperam dele, nem junto a ele o procuram.
Assim entenderás com facilidade o que e quanto esse mandamento requer, a saber, o coração todo do homem e a confiança inteira, exclusivamente para Deus e mais ninguém. Para ter Deus – fácil te será inferi-lo – não se pode pegar e contê-lo com os dedos, nem é possível metê-lo em bolsa ou encerrá-lo em cofre. Quando o coração o alcança e lhe adere, isto sim, chama-se apreendê-lo. Mas aderir-lhe com o coração outra coisa não é senão confiar inteiramente nele. Por isso quer desviar-nos de tudo o mais, fora dele, e atrair-nos para si, visto ser o único e eterno bem. É como se dissesse: O que anteriormente procuraste junto aos santos ou confiaste receber do Mamon ou de qualquer outra coisa, espera-o tudo de mim e considera-me como aquele que te quer ajudar e derramar copiosamente sobre ti tudo o que é bom.
Eis que aqui tens o que é a verdadeira honra e culto divino agradável a Deus e por ele ordenado sob pena de ira eterna, a saber, que o coração não conheça outro consolo e confiança senão a ele. E disso não se deixará arrebatar, mas, sim, há de, sobre isso, arriscar e pospor tudo quanto existe na terra. Fácil te será compreender e julgar, em contraste com isso, como o mundo pratica apenas falso culto a Deus e idolatria. Porque jamais um povo foi tão ímpio que não instituísse e observasse algum culto divino. Cada um erigiu em deus especial aquele de quem fiava coisas boas, ajuda e consolo.
Assim, por exemplo, aqueles gentios que punham sua confiança em poder e domínio erigiram o seu Júpiter em deus supremo; os outros, que aspiravam a riqueza, felicidade ou prazer e dias bons, a Hércules, Mercúrio, Vênus ou outros; as mulheres grávidas a Diana ou Lucina, e assim por diante. Cada qual erigia em deus para si aquilo a que o atraía o coração. De sorte que, realmente, também na opinião de todos os pagãos ter um deus quer dizer confiar e crer. O erro, porém, está em que seu confiar é falso e errado, porquanto não se dirige ao único Deus, além do qual, na verdade, não há Deus, nem no céu, nem na terra. Por isso, os gentios, efetivamente, transformam sua própria fantasia e sonho a respeito de Deus em ídolo e fiam no puro nada. É o que se dá com toda a idolatria. Pois ela não consiste apenas em erigir uma imagem e adorá-la, mas, principalmente, num coração que pasma a vista em outras coisas e busca auxílio e consolo junto às criaturas, santos ou diabos, e não faz caso de Deus, nem espera dele este tanto de bem: que ele queria ajudar. Também não crê que procede de Deus o que de bem lhe sucede.
Existe, além disso, outro culto falso. Trata-se da maior idolatria que até agora praticamos, e ela ainda impera no mundo. Nela, também se fundamentam todas as ordens religiosas. Diz respeito apenas à consciência, quando essa procura ajuda, consolo e salvação em suas próprias obras e presume de forçar a Deus a lhe abrir as portas do céu, e calcula quantas doações fez, o número de vezes que jejuou, rezou missa, etc. Nessas coisas põe sua confiança e delas se abona, como se nada quisesse receber gratuitamente de Deus, mas obtê-lo por esforço próprio ou merecê-lo de modo supererrogatório [supérfluo], exatamente como se Deus estivesse de estar a nosso serviço e ser nosso devedor, nós, porém, os seus senhores feudais. Que é isso senão fazer de Deus um ídolo, sim um deus-maçã, e a si mesmo reputar-se Deus e em tal se erigir? Mas isso aí é um tanto erudito demais, impróprio para alunos de pouca idade.
Todavia, a fim de notarem e reterem bem o sentido desse mandamento, diga-se aos simples este tanto: deve confiar-se exclusivamente em Deus e dele prometer-se e esperar apenas coisas boas. Pois é ele quem nos dá corpo, vida, comida, bebida, nutrição, saúde, proteção, paz e todo o necessário em bens temporais e eternos. Além do que nos preserva de infortúnios e, quando algo nos sobrevém, ele nos salva e liberta. De forma que só Deus – conforme bastantemente se disse – é aquele de quem se recebe todo o bem e por quem se é livrado de todo infortúnio. A meu ver, essa também é a razão por que nós, alemães, desde tempos antigos, designamos a Deus precisamente com esse nome – mais fina e apropriadamente que qualquer outra língia – da palavra “gut”, por ser ele fonte eterna que transborda de pura bondade e do qual mana tudo o que é e se chama “bom”.
Pois, ainda que, de resto, muita coisa boa nos venha de homens, todavia, é receber de Deus tudo quanto se recebe por seu mandado e ordem. Nossos pais e todas as autoridades e, a mais disso, cada um relativamente ao seu próximo têm ordem de nos fazerem toda sorte de bem. De maneira que não o recebemos deles, senão de Deus, por intermédio deles. As criaturas são apenas a mão, o canal e o meio através de que Deus tudo concede, assim como dá seios e leite à mãe para dá-los à criança e dá grãos e toda espécie de frutos da terra para alimentação. Criatura nenhuma pode produzir, por si mesma, um só que seja desses bens. Homem algum se atreva, por isso, a tomar ou a dar algo, a menos que Deus o haja ordenado, a fim de reconhecermos que são dádivas de Deus e que também não se rejeitarão esses meios de receber bens através das criaturas, nem se procurarão, presunçosamente, maneiras e caminhos diversos dos que Deus ordenou. Isso não seria receber Deus, senão procurar de si mesmo.
Atente, pois, cada qual em si mesmo, para que esse preceito seja magnificado e exaltado acima de todas as coisas e não seja levado de galhofa. Inquire e esquadrinha o teu próprio coração miudamente. Descobrirás, então, se se apega ou não com Deus apenas. Se tens um coração que é capaz de esperar somente coisas boas de Deus, especialmente em aflições e penúria, e que, a mais disso, sabe renunciar e abandonar tudo o que não é Deus, então tens o único e verdadeiro Deus. Se, inversamente, o coração se apega em outra coisa, de que se promete, a título de consolo, mais bem e socorro que de Deus, e se, ao se encontrar situação desesperadora, foge dele em vez de para ele refugir, então tens um outro deus, um ídolo.
A fim de que se advirta, por conseguinte, que Deus não quer ver isso tratado de resto, porém, seriamente, quer velar no seu cumprimento, juntou ao preceito, primeiro, uma terrível ameaça, em seguida, uma bela e confortadora promessa, que também se devem inculcar bem e, nelas, martelar junto à mocidade, para que as tome a peito e as lembre.
(Catecismo Maior de Martinho Lutero, in “Livro de Concórdia – As Confissões da Igreja Evangélica Luterana”, Editoras Concórdia/Sinodal/Ulbra, 6ª ed., 2006, pp. 394-399)